A saúde íntima feminina é um assunto que merece mais atenção do que aquela que recebe, atualmente, em Portugal. Mantém-se o estigma associado à discussão aberta, e franca, de questões de saúde íntima, que pode, como consequência, atrasar o diagnóstico e tratamento de doenças mais sérias, como os cancros ginecológicos.

Artigo da responsabilidade da Dra. Mariana Malheiro. Médica oncologista CUF Tejo e Hospital São Francisco Xavier.

 

Os cancros ginecológicos, que incluem o cancro do colo do útero, ovário, útero, vagina e vulva, são uma preocupação significativa para as mulheres portuguesas.

O cancro do colo do útero, em particular, é o quarto cancro mais comum entre as mulheres em Portugal. Mas, se assume um lugar de destaque na incidência, é também o único com programa de rastreio implementado para mulheres entre os 25 e os 60 anos. Além disso dispõe de vacinação contra o HPV (o principal fator de risco para esta neoplasia) no Programa Nacional de Vacinação. É preocupante a baixa adesão à vacinação em algumas áreas, assim como é preocupante o número reduzido de rastreios por desconforto, desconhecimento ou receio.

No outro extremo, chamo a atenção para o cancro do ovário. Silencioso e discreto, é o maior responsável pela mortalidade associada às neoplasias ginecológicas. Os sintomas são de difícil perceção (distensão abdominal, maior frequência e urgência urinária, sensação de enfartamento, náusea, anorexia, saciedade precoce, dor pélvica ou abdominal) e geralmente mais evidentes em fases mais avançadas da doença. Desmistificar sintomas, procurar ajuda e manter consultas regulares no seu médico assistente podem promover o diagnóstico mais precoce e melhores resultados a longo prazo. Estima-se que muitas doentes apresentam sintomas 6 meses antes de procurarem ajuda diferenciada.

A saúde íntima feminina não se resume apenas à prevenção e tratamento do cancro. Envolve também a manutenção de uma higiene íntima adequada, a compreensão das mudanças normais que ocorrem no corpo feminino e a busca de ajuda médica quando necessário.

Em Portugal, existem vários recursos disponíveis para ajudar as mulheres a cuidar da sua saúde íntima. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito. A educação sobre a saúde íntima feminina deve começar cedo e ser uma parte integrante da educação sexual nas escolas. É importante aumentar a literacia em saúde nestas áreas, para que as mulheres saibam reconhecer sinais de alerta, o mais cedo possível, e procurar médicos de forma regular.

Em conclusão, a saúde íntima feminina e os cancros ginecológicos são questões importantes que requerem atenção e cuidado. Em Portugal, embora se tenham feito progressos significativos, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que todas as mulheres tenham acesso à informação e aos cuidados que necessitam.

Lembre-se, a sua saúde é importante. Cuide de si e não hesite em procurar ajuda se tiver alguma preocupação.

 

Pode ler mais sobre este tema na edição de março 2024 (nº 347)