Não ultrapasse os 80 batimentos por minutos. Tenha atenção à frequência cardíaca elevada em repouso
Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Manuel Oliveira Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia
A frequência cardíaca de repouso elevada é um fator de risco de hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e de doença cardiovascular, tal como os outros fatores de risco tradicionais, podendo ser comparada, neste sentido, à hipertensão arterial, ao tabagismo e à dislipidemia.
Pode e deve ser medida com frequência, visto tratar-se de um indicador clínico fácil de obter, através da medição do pulso, que poderá, no caso de estar elevada, identificar determinados indivíduos em risco de vir a desenvolver hipertensão arterial, doença cardiovascular e também diabetes.
Infelizmente os portugueses não estão informados e muito menos sensibilizados para a importância deste fator de risco que tem sido esquecido na informação disponibilizada à nossa população.
Várias situações podem elevar a frequência cardíaca de repouso. Esta, nunca se deve confundir com a frequência cardíaca elevada causada pelo esforço físico e pelas emoções. Nestas circunstâncias, essa elevação é perfeitamente fisiológica e necessária para assegurar maior quantidade de sangue e energia ao coração e aos músculos.
O médico deve começar por excluir as situações que se sabe que aumentam a frequência cardíaca, tais como as doenças da tiroide, a anemia, o excesso de álcool, a cafeína e o stress. Depois de excluir estas situações e ter-se comprovado a presença de uma frequência cardíaca de repouso elevada, podemos perguntar quais os mecanismos que causam esta taquicardia relativa em repouso. A explicação mais aceite é que, seja devida, em muitos casos, a um desequilíbrio do sistema nervoso autónomo, com predomínio do sistema simpático sobre o sistema vagal, o que leva à subida da frequência cardíaca e progressivamente da pressão arterial.
Como já vimos, é importante que a frequência cardíaca de repouso sistematicamente elevada deva ser valorizada pois constitui um fator de risco que pode anunciar o futuro aparecimento de doença e morte cardiovascular e de diabetes. Esta elevação da pulsação cardíaca deve por isso ser interpretada como um aviso para se iniciarem medidas preventivas que corrijam este desequilíbrio. É o momento para a medicina preventiva fazer o seu trabalho.
É possível manter a frequência cardíaca controlada, melhorando o estilo de vida, nomeadamente através da prática regular do exercício, de redução do peso corporal, do stress, da ingestão excessiva de álcool e cafeína e do tabagismo. Algumas vezes pode mesmo ser necessário recorrer ao emprego de fármacos que ajudem a controlar a frequência cardíaca e, ao mesmo tempo, a pressão arterial elevada, que, como já referimos, costuma estar associada, mais tarde ou mais cedo, a este aumento da frequência cardíaca.
Numa perspetiva preventiva, a frequência cardíaca de repouso elevada pode indicar um prognóstico desfavorável e por ser tão fácil de medir, pela palpação do pulso, é de recomendar o seu emprego frequente, bem como a sua valorização clínica, nomeadamente, na medicina familiar, e o seu uso até deve ser encorajado na própria população em geral.
Numa altura em que ainda estamos a lutar contra a Covid-19 é muito importante não esquecer que a pandemia cardiovascular continua a ser a pandemia que mata mais pessoas em Portugal, pelo que não podemos ignorar a importância para todos da adoção de estilos de vida saudáveis e do controlo dos fatores de risco para a prevenção cardiovascular, que irão também baixar a probabilidade de se ter a frequência cardíaca de repouso elevada.
Por isso, quando se trata da frequência cardíaca em repouso, os 80 batimentos por minuto (bpm) são o valor a que todos devem estar atentos.
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