Algumas doenças obrigam à prescrição pelo médico de fármacos hipocoagulantes, nomeadamente os antagonistas da vitamina K. Saiba que que cuidados deve ter.

Artigo da responsabilidade da Dra. Joana Ferreira e Dra. Inês Soares da Costa, Medicina Geral e Familiar

A coagulação é um processo natural do organismo que permite o controlo de hemorragias (perdas de sangue), utilizando substâncias químicas maioritariamente produzidas pelo fígado e que irão permitir a formação de um coágulo.

PORQUÊ HIPOCOAGULAR?

A hipocoagulação oral pode ser necessária em doenças cardíacas e circulatórias que predispõem à formação inadequada e espontânea de coágulos, em particular:

  • Alterações do ritmo cardíaco (arritmias);
  • Doenças ou próteses valvulares cardíacas;
  • Após enfarte agudo do miocárdio (“ataque cardíaco”);
  • Trombose venosa profunda;
  • Embolia pulmonar;
  • Doenças que aumentam o risco de formação de trombos (algumas doenças genéticas, cancros, entre outras).

Antes de lhe recomendar esta medicação, o seu médico ponderou, certamente, os benefícios e riscos da sua situação em particular.

QUE HIPOCOAGULANTES ORAIS EXISTEM?

Existem dois grupos de fármacos hipocoagulantes:

  • os antagonistas da vitamina K (AVK) – varfarina e acenocumarol; e
  • os novos anticoagulantes orais (NACO) – dabigatrano, rivaroxabano, edoxabano e apixabano.

A escolha do anticoagulante a iniciar deve ter em conta vários fatores, como a adaptabilidade do doente ao fármaco, o preço, a função renal e hepática e as contraindicações.

É POSSÍVEL SABER SE ESTA MEDICAÇÃO ESTÁ A SER EFICAZ?

Para os antagonistas da vitamina K, sim. A eficácia destes medicamentos pode ser avaliada com recurso a testes laboratoriais, em particular o tempo de protrombina, que se pode traduzir no valor de INR e que deve ser avaliado regularmente.

O valor-alvo deve ser estabelecido individualmente pelo médico e ajustado ao doente e à patologia que motivou o início desta terapêutica.

O valor de INR em cada doente pode sofrer variações, podendo ser influenciado por vários fatores, inclusive a alimentação, ingestão de álcool, outros medicamentos ou produtos de ervanária.

QUE ALIMENTOS INTERFEREM COM A EFICÁCIA DESTA MEDICAÇÃO?

O efeito dos antagonistas da vitamina K são influenciados por vários alimentos e medicamentos.

Alimentos que diminuem o efeito (diminuem o INR):

  • Frutos/compotas: citrinos (lima, laranja, limão), abacate, kiwi, castanha;
  • Vitaminas: vitaminas K e C;
  • Verduras e legumes: alface, salada de folhas verdes, brócolos, espinafres, feijão-verde, favas, agrião, nabiça, repolho, couve-de-bruxelas, couve-flor, couve verde, pepino com casca, beterraba, salsa;
  • Bebidas: chá verde, bebida de soja;
  • Industrializados: mostarda, chocolate, tabaco;
  • Óleos: óleo de soja, óleo vegetal misto.
  • Produtos dietéticos: ginseng;
  • Dietas superproteicas;

Alimentos que aumentam o efeito (aumentam o INR):

  • Frutos/compotas: uva, ananás, toranja, frutos vermelhos, papaia, manga, melão, marmelo, diospiros, amendoim;
  • Vitaminas: vitaminas B e E;
  • Verduras e legumes: alho, azeitonas verdes, ruibardo;
  • Bebidas: álcool, cafeína, camomila, café de saco, cevada;
  • Cereais e grãos: granola, farinha de aveia;
  • Óleos e gorduras: óleos de peixe;
  • Produtos dietéticos: gengibre, arando, dente-de-leão, ginkgo biloba, gogi.

O importante é procurar manter uma alimentação equilibrada e mais ou menos constante.

QUE MEDICAMENTOS INTERFEREM?

Há vários medicamentos, alguns de venda livre na farmácia, que podem interferir com a eficácia destes anticoagulantes, aumentando ou diminuindo o seu efeito.

Os anti-inflamatórios, o ácido acetilsalicílico e o clopidogrel são exemplos de medicamentos que aumentam o efeito os anticoagulantes orais.

É muito importante que partilhe com o seu médico qualquer alteração medicamentosa e que, sempre que lhe é prescrito um novo medicamento, informe que faz esta medicação, para que possa ser avaliada a situação e tomadas as devidas precauções.

Não tome nenhum medicamento sem indicação médica.

QUAIS OS PRINCIPAIS EFEITOS SECUNDÁRIOS DESTES MEDICAMENTOS?

As principais complicações são as hemorragias.

As EQUIMOSES (nódoas negras) podem surgir mesmo sem traumatismos. São mais frequentes nos idosos e, normalmente, não necessitam de cuidados especiais.

As HEMORRAGIAS NASAIS E DA CAVIDADE ORAL são complicações muito frequentes. Habitualmente, não são graves e resolvem com medidas simples, sem necessidade de avaliação. No entanto, se a hemorragia for persistente, deve procurar ajuda médica.

A HEMATÚRIA (perda de sangue na urina), a HEMORRAGIA CONJUNTIVAL (ocular) e a HEMORRAGIA DIGESTIVA, que se pode manifestar por vómitos com sangue ou por sangue nas fezes, vivo ou escuro, devem motivar uma avaliação médica.

Embora pouco frequentes, as HEMORRAGIAS INTRACRANIANAS são as complicações potencialmente mais graves e devem motivar o recurso ao serviço de urgência do hospital mais próximo.

EM QUE SITUAÇÕES SE DEVE INTERROMPER A HIPOCOAGULAÇÃO ORAL COM AVK?

Em casos de intervenções médicas, cirúrgicas ou tratamentos dentários, nos quais exista a possibilidade ou certeza de ocorrer uma hemorragia, pode ser necessário interromper esta medicação, substituindo temporariamente por outra injetável, segundo um esquema que deve ser previamente definido pelo médico ou cirurgião.

Leia o artigo completo na edição de janeiro 2023 (nº 334)