Apesar de estarem quase sempre ocultos, os comportamentos autolesivos são bastante prevalentes na nossa realidade. Atualmente, resultado da pandemia, verifica-se um gradual aumento destes comportamentos em crianças e jovens.
Artigo da responsabilidade da Dra. Tânia Daniela Carvalho. Psicóloga Clínica
Trata-se de um tema que merece especial atenção, visto que pode apresentar-se bastante prejudicial para a criança ou jovem mediante a evolução e gravidade da situação.
Alguns adolescentes com este padrão de comportamento, mais tarde, poderão vir a desenvolver perturbações de personalidade ou outros problemas de saúde mental, como a perturbação de ansiedade, a depressão ou outras.
É extremamente relevante atuar o mais precocemente possível procurando prevenir uma evolução negativa.
O que são comportamentos autolesivos?
São comportamentos intencionais efetuados pela criança ou jovem, provocando danos no seu próprio corpo com o objetivo de reduzir o sofrimento interior sentido. Geralmente, os comportamentos autolesivos não apresentam intencionalidade suicida, apesar de envolverem atos lesivos praticados com intencionalidade. No entanto, deverá ser sempre avaliada a existência ou não de ideação suicida. De entre esses comportamentos, podemos salientar como mais frequentes: o morder, o bater, o queimar ou os cortes em superfícies corporais e a ingestão de fármacos em doses acima do recomendado.
O que está por detrás do comportamento autolesivo?
Frequentemente, jovens em consulta descrevem-me aquilo que sentem como um autocastigo para aliviar o vazio emocional e a dor por que estão a passar. Procuram aliviar o seu sofrimento psicológico e emocional através da dor física. Ou seja, ao fazer um corte com uma lâmina, o que acontece, é que o jovem naquele momento, procura sobretudo algo que o ajude a pensar em outra coisa que não o seu sofrimento interior. Assim, enquanto está focado na dor física provocada pelo corte, sente uma espécie de anestesia, um alivio relativamente à sua dor emocional. É importante referir que o jovem naquele momento, não consegue encontrar um outro recurso para lidar com a situação.
Inerente a este tipo de comportamento, encontramos com frequência, dificuldades em regular o seu humor, dificuldades no controlo de impulsos, dificuldade em expressar sentimentos (especialmente a raiva), dificuldades ao nível do relacionamento interpessoal e na resolução de problemas.
De que forma é que pais e cuidadores poderão ajudar a criança ou jovem?
Para ajudar, é especialmente importante sensibilizar os pais para a dor emocional e o sofrimento intenso que os seus filhos estão a sentir, bem como, para o facto de não estarem a conseguir encontrar uma solução para ultrapassar a situação.
“Estar com o seu filho na dor” é especialmente importante. Ao invés de lhe perguntar algo, procure simplesmente abraçá-lo e confortá-lo neste momento delicado e difícil.
Pais ou cuidadores deverão supervisionar os seus filhos, tendo presente que quanto menor a idade, maior o cuidado e a atenção que deverão ter.
Aumentar o conhecimento acerca deste tema poderá ajudar pais e cuidadores a sentirem-se mais seguros e sobretudo, a agirem atempadamente no sentido de evitar riscos futuros.
Promoverem a coesão e a harmonia familiar podem ser aspetos relevantes a trabalharem juntos e em família.
A promoção do exercício físico de alto impacto, que exige mais força para ser executado, é no meu entender, uma ótima ajuda para a criança ou jovem. Tem como modalidades, a corrida, a corda, o ténis, o squash, o padel entre muitas outras, que poderão escolher em conjunto.
Por fim e não menos importante, poderá sempre que lhe fizer sentido procurar um profissional habilitado para o ajudar nesta caminhada.
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