A fibrilhação auricular é a alteração mais frequente do ritmo cardíaco, sendo responsável por 1 em cada 5 dos acidentes vasculares cerebrais que ocorrem em Portugal. A sua deteção precoce e respetivo controlo são fundamentais para evitar esta e outras complicações.

Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Manuel Oliveira Carrageta. Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia

 

O risco de fibrilhação auricular (FA) aumenta com a idade, sendo de cerca de 10% nas pessoas com mais de 80 anos, em comparação com menos de 2% nas pessoas com idades compreendidas entre os 50 e 59 anos. Na Europa, a estatística mostra que, a cada 15 segundos, há um acidente vascular cerebral causado pela FA.

A FA está associada ao envelhecimento e caracteriza-se por o ritmo cardíaco ser irregular e muitas vezes rápido, devido a um problema no funcionamento do nodo sinusal e das aurículas.

As pessoas com fibrilhação auricular têm um risco cinco vezes maior de sofrer um acidente vascular cerebral, quando comparados com a população em geral. Também têm um risco aumentado de vir a sofrer de insuficiência cardíaca, devido à frequência excessiva com que o coração bate nestes doentes, o que acaba por fatigar prematuramente este órgão vital.

O QUE É A FIBRILHAÇÃO AURICULAR?

O coração é essencialmente um músculo movido a eletricidade. O nodo sinusal é, em linguagem simples, a bateria do coração. Está localizado na aurícula direita e as suas descargas elétricas periódicas, em média 70 vezes por minuto, estimulam a atividade do músculo cardíaco, que contrai e relaxa regular e harmoniosamente, expelindo e aspirando o sangue a cada pulsação.

No caso da fibrilhação auricular, o ritmo torna-se irregular devido ao nodo sinusal ter deixado de funcionar e ter sido substituído por inúmeros focos de descarga, geralmente, localizados à volta das veias pulmonares, junto à sua desembocadura na aurícula esquerda.

As aurículas deixam de contrair de forma eficaz, o que leva a que o sangue se acumule e fique como que meio estagnado nas aurículas. Isto leva a tendência para formar coágulos, que podem, ao sair das aurículas, circular pelas artérias e irem até ao cérebro, onde, ao bloquearem uma artéria cerebral, provocam um AVC. As consequências do AVC dependem da importância da artéria que for bloqueada pela embolia que partiu das aurículas. Os AVC devidos à FA tendem a ser mais graves, provocando mais incapacidades e mortes, por lesarem maiores áreas do cérebro.

O QUE CAUSA A FA?

As causas mais frequentes são a hipertensão arterial, o enfarte do miocárdio prévio, a insuficiência cardíaca, a doença valvular cardíaca e a diabetes. As doenças respiratórias, como a apneia obstrutiva do sono e o enfisema também podem causar FA.

O hipertiroidismo, ou seja, a função excessiva da glândula tiroide causa muitas vezes FA. Em princípio, nos doentes com FA, deve ser investigada a função tiroideia, tendo em mente que se trata de uma causa que pode ser curável.

Nos doentes obesos, com informação que ressonam e têm paragens respiratórias durante o sono, é recomendado que realizem um estudo do sono (estudo polisomnográfico).

QUAIS OS FATORES QUE PODEM A DESENCADEAR?

As infeções respiratórias e urinárias, a insuficiência cardíaca, excesso de álcool com grande ingestão em pouco tempo, como muitos jovens fazem ao fim de semana, fumar, stress excessivo a consumo excessivo de cafeína são alguns dos fatores que podem desencadear a fibrilhação auricular.

Leia o artigo completo na edição de maio 2024 (nº 349)