Desde as teorias frenológicas até as sofisticadas tecnologias de imagem cerebral, a compreensão da neuroplasticidade na lesão encefálica percorreu um caminho impressionante.

Artigo da responsabilidade do Dr. Alexandre Bogalho. Psicólogo Clínico. Neuropsicólogo de um Centro de Medicina de Reabilitação de Adultos

 

A história da compreensão da organização cerebral é uma jornada fascinante, marcada por descobertas que moldaram a neurociência. Desde os primórdios da frenologia, proposta por Franz Joseph Gall em 1796, até as tecnologias avançadas de imagem cerebral como a ressonância magnética (MRI) na contemporaneidade, testemunhamos um progresso notável na compreensão da neuroplasticidade após lesões cerebrais.

CONECTIVIDADE CEREBRAL APÓS AVC

A conectividade cerebral após um AVC revela-se como uma peça essencial na compreensão dos mecanismos subjacentes à neuroplasticidade. Modelos de conectividade funcional, tanto intrínsecos quanto eficazes, oferecem insights valiosos sobre as alterações nas interações neurais pós-lesão. A conectividade funcional em repouso, por exemplo, mostra padrões distintos de mudanças, incluindo a redução da eficiência global mesmo em pacientes clinicamente recuperados.

A interrupção na conectividade inter-hemisférica entre áreas motoras corticais é particularmente notável, correlacionando-se com a gravidade das deficiências motoras. Lesões focais em regiões centrais do cérebro resultam em distúrbios mais abrangentes nas interações cortico-corticais, enquanto a reorganização neural após um AVC parece favorecer uma estrutura de rede não otimizada para a troca eficiente de informações.

A conectividade eficaz, analisando influências causais, destaca duas descobertas principais. Em primeiro lugar, a diminuição das influências promotoras de áreas frontoparietais, especialmente do córtex pré-motor, sobre a atividade do córtex motor primário no hemisfério afetado. Em segundo lugar, perturbações na conectividade inter-hemisférica entre os córtices motores primários, dependendo do tempo desde o AVC e da gravidade da deficiência motora.

ESPERANÇAS RENOVADAS

A reabilitação pós-AVC é uma jornada complexa que envolve quatro fases distintas: lise celular e inflamação, diasquises, expansão e focalização. A compreensão dessas fases é crucial para desenvolver estratégias terapêuticas eficazes e promover uma recuperação ideal.

No contexto global, o cérebro humano, composto por 86 bilhões de neurónios e incríveis 100 “trilhões” de sinapses, revela-se um universo em si mesmo. Essa complexidade destaca a incrível capacidade do cérebro para se adaptar e reorganizar, oferecendo uma luz brilhante sobre o potencial da neuroplasticidade na recuperação após lesões cerebrais.

À medida que desvendamos os segredos do cérebro em constante adaptação, surgem oportunidades sem precedentes para transformar a trajetória da recuperação pós-lesão, oferecendo esperanças e perspetivas renovadas para aqueles que enfrentam desafios neurológicos.

Leia o artigo completo na edição de fevereiro 2024 (nº 346)