A endometriose é uma condição ginecológica comum, mas subdiagnosticada, que pode ter um impacto significativo na qualidade de vida das mulheres. O estudo VivEndo permitiu conhecer um pouco melhor a realidade da doença em Portugal.

Artigo da responsabilidade da Dra. Filipa Osório. Especialista em Ginecologia e Obstetrícia

 

 

A endometriose é uma condição ginecológica crónica que afeta milhões de mulheres em todo o mundo, incluindo Portugal.

A doença ocorre quando o tecido semelhante ao revestimento do útero, conhecido como endométrio, cresce fora do útero, muitas vezes nos ovários, trompas de Falópio e outros órgãos pélvicos. Esta condição pode causar uma série de sintomas debilitantes, incluindo dor pélvica crónica, dor durante a menstruação, dor durante as relações sexuais e, em alguns casos, infertilidade.

MAIS DE 400 MIL AFETADAS

Infelizmente, a endometriose ainda é uma doença mal compreendida e o diagnóstico, muitas vezes, é adiado, o que pode ter um impacto significativo na qualidade de vida das mulheres, afetando não apenas a sua saúde física, mas também a sua saúde emocional e mental.

A dor crónica associada à endometriose pode ser debilitante, interferindo nas atividades diárias, no trabalho e nas relações pessoais.

Em Portugal, a endometriose afeta cerca de 400.000 mulheres em idade reprodutiva. No entanto, este número pode ser ainda maior, devido ao subdiagnóstico e à falta de consciencialização sobre a condição.

COMPREENDER A DIMENSÃO DO PROBLEMA

A Sociedade Portuguesa de Ginecologia, em colaboração com a Associação Portuguesa de Apoio a Mulheres com Endometriose – MulherEndo – e o apoio da Gedeon Richter Portugal, realizaram um inquérito sobre a jornada das mulheres com endometriose, com o intuito de compreender melhor a dimensão do problema em Portugal, sendo consideradas para análise 883 respostas de doentes com endometriose, que deu origem ao estudo VivEndo.

Este questionário permitiu-nos saber que a idade média das doentes com endometriose que responderam ao questionário era de 37 anos e, destas, 18 % tinha antecedentes familiares da doença.

INÍCIO PRECOCE, DIAGNÓSTICO TARDIO

Na maioria, os primeiros sintomas manifestaram-se entre os 10 e os 19 anos, sendo a idade média aos 20 anos. Os primeiros sintomas foram, na sua maioria, dor pélvica e dor intensa na menstruação.

Apesar do início dos sintomas ter sido pelos 20 anos, a primeira consulta foi apenas realizada, em média, 4 anos depois. E na busca de um diagnóstico, estas mulheres consultaram, em média, três profissionais de saúde. Mesmo depois de uma primeira consulta, 45% levou mais de 6 anos até ter um diagnóstico correto.

TRATAMENTO DEPENDE DA GRAVIDADE

O tratamento da endometriose pode variar dependendo da gravidade dos sintomas e dos planos de futuro reprodutivo da mulher. As opções de tratamento podem incluir medicamentos para aliviar a dor, terapia hormonal para suprimir o crescimento do tecido endometrial fora do útero e cirurgia para remover tecido endometrial.

Para mulheres que desejam engravidar, o tratamento da endometriose também pode incluir técnicas de reprodução assistida, como fertilização in vitro.

O tratamento médico deve ser utilizado como primeira linha de estabilização da doença, mas nem sempre é fácil obter uma boa adaptação à medicação e a maioria das mulheres já alterou a terapêutica entre 2 a 5 vezes, enquanto 59% necessitou de recorrer à cirurgia para controlo da endometriose. Das respostas obtidas, 583 mulheres tentaram engravidar e destas 77% teve dificuldade em conseguir e 51% já recorreu a tratamentos de infertilidade.

Leia o artigo completo na edição de março 2024 (nº 347)