A dermatite atópica pode ir muito além do prurido, da vermelhidão, da descamação, das escoriações, das fissuras e crostas. Esta é também uma doença com efeitos invisíveis nas pessoas que vivem todos os dias com ela.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. João Maia Silva, médico dermatologista e membro da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia

 

Por vezes referida como eczema, a dermatite atópica (DA) é uma doença caracterizada por prurido intenso e vermelhidão da pele. A DA é uma doença crónica, mais frequente na infância, na maioria dos casos autolimitada até à adolescência, mas que pode prolongar-se para a idade adulta.

Porém, a dermatite atópica pode ir muito além do prurido, da vermelhidão, da descamação, das escoriações, das fissuras e crostas. Esta é também uma doença com efeitos invisíveis nas pessoas que vivem todos os dias com ela, efeitos esses como a perturbação do sono, depressão, frustração e ansiedade.

Dados europeus indicam que existem cerca de 440.000 pessoas em Portugal com DA, das quais 46% apresentam formas mais graves da doença.

Causas e Consequências

A DA é uma doença multifatorial complexa, cujos mecanismos ainda estão por esclarecer. Tem na sua origem fatores genéticos, a hiperreatividade do sistema imunitário e a deficiência da função de barreira da pele. A importância relativa de cada um destes fatores vai determinar diferentes aspetos e gravidade das lesões.

Viver com DA pode significar viver com comichão e irritação constantes. A pele inflamada com manchas vermelhas, descamativas e ásperas é, muitas vezes, uma constante visível na doença.

A DA está associada a outras doenças, entre as quais, rinite alérgica, asma, conjuntivite alérgica, alergias alimentares, polipose nasal e complicações cardiovasculares, que afetam a saúde e qualidade de vida do doente.

A par das manifestações físicas descritas, salienta-se o forte impacto da DA na qualidade de vida dos doentes e na sociedade. Alguns dos efeitos associados a esta doença, como a privação de sono, ansiedade e défice de atenção, originados pelo constante prurido, conduzem, em média, a um défice de 25% da produtividade, com impacto no desempenho escolar e profissional.

Segundo um estudo português desenvolvido pela NOVA IMS/Sociedade Portuguesa de Dermatologia, em colaboração com a Associação Portuguesa de Doentes com Dermatite Atópica, aproximadamente metade dos doentes que sofrem desta doença tem dificuldade em dormir três ou mais noites por mês. O mesmo estudo mostrou que cerca de 16% dos doentes referem uma redução do seu estado de saúde superior a 50 por cento.

A DA é ainda sinónimo de um grande esforço financeiro para os doentes, famílias, sistema de saúde e sociedade. À medida que a gravidade da doença evolui de forma negativa, os custos aumentam. O estudo realizado pela NOVA IMS/Sociedade Portuguesa de Dermatologia mostrou que, em média, cada doente gasta 1818 euros por ano devido à sua doença.
A DA tem um impacto geral na economia de 1477 milhões de euros. O SNS suporta 31% destes custos, ficando os restantes 69% ao encargo dos doentes.

Tipos de Tratamento

O diagnóstico desta doença é essencialmente clínico. Em média, o tempo entre os primeiros sintomas e a confirmação do diagnóstico é de dois anos. Para melhorar, será importante promover o “awareness” para a doença nos diferentes profissionais de saúde e agilizar a referenciação dos doentes para a Consulta de Dermatologia.

Os tratamentos utilizados devem ser mantidos no tempo e ajustados à gravidade da doença. Variam entre a promoção da barreira cutânea com hidratantes e a utilização de produtos de higiene sem sabão, a aplicação de cremes com corticosteroides ou outros imunomoduladores, até às terapêuticas orais com imunossupressores.

Recentemente, surgiram tratamentos biológicos inovadores que, pela sua eficácia e segurança, vieram modificar a evolução da dermatite atópica.

A mensagem final é de esperança! Apesar de ainda existir um longo caminho a percorrer na descoberta das verdadeiras causas desta doença, importa sublinhar que a ciência evoluiu ao ponto de definirem as vias moleculares implicadas e encontrarem tratamentos biológicos seletivos, seguros e eficazes. O alívio das manifestações cutâneas da dermatite atópica, assim como a melhor qualidade de vida dos doentes, continuará a ser a grande prioridade, estando a tornar-se cada vez mais próximo.

Leia o artigo completo na edição de março 2021 (nº 314)