De que trata a saúde mental? Geralmente, as pessoas pensam nela como a ausência de doença mental; no entanto, a saúde mental é muito mais abrangente, não se limitando à ausência de sintomas psicopatológicos.

 

Neurociencias 2autorArtigo da responsabilidade da Dra. Cláudia Madeira Pereira, Psicóloga Clínica e da Saúde; www.claudiamadeirapereira.com

 

Ter saúde mental significa ter determinadas capacidades e recursos que nos permitem viver bem o dia-a-dia e enfrentar as adversidades da vida, como ser capaz de: desempenhar as tarefas pessoais, familiares, escolares/académicas, profissionais e outras; estabelecer relações afetivas saudáveis; enfrentar dificuldades e resolver problemas; tomar decisões; reconhecer e regular emoções; responder às situações de forma adaptativa; realizar o potencial intelectual e emocional do próprio; etc.

Sabemos hoje que o corpo e a mente estão interligados e influenciam-se mutuamente. Assim como a saúde física pode exercer uma influência significativa sobre a nossa saúde mental e psicológica, a saúde mental e os fatores psicológicos (como pensamentos, sentimentos e comportamentos) exercem um forte impacto sobre a nossa saúde física.

 

Sabia que…?

A saúde psicológica debilitada desempenha um papel importante na diminuição do funcionamento imunitário, no desenvolvimento de certas doenças e na morte prematura.

 

PERTURBAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS

As perturbações psicopatológicas podem afetar qualquer pessoa, independentemente do seu género, idade, nacionalidade, cultura, religião, escolaridade, estatuto socioeconómico, etc… e podem causar sofrimento tanto às famílias e comunidades, quanto às próprias pessoas.

Sabemos hoje que, na maioria dos casos, as perturbações psicopatológicas podem ser diagnosticadas e tratadas de forma eficaz. Porém, estamos ainda longe de atribuir à saúde psicológica a mesma importância dada à saúde física. Em grande parte por isso, existe um crescente número de pessoas com problemas de saúde mental. Estima-se que 30 em cada 100 pessoas sofram, ou venham a sofrer, de problemas de saúde mental e que cerca de 12 tenham uma doença mental grave, sendo a depressão a mais frequente.

Embora cerca de 450 milhões de pessoas sofram de perturbações mentais ou comportamentais, apenas uma pequena minoria procura tratamento. Como resultado disto, as perturbações mentais estão já entre as principais causas de incapacidade em todo o mundo, representando um elevado custo, não só em termos económicos, mas também em termos de sofrimento humano e qualidade de vida diminuída.

FÁRMACOS OU INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA?

Existe um crescente uso dos psicofármacos; contudo, e apesar do seu contributo para a saúde mental, não constituem a única opção no tratamento das perturbações psicológicas, existindo outras intervenções muito vantajosas. Os fármacos são úteis para o tratamento dos sintomas da doença mental, mas, se o objetivo terapêutico é mais amplo e consiste em promover a melhoria da saúde e do bem-estar psicológicos – através do desenvolvimento de capacidades e recursos que permitam à pessoa, ela própria, ser capaz de agir autonomamente para melhorar a sua saúde e o seu bem-estar –, então é importante investir na intervenção psicológica.

Ao longo dos anos da nossa prática clínica, nós psicólogos, temos comprovado que o sucesso da intervenção terapêutica é maior e mais duradouro quando o objetivo terapêutico consiste em dotar as pessoas de maiores competências e recursos psicológicos para enfrentarem as suas dificuldades e problemas (internos e externos).

De acordo com esta perspetiva, as pessoas que não têm sintomatologia psiquiátrica ou doença mental podem, também elas, beneficiar de ajuda psicológica especializada para lidarem melhor com as suas dificuldades. Assim, as pessoas ditas “normais” (entenda-se, sem sintomas) podem melhorar a sua saúde e o seu bem-estar psicológico e, consequentemente, ver aumentada a sua qualidade de vida.

 

Sabia que…?

Uma em cada cinco pessoas sofre com problemas em que o psicólogo pode ajudar. Todos nós, por diferentes motivos e em algum momento das nossas vidas, podemos beneficiar da ajuda de um psicólogo.

 

 

Family TherapyDESTAQUE

A ajuda do psicólogo pode ser benéfica em caso de…

  • Insatisfação com a vida pessoal, familiar, profissional, social ou outro;
  • Tristeza, angústia e/ou irritabilidade persistentes;
  • Depressão ou outros problemas de humor (ex., doença bipolar);
  • Problemas de ansiedade;
  • Medos, fobias e/ou pânico;
  • Problemas de comportamento (ex., passividade, agressividade, comportamento violento);
  • Dificuldade em estabelecer e/ou manter relacionamentos interpessoais (por ex., relações conjugais, familiares, sociais, de trabalho ou outras);
  • Diminuição do rendimento académico e/ou profissional;
  • Dificuldade em lidar com o stress diário;
  • Problemas decorrentes de acontecimentos traumáticos;
  • Problemas de autoestima e/ou autoconfiança;
  • Problemas de comportamento alimentar (por ex., anorexia, bulimia, ingestão alimentar compulsiva, síndrome do comer noturno, excesso de peso, obesidade ou outro);
  • Problemas relacionados com a perceção da imagem corporal (por ex., dismorfia corporal, insatisfação corporal);
  • Problemas sexuais;
  • Problemas do sono (por ex., insónia, hipersónia ou outro);
  • Pensamentos obsessivos acompanhados, ou não, de comportamentos repetitivos e compulsivos que provocam mal-estar psicológico;
  • Problemas em lidar com a doença de um familiar ou do próprio;
  • Sintomas físicos (por ex., cefaleias, tonturas, taquicardia, sudorese, diminuição da libido, diminuição/aumento do apetite, etc.) associados a stress, ansiedade ou outro;
  • Problemas decorrentes de separação, divórcio, luto, desemprego, ou outro tipo de perda;
  • Pensamentos ou comportamentos autodestrutivos (por ex., automutilações) ou suicidas;
  • n Se pretende desenvolver o seu autoconhecimento (conhecer-se melhor a si próprio/a), desenvolver mais aspetos da sua personalidade ou adquirir novas competências pessoais (por ex., comunicacionais, de relacionamento interpessoal, autocontrolo, etc.);
  • Se o seu filho demonstra qualquer um dos sinais ou sintomas descritos anteriormente;
  • Se o seu filho apresenta atrasos no desenvolvimento (por ex., motricidade grossa/fina, controlo dos esfíncteres, linguagem, leitura, escrita, etc.);
  • Se o seu filho apresenta problemas em lidar com situações novas ou de mudança (ex., nascimento de um irmão, mudança de casa/escola, etc.);
  • Se o seu filho apresenta problemas de comportamento (por ex., birras, comportamentos de oposição, agressividade, hiperatividade);
  • Se o seu filho é vítima de bullying;
  • Se o seu filho faz xixi na cama frequentemente (enurese noturna);
  • Se o seu filho apresenta problemas de aprendizagem ou escolares (por ex., problemas de atenção e/ou concentração, dislexia, fobia escolar, absentismo escolar, etc.).

 

 

Recomendações

Tal como podemos tomar alguns cuidados para preservar a nossa saúde física, podemos também tomar algumas medidas para cuidar da nossa saúde mental e psicológica.

TENHA UMA VIDA EQUILIBRADA. Mantenha níveis baixos de stress, crie um equilíbrio entre as atividades profissionais e de lazer, estabeleça relacionamentos familiares e sociais estáveis, respeite os seus ritmos de sono/vigília, assim como os seus limites físicos e psicológicos individuais.

MANTENHA UM ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL. A alimentação saudável e o exercício físico fazem bem ao corpo e à mente! Procure também evitar (ou diminuir) o consumo de álcool e tabaco.

DIVERSIFIQUE OS SEUS INTERESSES. Explore novas e diferentes atividades do seu interesse. Mantenha-se física e intelectualmente ativo/a, todos os dias.

PROMOVA O SEU AUTOCONHECIMENTO. Procure desenvolver o seu autoconhecimento para aumentar as suas capacidades e recursos psicológicos, como a capacidade de reconhecer e lidar com as suas emoções, de resolver eventuais conflitos internos, lidar com as dificuldades/problemas da vida diária, realizar o seu potencial e melhorar a sua qualidade de vida. Para isto, poderá necessitar da ajuda de um psicólogo.

PROCURE AJUDA PSICOLÓGICA ESPECIALIZADA. Em caso de sinais ou sintomas psicológicos, intensos e persistentes, não hesite em procurar a ajuda de um psicólogo.

 

Artigo publicado na Edição de Outubro 2015 (nº 254)