Até que ponto são perigosas as infeções da creche? É uma fase inevitável? Essas infeções ajudam a estimular o sistema imunitário? Pode fazer-se algo para ajudar as crianças?

Colocar as crianças pequenas num infantário ou creche começou por ser uma solução desesperada, à qual tiveram de recorrer as mães trabalhadoras que não contavam com a ajuda de familiares. Rapidamente, no entanto, descobriram-se aspetos positivos: as crianças tornavam-se mais sociáveis, aprendiam a partilhar, tinham mais possibilidades de estar entretidas e a disciplina coletiva ajudava-as a corrigir comportamentos caprichosos.

No lado negativo, está o facto comprovado de que as crianças que frequentam um infantário sofrem infeções com muito maior frequência. Processos febris repetidos, mucosidade, tosse, otites, bronquite, diarreia, entre outros, levam-nas a consumir grande quantidade de medicamentos, muitas vezes, sem melhoria apreciável.

Luta contra os germes

Os germes que provocam as infeções encontram-se no ambiente que nos rodeia: no ar, na água, nos alimentos, nos animais e plantas e, sobretudo, em pessoas doentes ou, simplesmente, portadoras – pessoas saudáveis que transmitem os germes, sem sofrerem a infeção.

O organismo das crianças, tal como o dos adultos, tem barreiras para impedir que estes germes penetrem no corpo: por um lado, a pele; e, por outro, a camada mucosa que reveste o tubo digestivo e as vias respiratórias. Em ambas as “muralhas”, há outros elementos adicionais, que dificultam a sua entrada: o muco produzido pelas mucosas, que “prende” os germes, facilitando o seu arrastamento posterior; os pelos à entrada dos orifícios; ou as secreções especiais, que os neutralizam.

Se os germes ultrapassam esta barreira defensiva, o organismo desencadeia outro mecanismo de defesa interno, o sistema imunitário, que é formado, basicamente, por umas células que circulam no sangue, os leucócitos, e uma rede de gânglios, repartida por todo o corpo.

Reação imunológica

Quando um germe penetra, pela primeira vez, no organismo da criança, os leucócitos detetam-no e identificam-no como um agente estranho e potencialmente perigoso. A partir daí, produz-se uma reação, com dois objetivos: procurar isolar os germes, evitando que se disseminem por todo o organismo; e desenvolver substâncias específicas – as imunoglobulinas – para conseguir anulá-los. Boa parte do trabalho dos leucócitos é levada a cabo nos gânglios próximos do local onde se produz a entrada dos germes. Assim, por exemplo, se os germes entraram pela mucosa da boca, os leucócitos tentarão localizar a infeção nos gânglios situados no pescoço ou por baixo da mandíbula.

A atividade dos gânglios nota-se facilmente, porque aumentam de tamanho e ficam doridos. Nas crianças, é muito chamativa a inflamação dos gânglios do pescoço, que se notam como nódulos arredondados de ambos os lados do pescoço e debaixo da mandíbula. A entrada em marcha do sistema imunitário provoca febre, mal-estar e, consoante a zona pela qual entrou o gérmen, aumento da produção de muco, congestão ou formação de secreções purulentas. Estes sintomas refletem que o sistema imunitário funciona corretamente e que o organismo está a defender-se.

A duração desta batalha entre os germes invasores e o sistema de defesa do organismo pode variar desde horas até dias, em função do número de germes que penetrou no corpo, da sua agressividade e da capacidade de resposta do organismo.

infeções controladas

As vacinas pretendem provocar a mesma reação imunológica que ocorre após uma infeção, mas evitando o risco de se produzir a doença. Através de uma injeção, introduzem-se no organismo germes debilitados ou mortos, que são capazes de estimular a formação de imunoglobulinas, mas que não têm a capacidade de infetar. Por isso, é habitual que a administração de vacinas provoque sintomas gerais leves, com febre baixa, irritabilidade ou ligeiro mal-estar. A intensidade da reação à vacina é variável de criança para criança.

 

Covid-19: afinal, quais são os riscos?

Falando de covid-19, já será seguro enviar as crianças para a creche? Este ainda é um dilema de milhares de pais, atualmente.

Desde o início da pandemia que temos ouvido especialistas de todo o mundo, baseados em evidência que vai sendo produzida com grande rapidez, a descansar-nos quanto à gravidade daquela doença nos mais novos. Com efeito, a maior parte das crianças com infeção não apresenta sintomas ou desenvolve apenas doença ligeira.

Ainda assim, há casos a merecer cuidados especiais e em relação aos quais é preciso estarmos atentos, designadamente em crianças com doenças respiratórias graves, doenças cardíacas ou renais ou, ainda, algum tipo de deficiência do sistema imunitário.

As creches sempre foram fontes de infeção. A redução do número de crianças por sala pode ter efeitos positivos na limitação das infeções, qualquer que seja o germe causador. Também a limitação dos brinquedos por cada criança e a desinfeção regular dos mesmos é uma forma de tentar tornar a vida na creche mais segura, mas é impensável torná-la assética, pois é impossível restringir o contacto entre crianças pequenas, que querem mexer em tudo.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2022 (nº 332)