A Reumatologia é a especialidade médica que se ocupa do tratamento das doenças reumáticas, mais de 100 entidades diferentes que podem afetar todos os seres humanos independentemente da idade, género ou etnia.

Artigo da responsabilidade do Dr. António Vilar. Reumatologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia

 

Mas de que é que falamos quando dizemos que sofremos de “reumático”? De nada em concreto, mas sinalizamos o nosso interlocutor que não é do coração, nem dos pulmões, nem dos rins etc., etc… Queremos dizer que temos um problema do aparelho locomotor, isto é, daquelas estruturas que nos permitem mexer, andar e correr.

Podem ser ossos, músculos, cartilagem, tendões, cápsulas, discos e tudo o que constitui uma articulação. Complexo, não é? Mas pior ainda, quando algumas delas têm origem no tecido conjuntivo, que se diferencia no nosso embrião e é a estrutura fundamental de muitos órgãos, como o coração, rins, estômago, olhos e cabelo, fazendo com que algumas destas doenças reumáticas possam afetar, além das citadas articulações, também outros órgãos e sistemas, designando-se por isso como sistémicas, o que lhes confere um potencial de dano, destruição, incapacidade que pode ser fatal em qualquer idade!

ENORME DIVERSIDADE

Da mesma forma, quando dizemos que sofremos dos pulmões, não distinguimos se é bronquite, pneumonia, pleurisia, tuberculose, asma, enfisema ou cancro e, como muitos sabem, não é indiferente para o tratamento e muito menos para o prognóstico… O mesmo acontece com as doenças reumáticas.

Podemos nascer com algumas delas, como no caso da juvenil, ou só́ ocorrerem em idades muito avançadas, como a artrose e a polimialgia reumática. Podem parecer em todas as idades, como a fibromialgia, ou terem início em adultos jovens, como a artrite reumatoide, o lúpus e a espondilite anquilosante. Estarem associados a doenças de outras especialidades, como a artrite associada à psoríase ou à doença inflamatória do intestino, seja ela, colite ulcerosa ou doença de Crohn. E podem ser localizadas, associadas ao desporto e ao trabalho, como as tendinites, tenosinovites e o túnel do carpo, apenas para citar algumas.

PORQUE É QUE ISTO É IMPORTANTE PARA SI?

Isto é importante para si, caro leitor, para saber a que especialista se deve dirigir quando persistem as suas queixas ou na dúvida quanto ao seu diagnóstico. E não, não é ao “médico dos ossos” que se deve dirigir!

A Reumatologia teve a sua primeira reunião mundial há́ quase 100 anos. Em Portugal, foi com o Dr. Assunção Teixeira que deu os seus primeiros passos, mas só a partir de 1948, com o que viria a ser o Instituto Português de Reumatologia – instituição privada de solidariedade social, que faz agora 75 anos – se prestaram os primeiros cuidados reumatológicos dedicados. Por querelas políticas, pequenos interesses e grandes egos, só́ em 1977 foi reconhecida como Especialidade Médica (20 anos depois da primeira tentativa de reconhecimento!) e apenas em 1980 se iniciou o Internato da Especialidade, um dos mais longos, com 3 anos exclusivamente dedicados às doenças reumáticas.

Mas embora haja 200 reumatologistas no País, desde Bragança até Faro, só́ 29 dos 126 hospitais do SNS têm reumatologistas, apesar de a Rede Hospitalar prever mais de 40 desde há́ 20 anos! Isto significa que grande parte das nossas populações não encontra reumatologistas nos seus hospitais mais próximos.

Como é possível que grandes hospitais, como o Hospital Santo António, no Porto, ou o Fernando da Fonseca, Amadora-Sintra, descurem o acesso reumatológico diferenciado às suas populações? Não compreendemos!

Leia o artigo completo na edição de maio 2024 (nº 349)