Em Portugal, os casos de cancro digestivo estão a aumentar. Este grupo de doenças mata, em média, um português por hora. Nunca foi tão importante falarmos sobre cancro digestivo. Conheça os sinais a que deve estar atento e saiba como prevenir este tipo de cancros.

Artigo da responsabilidade do Dr. Luís Carvalho Lourenço. Médico Gastrenterologista do Hospital CUF Tejo. Docente da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa – NOVA Medical School. Fellow do European Board of Gastrenterology and Hepatology. Membro da Direção do Colégio de Gastrenterologia da Ordem dos Médicos

 

 

O cancro é uma doença muito frequente na população ocidental. O cancro digestivo compreende um grupo de tumores que afetam o tubo digestivo (esófago, estômago e intestino – incluindo intestino delgado, cólon e reto) e os órgão anexos (fígado, vias biliares e pâncreas), constituindo os tumores com maior incidência e mortalidade, atualmente.

Em Portugal, são diagnosticados à volta de 70.000 novos casos de cancro, por ano, e, destes, cerca de um terço são do aparelho digestivo. O cancro digestivo tem registado um aumento de casos, nos últimos anos, e mata um português por hora, segundo uma estimativa da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia. O aumento da esperança média de vida e o estilo de vida pouco saudável de uma grande parte dos portugueses estão na origem destes números.

A promoção de hábitos saudáveis, junto da população, é a primeira estratégia de prevenção destas doenças. Seguir a dieta mediterrânica (rica em vegetais e fruta), praticar regularmente exercício físico, combater o excesso de peso, beber muita água, não fumar e não consumir bebidas alcoólicas são algumas opções que podem fazer a diferença.

Além disso, existem sinais de alarme para os quais todos devemos estar despertos. Podem não significar necessariamente que se tem um cancro digestivo, mas devem motivar uma ida ao médico e uma investigação cuidadosa. Entre eles, a disfagia (dificuldade em engolir alimentos ou engasgamentos frequentes), vómitos persistentes, emagrecimento significativo, palidez da pele e cansaço, qualquer perda de sangue pelo tubo digestivo, alteração súbita e persistente do trânsito intestinal, e a dor e sensação de massa anormal no abdómen. De igual forma, a icterícia pode ser o primeiro sinal de cancro no fígado, vias biliares e pâncreas.

Os exames de deteção precoce em pessoas que não apresentam qualquer queixa, a vigilância clínica regular e o diagnóstico atempado têm um papel importante na redução da mortalidade. Um dos grandes problemas é que, nas fases iniciais, o cancro digestivo não causa, habitualmente, sintomas, atrasando o diagnóstico.

O cancro colorretal (do cólon e reto) merece uma relevância especial, pois, além de afetar pessoas cada vez mais jovens e sem história familiar de cancro digestivo relevante, representa a principal causa de morte oncológica no nosso país, contabilizando cerca de 4.000 mortes por ano. No entanto, se diagnosticado em estádios precoces, o prognóstico é muito favorável, com uma taxa de sobrevivência superior a 90%. O tratamento standard do cancro colorretal é a cirurgia, que pode ser combinada com tratamentos de Oncologia (quimioterapia, imunoterapia e/ou radioterapia), para reduzir a disseminação das células tumorais fora do intestino.

Estes tratamentos potencialmente curativos são tanto mais eficazes quanto mais precoce for o diagnóstico, o que justifica a importância da colonoscopia, que deve ser feita, normalmente, a partir dos 45 a 50 anos. Este procedimento minimamente invasivo permite diagnosticar atempadamente as lesões precursoras do cancro do intestino (os pólipos) e, na maior parte dos casos, removê-los no mesmo procedimento, evitando a necessidade de tratamentos adicionais e o desenvolvimento de doença avançada e incurável.

No que respeita ao cancro gástrico, Portugal apresenta a incidência mais elevada dos países da Europa ocidental, sendo esta doença responsável por 2.300 mortes anuais. O sal, o tabaco, os alimentos fumados e a presença da bactéria Helicobacter pylori no estômago são os principais fatores de risco.

Para prevenir ou diagnosticar precocemente este tipo de cancro, a endoscopia digestiva alta também deve ser feita a partir dos 50 anos. Este exame permite detetar alterações e lesões pré-malignas assintomáticas da parede do estômago e, em certos casos, removê-las. Além disso, permite diagnosticar casos de infeção por Helicobacter pylori, que pode ser eficazmente eliminada com antibióticos.

A endoscopia digestiva alta e a colonoscopia são duas das melhores armas de diagnóstico e prevenção do cancro digestivo. Estes procedimentos, ainda que invasivos, têm vindo a tornar-se cada vez mais confortáveis, eficazes e seguros.