A vacinação é a melhor forma de limitar o impacto das infeções na saúde humana. A recente vacina contra o herpes zoster é um bom exemplo da elevada eficácia na prevenção da doença.

 

Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Luís Sousa Inês

Médico especialista em Reumatologia. Professor Assistente convidado de Reumatologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade da Beira Interior.

 

 

 

 As vacinas são um tipo de intervenção em saúde fundamental para a saúde individual e das populações.

Ao longo da história da Humanidade, as infeções sempre foram – e continuam a ser – uma das principais causas de doenças agudas e crónicas com maior risco de mortalidade. Além disso, as infeções causam muito frequentemente morbilidade aguda e crónica, que provocam incapacidade para o trabalho, redução da qualidade de vida e sequelas que podem ser irreversíveis, seja nos pulmões, rins, articulações e/ou nervos.

Os agentes microbianos causadores de infeções potencialmente perigosas em humanos incluem uma grande diversidade de bactérias, vírus, fungos e parasitas. Os antibióticos permitem tratar e curar a grande maioria das infeções por bactérias; contudo, são ineficazes contra as infeções causadas por vírus.

Existem muito menos medicamentos contra as infeções virais (antivirais) e a sua eficácia é limitada. Em muitos casos, os antivirais não permitem eliminar os vírus e assim curar a doença, mas apenas reduzem a sua gravidade, conduzindo a infeção crónica, como é o caso do HIV. Os vírus são atualmente os agentes que mais frequentemente causam surtos e epidemias, como é presentemente o caso da pandemia da covid-19.

VACINA: A INTERVENÇÃO MAIS NATURAL E SEGURA

A prevenção, através da vacinação, é a melhor forma de limitar o impacto das infeções na saúde humana. O sistema imunitário protege-nos contra infeções, ao destruir os agentes microbianos causadores de doença, quando estes penetram no corpo humano.

É fundamental compreender que, para que o sistema imunitário atue, é necessário que a pessoa tenha um primeiro contacto com a respetiva espécie de micróbio, o que permite a “educação” do sistema imunitário para adquirir defesas contra esse micróbio.

Assim, no primeiro contacto, cada pessoa está vulnerável à infeção, com os respetivos riscos de doença e as suas consequências. Mesmo assim, esta imunidade adquirida naturalmente pode ser imperfeita, porque se torna mais fraca ao longo do tempo ou porque permite que os micróbios permaneçam vivos cronicamente no interior do corpo.

Neste contexto, as vacinas permitem “educar” o sistema imunitário, ao introduzir no corpo elementos dos micróbios, geralmente incapazes de causar doença, mas que induzem a aquisição de defesas imunitárias que previnem a infeção, quando o indivíduo entra posteriormente em contacto com esses micróbios.

Como as vacinas estimulam as defesas imunitárias normais para prevenir infeções, são uma intervenção mais natural e segura do que o tratamento através de medicamentos químicos artificiais (antibióticos, antivirais), administrados quando a infeção já está em curso.

ADULTOS PRECISAM MANTER AS VACINAS EM DIA

As vacinas do Plano Nacional de Vacinação, administradas na sua maioria durante a infância e adolescência, são cruciais para a saúde infantil e ao longo da vida, para toda a população saudável.

Além destas vacinas em idade pediátrica, os adultos precisam manter as suas vacinas em dia, porque a imunidade das vacinas pediátricas pode diminuir com o tempo. Para além disso, os adultos podem precisar de outras vacinas com base na sua idade, condições de saúde, trabalho, estilo de vida ou viagens para outras regiões do mundo, em que os agentes infeciosos diferem do país de origem.

A vulnerabilidade individual a doenças infeciosas aumenta com a idade, nomeadamente a partir dos 50 anos de idade (devido ao declínio natural da imunidade relacionado com a idade) e ao desenvolvimento de doenças crónicas, incluindo as respiratórias, cardiovasculares, oncológicas e as doenças reumáticas autoimunes. Estas últimas implicam ainda a necessidade de medicação crónica com imunossupressores, aumentando ainda mais o risco de infeções.

A vacinação para adultos contra doenças comuns tem demonstrado drasticamente melhorias na saúde e qualidade de vida, particularmente nos que têm comorbilidades crónicas, reduzindo em alguns casos o risco de hospitalização ou morte.

É fundamental otimizar as taxas de cobertura vacinal em idade adulta, dados os benefícios claros da vacinação. Em particular, os doentes com doenças reumáticas autoimunes, particularmente aqueles sob medicação imunossupressora crónica, devem receber vacinação antipneumocócica e, anualmente, contra a gripe sazonal, além do Plano Nacional de Vacinação atualizado. Estas vacinas são seguras e eficazes nestes doentes. Apenas os tipos de vacinas que contêm agentes infeciosos vivos atenuados apresentam uma contraindicação relativa nestes doentes.

O CASO CONCRETO DO HERPES ZOSTER

O herpes zoster merece uma consideração particular, na população geral com mais de 50 anos e nos doentes crónicos, como aqueles com doenças reumáticas autoimunes e medicados cronicamente com imunossupressores.

O herpes zoster – ou zona – uma doença causada pela reativação do vírus varicela zoster (VZV), o mesmo vírus que causa a varicela. Mais de 90% das pessoas com mais de 50 anos vivem com o vírus VZV latente no seu sistema nervoso e 1 em cada 3 adultos vão desenvolver herpes zoster ao longo da vida, particularmente com o avançar da idade e, no caso dos doentes crónicos, por enfraquecimento do sistema imunitário.

A zona apresenta-se, habitualmente, como uma erupção cutânea extremamente dolorosa e pruriginosa, que se desenvolve num dos lados do corpo e que pode durar semanas.

Mesmo depois de a erupção resolver, os doentes podem ter nevralgia pós-herpética (NPH), uma dor com duração de, pelo menos, três meses após o aparecimento das vesículas até vários anos, ocorrendo em 5 a 30% dos casos de zona.

A vacina contra o herpes zoster recentemente desenvolvida é importante, por ser baseada em antigénios (componentes do VZV), com elevada eficácia na prevenção do herpes zoster, de acordo com os ensaios clínicos e por não conter vírus vivos, apresentando assim um bom perfil de segurança.