Maio é o mês dedicado à consciencialização da doença celíaca e dia 16 é o Dia Internacional do Celíaco.

A doença celíaca (DC) não é uma moda, nem uma alergia! É uma doença crónica, autoimune, que surge na sequência da ingestão de glúten em indivíduos geneticamente suscetíveis e que se caracteriza por atrofia das vilosidades do intestino delgado, dificultando a absorção dos nutrientes dos alimentos ingeridos.

O glúten é fator primordial na indução da DC e é composto por prolaminas e gluteninas, principais constituintes do trigo, centeio e cevada. O glúten desencadeia, no intestino delgado, uma resposta inflamatória mediada pelo sistema imunitário, originando a progressiva destruição da mucosa, traduzindo-se na atrofia das vilosidades intestinais. Essa destruição leva, assim, à diminuição da sua capacidade de absorção dos nutrientes.

O único tratamento conhecido e eficaz consiste numa dieta isenta de glúten (DIG) rigorosa, para toda a vida, que requer a eliminação destes cereais, de forma a que o intestino regenere das lesões e o organismo recupere, traduzindo-se na diminuição dos sintomas e na melhoria do estado nutricional do celíaco.

Em Portugal, qual a prevalência?

De acordo com o único estudo realizado em Portugal a prevalência é de cerca de 1 % da população portuguesa (100 000 portugueses). No entanto, ainda se revela uma doença subdiagnosticada, estimando-se que na Europa existam 2 a 5 milhões de indivíduos não diagnosticados.

Que sintomas pode apresentar?

A doença celíaca é uma patologia que se pode manifestar em qualquer idade, com sintomas e sinais variados, alguns pouco evidentes e que dificultam o diagnóstico.

Os sintomas típicos, clássicos, essencialmente do foro intestinal, surgem frequentemente em crianças e não passam habitualmente despercebidos quando há intervenção médica: dor e distensão abdominal (barriga inchada), cólicas e flatulência, diarreia e/ ou obstipação, emagrecimento, atraso no crescimento (baixa estatura), atraso na puberdade, dificuldades de aprendizagem.

A maioria das vezes em que o diagnóstico é feito na idade adulta, há um atraso até à sua confirmação, porque as queixas são geralmente extraintestinais, e não indiciam imediatamente a suspeita de DC, em que as pessoas podem queixar-se de: fadiga persistente, cefaleias (dores de cabeça persistentes), aftas na boca, perda de cabelo, dores articulares, ansiedade/depressão, osteoporose/osteopenia, problemas de pele ou da tiroide. Há ainda casos em que os únicos indícios poderão ser alterações laboratoriais, como anemia por falta de ferro, deficiência de vitaminas ou alterações nas análises do fígado.

Quais os critérios para o diagnóstico de DC?

A marcha diagnóstica deve ser personalizada e adaptada a cada caso, e é essencial que ainda esteja sob uma dieta COM glúten durante a realização dos exames.

Além das análises sanguíneas “de rotina” que podem refletir o estado geral do organismo (nomeadamente em relação à absorção intestinal), o diagnóstico da doença celíaca deve ser apoiado em várias informações, nem sempre sendo fácil de o estabelecer:

1. história clínica;

2. análises sanguíneas aos anticorpos (serologia): Anti-transglutaminase (tTG), IgA e/ou IgG; Anti-gliadina desaminada, (AGA), IgA e/ou IgG; Anti-endomísio (AE), IgA e/ou IgG;

3. endoscopia digestiva alta com biópsias do duodeno;

4. teste genético (pesquisa de HLA DQ2 e DQ8).

Qual a importância da dieta isenta de glúten?

A DIG deve ser rigorosamente cumprida desde o momento do diagnóstico. Embora quando se inicie a dieta o celíaco note melhoria rápida dos sintomas gastrointestinais, é a manutenção dessa dieta que assegura a recuperação total do intestino e o desaparecimento dos sintomas relacionados com o glúten, além de evitar o aparecimento de outras situações autoimunes associadas à doença celíaca (tiroidite, artrite ou dermite, por exemplo). Quando um celíaco controlado (sem sintomas, sem alterações laboratoriais e com biópsias do duodeno já normais) começa a desleixar a sua dieta pode verificar que nada sente quando consome esporadicamente glúten, mas o seu sistema imunitário está ativado de forma silenciosa, mantendo algum grau de destruição intestinal e aumentando o risco, ao longo do tempo, de complicações associadas à doença celíaca. Comer fora de casa constitui o maior desafio para os celíacos e é um dos maiores obstáculos ao cumprimento rigoroso da DIG.

Um celíaco pode comer fora de casa?

Pode. Para que o faça em segurança, deve visitar os estabelecimentos certificados, pois para que um produto ou refeição possa ser considerada totalmente isenta de glúten, não basta que a mesma seja confecionada com ingredientes isentos de glúten, é preciso que tanto durante o armazenamento, como na confeção e no serviço, sejam observados rigorosos procedimentos que evitem qualquer possibilidade de contaminação cruzada (quantidade de glúten presente num alimento sem ser parte constituinte do mesmo, mas adquirido). Por exemplo, durante o processo de confeção de uma massa sem glúten usar a mesma colher para mexer, que foi previamente usada para mexer a água da massa com glúten, ou usar a mesma faca que cortou o pão com e sem glúten. Ou até na partilha de uma torradeira usada para alimentos com glúten. Esta contaminação cruzada, de todo não desprezível, pode levar a sinais e sintomas e eventualmente a doenças e complicações graves a longo prazo.

Torna-se, assim, imprescindível a implementação de uma dieta isenta de glúten RIGOROSA E PARA TODA A VIDA, para a qual toda a população deve estar sensibilizada, quer para estar atenta à apresentação de sintomas, como para compreender que a doença celíaca é uma condição de saúde e não uma moda!

Assim, no Mês do Celíaco, a Associação Portuguesa de Celíacos irá desenvolver e participar em várias iniciativas, entre as quais:

● 2 de maio – Formação sobre Doença Celíaca e Dieta Isenta de Glúten à Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste (Caldas da Rainha) – Nestas sessões, contribuímos para a formação de profissionais de restauração, padaria e pastelaria, bem como daqueles que servem à mesa mais conscientes e alerta para a DC e dos cuidados necessários na preparação e serviço de refeições isentas de glúten.

● 3 de maio – Palestra da APC no Mestrado de Nutrição Pediátrica da FCNAUP (Porto) – sessão com os alunos do mestrado, para que enquanto nutricionistas pediátricos estejam mais alerta para os sinais e sintomas da doença celíaca.

● 8 de maio – Sessão “À Conversa com Maria Sameiro Jorge e Carla Sousa” – rubrica digital da APC, em que, de forma informal, falamos sobre a doença celíaca e vários temas relacionados com a dieta isenta de glúten. Nesta sessão, teremos uma conversa sobre Saúde Escolar, apresentada por Maria Sameiro Jorge, enfermeira na unidade de saúde Mave, e Carla Sousa, nutricionista da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.

● 11 de maio – “Às compras com a nutricionista” – Vamos acompanhar pequenos grupos a duas lojas Celeiro, em Lisboa e no Porto, para ensino da leitura dos rótulos e como fazer boas escolhas alimentares.

● 13 a 19 de Maio – Corrida Internacional do Dia do Celíaco da AOECS – uma corrida virtual, em que cada um corre onde estiver. Ao juntar-se a este desafio, apoia a missão de enviar alimentos para os celíacos ucranianos e de apoiar os seus refugiados.

● 15 de maio – Live talk Auchan “Mitos da Alimentação Sem Glúten” – Conversa informal sobre os mitos sobre a alimentação sem glúten, transmitida através do Instagram.

● 15 de maio – Formação sobre Doença Celíaca e Dieta Isenta de Glúten à Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra – Nestas sessões, contribuímos para a formação de profissionais de restauração, padaria e pastelaria, bem como daqueles que servem à mesa mais conscientes e alerta para a DC e dos cuidados necessários na preparação e serviço de refeições isentas de glúten.

● 16 de maio – Dia da Consciencialização da Doença Celíaca nas Escolas – A iniciativa é gratuita e tem como objetivo mostrar, de forma lúdica, a todas as crianças, jovens e comunidade escolar, o que significa ser celíaco e comer sem glúten, sem que isso seja visto como uma diferença. Incentivamos a que todos os alunos vistam uma peça de roupa azul.

● 16 de maio – Lanche convívio na Casa Ronald McDonald do Porto – Em colaboração com o Hospital de São João e a Pizzeria Con Essenza, iremos proporcionar um momento de convívio entre os profissionais e os pais de crianças internadas na Ala Pediátrica do Hospital de S. João.

● 16 de maio – Consciencialização da Doença Celíaca na Unidade Local de Saúde Entre o Douro e Vouga – Ação de sensibilização para os utentes da Unidade.

● 16 de maio – Conferência Doença Celíaca: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento, no El Corte Inglés de Lisboa e do Porto – irá decorrer simultaneamente em Lisboa e no Porto, promovendo o diálogo sobre a doença celíaca.

● 17 e 18 de maio – Participação na Feira da Educação e da Saúde de Belém – Sensibilização dos participantes para a Doença Celíaca e para o trabalho feito pela APC, nesta Feira que pretende divulgar Associações e Entidades ligadas à área da saúde e da educação.

● 18 de maio – Workshop de Lanches Saudáveis para Crianças, no Centro de Coinovação da
Mercadona, em Lisboa.

● 18 de maio – Caminhada solidária Continental Mabor (Parque Urbano de Sara Moreira, Santo Tirso) – para os colaboradores da Continental e seus familiares.

● 21 de maio – Ação de formação dirigida a profissionais da restauração – Sessão dirigida a profissionais da restauração, em Odivelas, sobre a Doença Celíaca, Dieta Isenta de Glúten e cuidados a ter para evitar a contaminação cruzada.

● 25 de maio – Workshop para crianças Happy Cookie, no Porto – Atividade para crianças dos 4 aos 10 anos, para que aprendam a confecionar as suas bolachas!

● 27 de maio – Webinar dirigido às Escolas – Formação sobre dieta isenta de glúten e cuidados a ter para evitar contaminações cruzadas, em contexto escolar.

● 29 de maio – Webinar dirigido à Restauração – Formação sobre dieta isenta de glúten e cuidados a ter para evitar contaminações cruzadas, em contexto de restauração e hotelaria.

Mais informações em https://www.celiacos.org.pt/eventos/