A síndrome do intestino irritável (SII) é uma condição que afeta perto de 10% da população portuguesa, caracterizando-se por dor abdominal recorrente, associada a alterações dos hábitos intestinais. Acredita-se que a SII decorra de alterações na interação do eixo cérebro-intestino, levando a um estado de hipersensibilidade visceral. Fatores psicológicos, dieta e microbiota intestinal podem influenciar os sintomas. Enquanto alguns doentes aprendem a controlar os seus sintomas através de mudanças no estilo de vida ou na dieta, uma percentagem importante requer intervenção médica.

O diagnóstico da SII é baseado na presença de sintomas típicos, na ausência de alterações num número limitado de exames complementares. Na evidência de sinais ou sintomas de alarme, o doente pode ser referenciado para exames adicionais, como a colonoscopia.

A explicação clara do diagnóstico e a tranquilização do doente são a pedra basilar do tratamento. Alguns doentes podem beneficiar da ingestão complementar de fibra solúvel ou do apoio de um nutricionista caso as medidas no estilo de vida não sejas suficientes. Quando apropriado, o uso de probióticos também pode ser útil.

Os doentes que não veem a sua condição melhorada serão propostos para terapêutica farmacológica. As diretrizes atuais recomendam apenas a prescrição de medicamentos com evidência científica sustentada, desaconselhando o uso de produtos não regulamentados que frequentemente carecem de eficácia ou, com risco de efeitos adversos. Alguns medicamentos atuam diretamente no intestino, enquanto outros também intervêm do referido eixo cérebro-intestino, denominados neuromoduladores.

Também as terapias psicológicas demonstraram ser eficazes para muitos doentes com SII, devendo-se promover o acesso às mesmas.

Doentes com sintomas graves que não respondem a múltiplas abordagens podem estar mais vulneráveis a procedimentos e tratamentos fúteis. Recomenda-se que esses doentes sejam acompanhados por uma equipa especializada multidisciplinar.

Texto introdutório da responsabilidade do Dr. Armando Peixoto, gastrenterologista no Centro Hospitalar e Universitário São João, assistente convidado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; Direção do Núcleo de Neurogastrenterologia e Motilidade Digestiva da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia

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