SABIA QUE A FIBRILHAÇÃO AURICULAR AUMENTA EM 5 VEZES O RISCO DE AVC, EM 3 VEZES O RISCO DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E EM 2 VEZES O RISCO DE DEMÊNCIA E DE MORTALIDADE?
Artigo da responsabilidade da Profª. Natália António, Cardiologista com subespecialidade de Eletrofisiologista, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; professora auxiliar de Farmacologia na Faculdade de Medicina de Coimbra; representante da Ordem dos Médicos na Comissão de Farmácia e Terapêutica da ARS; elemento da Direção da Sociedade Portuguesa de Cardiologia; elemento do Colégio de Farmacologia Clínica.
A fibrilhação auricular (FA) é a arritmia cardíaca mantida mais comum em todo o mundo, sendo responsável por 20 a 30% dos acidentes vasculares cerebrais isquémicos. Diagnosticar atempadamente esta arritmia pode revelar-se fundamental na prevenção de complicações como AVC, insuficiência cardíaca, demência ou mesmo morte súbita. A FA pode implicar uma significativa redução da qualidade de vida, mas pode ser controlada através da gestão de comportamentos, hábitos de vida, medicação e, nalguns casos, de ablação.
SINTOMAS MUITO LIMITATIVOS
A fibrilhação auricular associa-se a um aumento de risco para vários problemas, particularmente o acidente vascular cerebral (AVC).
Em Portugal, a prevalência desta arritmia cardíaca na população com idade igual ou superior a 40 anos é de cerca de 2,5%. A partir dos 65 anos, a prevalência aumenta para 10%, ou seja, cerca de um em cada 10 portugueses com mais de 65 anos desenvolve esta doença.
Estudos indicam que esta é uma condição que aumenta em 5 vezes o risco de AVC, em 3 vezes o risco de insuficiência cardíaca e em 2 vezes o risco de demência e de mortalidade.
Embora esta possa ser uma doença silenciosa, a verdade é que muitos doentes apresentam sintomas muito limitativos, como sensação de batimentos descoordenados do coração (palpitações), pulsação rápida e irregular, tonturas, sensação de desmaio ou mesmo perda do conhecimento, dificuldade em respirar, cansaço, confusão ou sensação de aperto no peito.
SUCESSO TERAPÊUTICO
Uma vez diagnosticada, a FA pode ser eficazmente controlada na grande maioria dos doentes, através da alteração de hábitos de vida, fármacos antiarrítmicos, ablação e terapêutica anticoagulante.
De acordo com as normas estabelecidas na maior parte dos países europeus, a maioria dos doentes com FA tem indicação para terapêutica anticoagulante oral, para prevenção do AVC e do tromboembolismo sistémico, nomeadamente através da utilização de anticoagulantes não antagonistas da vitamina K, conhecidos por NOAC. Esta decisão deve ser tomada com o envolvimento de um médico e deve, subsequentemente, haver um plano de acompanhamento do doente. O sucesso terapêutico é tanto maior quanto mais esclarecidos estiverem os doentes.
Há várias formas de fibrilhação auricular, sendo que as diferenças se prendem, sobretudo, com o tempo de duração e a persistência da arritmia. Quanto mais tarde for diagnosticada esta arritmia, mais difícil poderá ser conseguir uma terapêutica eficaz. A FA caracteriza-se pelo facto do doente apresentar um ritmo irregular que pode ser detetado nos exames ao coração, como o eletrocardiograma ou o Holter, entre outros.
MEDIR A PULSAÇÃO AJUDA A PREVENIR ARRITMIAS
O coração assegura que o sangue é distribuído a todas as partes do corpo, variando a atividade em função das necessidades do organismo, ou seja, bombeia mais quando é necessário dar resposta a uma situação de esforço e menos quando o organismo está em repouso. Num adulto saudável em repouso, o coração bate cerca de 60 a 100 a vezes por minuto, sendo o seu ritmo regular. Quando ocorre uma arritmia cardíaca, como a FA, o coração bate de uma forma irregular.
Assim sendo, a medição do pulso é a maneira mais simples de vigiar o ritmo do coração. Esta medida simples poderá ajudar a detetar batimentos cardíacos irregulares, identificar precocemente FA e prevenir doenças graves.
FATORES DE RISCO
Muitos são os fatores de risco que podem estar na origem das arritmias. Tabagismo, stress, consumo de bebidas alcoólicas, estilos de vida sedentários, consumo de drogas, toma incorreta de alguns medicamentos e excesso de cafeína estão na origem de muitas arritmias.
Existe ainda um grupo de comorbilidades que potenciam o aparecimento de episódios de FA e que são a diabetes, a obesidade, a insuficiência cardíaca, a hipertensão arterial, a síndrome de apneia obstrutiva do sono e a doença coronária, entre outras.
Alguns fatores de risco associados à FA são modificáveis, pelo que alterar o seu estilo de vida e cumprir os tratamentos de acordo com as indicações do seu médico pode reduzir o risco de desenvolver esta arritmia e as suas complicações.
Leia o artigo completo na edição de setembro 2020 (nº 308)
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