As doenças associadas a diarreia continuam a representar um importante problema de saúde pública, correspondendo uma das 5 causas major de morte a nível mundial.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Marta Gravito Soares, gastrenterologista, vogal da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia

 

A diarreia aguda carateriza-se pela presença de três ou mais dejeções por dia e/ou urgência ou incontinência fecal ou alteração da consistência das fezes (moles, líquidas ou aquosas), geralmente por um período de tempo não superior a 14 dias. Embora possa ocorrer em todas as idades, a diarreia aguda é especialmente frequente nos extremos etários: crianças e idosos.

Existem padrões sazonais distintos para a ocorrência da diarreia em muitas áreas geográficas. Nos climas temperados, como o nosso, a diarreia aguda é 15% mais frequente no verão, sendo, por isso, usualmente denominada de diarreia sazonal ou de verão.

As causas

As diarreias de verão são, essencialmente, de natureza infecciosa, podendo ocorrer devido a dois fatores preponderantes: a ingestão de alimentos e/ou água contaminados e o tempo quente.

Diversos vírus, bactérias e parasitas provenientes dos alimentos e água ou já presentes no intestino humano podem desencadear diarreia. A via de propagação mais comum destes microrganismos é a fecal-oral, pela ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes e/ou contacto direto com fezes infetadas.

Alguns microrganismos produzem toxinas, como a Escherichia coli ou a Vibrio cholerae, que lesionam as células intestinais, estimulando a secreção de água e eletrólitos, o que desencadeia a diarreia.

A diarreia bacteriana está mais associada à estação quente, enquanto que a diarreia viral, particularmente a causada pelo rotavírus, atinge o seu pico durante os meses mais secos e frios. No entanto, muitos destes microrganismos são incapazes de desencadear doença até a imunidade do indivíduo estar comprometida por vários fatores, incluindo o calor ou humidade prolongados.

As altas temperaturas durante o Verão podem ainda acelerar a deterioração dos alimentos e bebidas, sobretudo se mal armazenados, favorecendo o aparecimento e multiplicação rápida destes microrganismos, principalmente as bactérias.

Casos mais graves

O bem-estar intestinal é um fator preponderante para diminuir a ocorrência e gravidade da diarreia. O intestino é composto por milhões de microrganismos, a denominada microbiota intestinal. A manutenção do número e diversidade destes microrganismos permite o equilíbrio entre estes e o nosso organismo, de forma a assegurar a saúde digestiva.

A maioria destas diarreias são autolimitadas, com duração de cerca de 3 a 7 dias. No entanto, ocasionalmente, podem ser graves o suficiente para colocarem em risco a vida do indivíduo.

Para além da diarreia, é comum a existência de sintomatologia associada, incluindo náuseas ou vómitos, mal-estar geral, dor abdominal, perda de apetite e febre. A perda de fluidos corporais e água pela diarreia e/ou vómitos, se não for adequadamente corrigida, poderá ainda desencadear sinais de desidratação, como a boca e pele secas, fadiga, tonturas, sede excessiva e diminuição da quantidade de urina eliminada.

Geralmente, não é necessário realizar qualquer estudo etiológico. Estudos adicionais para excluir causas infecciosas e não infecciosas são apenas justificados se ocorrer agravamento ou persistência da diarreia.

Leia o artigo completo na edição de julho/agosto 2021 (nº 318)