A DESNUTRIÇÃO ASSOCIADA A DOENÇA CARACTERIZA-SE PELA IMPOSSIBILIDADE EM ATINGIR AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS ATRAVÉS DA ALIMENTAÇÃO HABITUAL DIÁRIA, E RESULTA NA PERDA DE PESO NÃO PROGRAMADA, ESPECIALMENTE PERDA DE MASSA MUSCULAR.
A desnutrição está associada a um pior resultado no desenvolvimento da doença ou no seu tratamento, ao declínio cognitivo e comprometimento do sistema imunitário, a perda de força muscular, aumento do risco de quedas, perda de mobilidade e, consequentemente, perda de autonomia e independência.
Os idosos são um grupo de risco para o desenvolvimento de desnutrição, uma vez que as alterações no metabolismo, associadas ao processo de envelhecimento, tornam-no mais suscetível ao desenvolvimento de desequilíbrios nutricionais. Os números são reveladores, estimando-se que 1 em cada 3 idosos no domicílio se encontre em risco nutricional.
CAUSAS DE DESNUTRIÇÃO
As causas de desnutrição são diversas, relacionando-se principalmente com fatores psicossociais, como a solidão e o isolamento, a depressão e a pobreza, com fatores fisiológicos, como as alterações naturais do envelhecimento do trato gastrointestinal, alteração do paladar e olfato e falta de dentição, e com fatores clínicos, como a polimedicação e a presença de doenças crónicas. Todos estes fatores, isolados ou em conjunto, podem levar à perda de apetite, que se traduz na diminuição da ingestão alimentar.
A alimentação no idoso deverá ser completa, variada e equilibrada, pelo que se recomenda a inclusão dos diferentes grupos alimentares na dieta. O plano nutricional deverá ser elaborado de acordo com as necessidades nutricionais, que são diferentes das do adulto, e tendo em consideração as preferências alimentares do indivíduo.
Igualmente importante é realizar exercício físico, adaptado caso necessário, beber pelo menos 1,5 litros de água e não ficar mais de duas a três horas sem comer, não excedendo as oito horas de jejum noturno. Dietas restritivas devem ser evitadas, de modo a prevenir estados de desnutrição e o declínio funcional associado.
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
As necessidades nutricionais devem ser calculadas individualmente, tendo em conta, entre outros, o estado nutricional, o nível de atividade física e a condição de saúde.
Se para um adulto saudável recomenda-se a ingestão de 0,8 a 1 g de proteína/kg de peso por dia, para um idoso recomenda-se a ingestão de 1 a 1,2 g de proteína/kg de peso por dia, o que significa que o idoso necessita de um aporte de proteína superior a um adulto.
Na presença de malnutrição ou risco de malnutrição, as necessidades proteicas no idoso sobem para 1,2 a 1,5g de proteína/kg de peso por dia. O aumento destas necessidades deve-se à diminuição da massa muscular, à presença de doenças crónicas e às alterações do metabolismo específicas do envelhecimento.
No entanto, apesar de existir um aumento nas necessidades, sabe-se que o idoso ingere diariamente menos proteínas que um adulto. O aporte proteico inferior às necessidades origina diminuição na força e função muscular, o que aumenta o risco de quedas e diminui a mobilidade, que está diretamente associada à manutenção da qualidade de vida.
NUTRIÇÃO ENTÉRICA
A nutrição clínica, no caso específico da nutrição entérica, consiste em soluções nutricionais indicadas para a terapêutica nutricional de casos de desnutrição associada a doença. Destina-se a uma alimentação especial com fins medicinais específicos, com o objetivo de satisfazer as necessidades nutricionais de quem não as consegue alcançar apenas com a alimentação habitual.
A suplementação nutricional oral é recomendada como complemento da alimentação para situações em que não seja possível atingir as necessidades nutricionais somente com a alimentação habitual, mesmo após adequação alimentar. Tem como objetivos atingir as necessidades nutricionais diárias e melhoria do peso corporal, levando à redução do risco de complicações, como o desenvolvimento de úlceras de pressão, e readmissões hospitalares.
Para casos específicos, como na presença de diabetes, disfagia, doença renal, doença hepática entre outros, existem suplementos nutricionais orais específicos para colmatar as necessidades nutricionais igualmente específicas destas condições. Outro exemplo, são idosos com fratura da anca, que no pós-operatório beneficiam da ingestão de suplementos nutricionais orais para melhorar a ingestão alimentar e reduzir o risco de complicações.
A terapêutica nutricional recomendada a idosos desnutridos ou em risco nutricional deve fornecer pelo menos 400 kcal por dia e um teor de proteína igual ou superior a 30 de proteína por dia.
ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL
O aconselhamento nutricional detalhado, ao doente e familiares/cuidadores, é fundamental para assegurar a ingestão nutricional adequada e a adesão aos suplementos nutricionais. É necessário explicar razões para a toma, os benefícios da suplementação nutricional, que existem diferentes sabores disponíveis e apresentações (líquidos, pudim, em pó), e o modo de utilização (ex.: entre as refeições, introduzir a suplementação de forma progressiva, sabor melhorado quando tomado frio, agitar antes de abrir).
A juntar às necessidades nutricionais específicas para cada patologia há que ter em conta que cada indivíduo experiencia diferentes sintomas e tem diferentes preferências alimentares, pelo que a adequação nutricional terá sempre de ser individualizada e monitorizada frequentemente. No caso da suplementação nutricional há que ter em conta a variedade de sabores e consistências disponíveis, para garantir durante todo o tratamento uma correta adesão à terapêutica nutricional.
A manutenção de um estado nutricional adequado é fundamental para a saúde e bem-estar dos idosos, e tem um grande impacto no processo de envelhecimento. É importante estar atento aos diferentes fatores que promovem a depleção do estado nutricional do idoso e atuar precocemente.
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