Investimos semanas do nosso ano a prepará-las, minutos do nosso tempo a desejá-las e de repente num ápice terminam. O despertador a tocar, marca inevitavelmente, para a maioria das pessoas, o fim das férias. 

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Vera de Melo, psicóloga clínica

 

 

Setembro chegou, e com ele o regresso ao trabalho. Associado a este regresso são várias as emoções e sentimentos que nos podem acompanhar, como a nostalgia, melancolia ou até mesmo ansiedade. Tudo aparentemente muito natural, dado que temos saudades de um período que em regra é vivido com uma maior calma, onde não há horários rigorosos a cumprir, rotinas, prazos, objetivos… um período vincado pela companhia da família, amigos e uma sensação de bem-estar, boa disposição e felicidade.

Porém, este retorno às nossas atividades profissionais não tem que forçosamente ser encarado como algo entediante e menos positivo.

Para que encare o regresso com entusiasmo deixo-lhe algumas dicas.

1-Seja otimista

Pode parecer difícil ao início, mas rapidamente perceberá as vantagens. Concentre-se nos aspetos positivos do regresso ao trabalho em vez de se deixar levar por pensamentos negativos. Evite entrar num ciclo de vitimização constante, pois em nada promove a felicidade. Ser feliz é uma escolha e tem de querer ser.  Não hipervalorize as situações e faça avaliações objetivas da realidade. Encare com otimismo o regresso, foque-se nas soluções e não nos problemas.

2-Tenha paciência

O reajustamento a uma nova realidade dificilmente é imediato.  É necessário um período de (re)adaptação. Da mesma forma que o seu corpo não está num mood relaxado quando inicia as suas férias, quando regressa à sua atividade profissional, o seu corpo e mente vão precisar de se sincronizarem novamente com um ritmo muito específico, por norma mais acelerado. Este “choque” inicial é algo esperado e natural. Sintomas como dificuldades em adormecer e acordar, baixa concentração e défice de produtividade inicial são marcos da readaptação ao novo contexto. Pense que estas reações serão tão exacerbadas quanto maior o número de dias do período de lazer e o grau de exigência, em termos de horas e funções de cada profissão. Não as hipervalorize e dê-lhe apenas a importância que têm. Lembre-se, a vida não é uma corrida de 100 metros, mas sim uma maratona.

3-Foque-se

Não perca tempo a ser saudosista e a recordar o passado, as férias, o que foi já lá vai, e o que será está nas suas mãos. O regresso não tem de ser o voltar ao “mundo de obrigações e chatices” que associamos às nossas vidas após as férias, o regresso pode ser o voltar à vida que escolhemos e que ao longo do resto do ano nos preenche e alimenta. Planeie o que fazer e como fazer, utilizando como critérios a importância e a urgência. Lembre-se, ter foco, é saber dizer não.

4-Tenha bom senso

Não seja rígido e inflexível consigo, minimize. A provável ânsia de tentar colocar tudo em ordem, responder as todas as solicitações pendentes e sentir-se 100 % operacional é tentadora.  Não queira ser “super-herói” e colocar-se num patamar de expectativas não realizáveis, só vai aumentar a ansiedade e gerar frustração. Seja lento. Permita-se ficar distraído, mas não perca o foco.

5-Seja empático

O regresso é complexo e difícil para todos, afinal estamos perante uma mudança. Esteja atento aos que o rodeiam. Aceite o ponto de vista dos outros, respeite o seu ritmo e valorize as diferenças. Cultive a cultura da empatia, colocando-se várias vezes no lugar do outro, vai perceber que tudo será muito mais harmonioso.  Lembre-se, antes de falar ou fazer algo, coloque-se no lugar de quem vai escutar ou observar.

6-Socialize

O ser humano é um ser social. Como ser social que é, o ser humano quer viver em grupo e estar integrado numa sociedade. Precisa de ter amigos para conversar, necessita de um ombro amigo, de um sorriso, de um olhar, de conversas amenas para passar o tempo. Precisa de sentir pertença, e isso só é possível através do contato e da interação social. Neste retorno ao seu local trabalho e, consequentemente, à partilha de espaço e de tempo com os seus colegas, não hesite em interagir.  Mostre interesse em saber como foram as férias daqueles que o rodeiam, conte um pouco das peripécias que viveu, reforce e reative o espírito de equipa e sentimento de pertença.  Aproveite as pausas, são vitais para este tema, mas também para permitir que o seu cérebro recupere um pouco do esforço efetuado, dando-lhe tranquilidade e foco. Lembre-se a socialização nunca pode deixar de existir pois confere ao ser humano sentido e propósito de vida.

7-Pratique a Gratidão

O trabalho perfeito não existe, tal como não existem pessoas perfeitas, nem casas perfeitas, nem situações perfeitas, diria que a perfeição é um mito.  Existe sim, o trabalho para o momento que a pessoa está a viver. Expressar gratidão pelo que possui, vai ajudar a encarar com entusiamo o regresso. Valorize o presente. Antes de querer o que quer que seja, valorize e aproveite genuinamente o que tem.

8-Não seja saudosista

Não encare férias e trabalho num binómio de tudo ou nada, pode e deve existir um meio termo e equilíbrio. O contexto de lazer, prazer e relaxamento não terminaram. Existem fim de semanas, folgas e momentos do dia em que não trabalha. Não os desperdice e encha-os com aquilo que mais gosta. Foque-se no presente e evite ser um eterno saudosista.  Foque-se no presente e evite ser um eterno saudosista. Apesar de tentador e altamente frequente confortarmo-nos em pensamentos como “adorava estar agora na praia com os meus amigos” ou “quem me dera estar agora de férias”, em nada o vão ajudar. Muito pelo contrário, vão toldar o seu raciocínio e foco. Evite estes pensamentos e foque-se em tentar ser feliz naquilo que realiza diariamente.  Preste atenção ao presente, se realmente quer ver! Lembre-se não se foque no passado, pois não estamos a ir para lá…

9- Esteja atento às suas emoções

Não tenha receio, ou vergonha de exprimir o que está a sentir. É importante não reprimir a ansiedade, mas aceitá-la e tentar perceber a sua origem, para assim a gerir.  Ao desenvolver uma postura de aceitação em relação às emoções não amplia e maximiza acontecimentos e as emoções dissipam-se mais rapidamente. Meça diariamente a sua temperatura emocional!

Por fim, aceite que não pode controlar tudo, admita a sua vulnerabilidade e divirta-se nesta nova etapa. Lembre-se que nada é permanente exceto a mudança. E esta é só mais uma, de muitas que terá a sua vida…

Descomplique…