Artigo da responsabilidade do Dr. Eurico de Almeida, Clínica ORL Dr. Eurico de Almeida

Há dois anos que a doente de 48 anos de idade tinha um historial clínico de perda progressiva da audição no ouvido direito. A surdez estava associada ao zumbido e à sensação do ouvido cheio de água. Não havia perturbação de equilíbrio.

Também não havia histórico de infeção, nem traumatismo, muito menos existiam outros membros da família com o mesmo tipo de problema.

O audiograma mostrou uma perda moderada de 45 dB no ouvido direito, com o teste de Weber lateralizando para a direita e o teste de Rinne negativo à direita e positivo à esquerda. O lado em que a audição era normal.

Foi feito o diagnóstico clínico da otosclerose direita e a cirurgia foi proposta e realizada após a explicação ao doente do respetivo procedimento.

A cirurgia decorreu conforme se esperava, exceto num ponto: o estribo não estava tão fixo como é habitual encontrar-se numa otosclerose.

O curso pós-operatório foi normal, mas ao ser destampada uma semana depois da cirurgia, a doente estava dececionada porque a audição não estava melhor. O audiograma ao fim do primeiro mês confirmou o insucesso da cirurgia.

Porquê é que esta evolução foi negativa?

Pela simples razão de se ter sido feito um diagnóstico errado na primeira consulta: a doente não tinha otosclerose, conforme se suspeitava, mas, sim, uma anomalia ao nível do canal semicircular superior direito.

A doente não fez um exame simples para determinar os reflexos acústicos (prática comum há dezenas de anos), nem um mais sofisticado como a tomografia computorizada (TAC).

Com estes dois exames a que se pode acrescentar outro (potenciais vestibulares), evitava-se a situação e o procedimento que se verificou nesta doente.

Como seria expectável, a doente recusou uma segunda cirurgia, optando pela utilização da prótese auditiva unilateral.

Muito provavelmente no passado, quando só tínhamos à nossa disposição os reflexos acústicos, alguns dos insucessos cirúrgicos deviam-se à existência de deiscência óssea do canal semicircular superior, porque a sua existência não era conhecida e era impossível diagnosticá-la.