NUNCA NENHUMA CONSULTA CAUSOU TANTA POLÉMICA, GEROU TANTA INSEGURANÇA, CAUSOU TANTA ANSIEDADE E ORIGINOU TANTOS MAL-ENTENDIDOS COMO A DE PSICOLOGIA.

 

Artigo da responsabilidade da Dra Vera de Melo, Psicóloga Clínica

 

São vários os mitos que ainda existem, a confusão do psicólogo com o amigo ainda reina.  Mas, o psicólogo não é um amigo, o psicólogo, ao contrário do amigo, ouve e acolhe o sofrimento do outro, mas com uma intervenção técnica, e tem o dever ético de procurar respostas credíveis alinhadas com a ciência. Muitas vezes, o psicólogo ainda é comparado a um padre, mas para o psicólogo não há certos nem errados, não há um modelo a seguir e nunca se fazem juízos de valor. Também existe o mito de que o psicólogo é um médico, mas tal não corresponde à realidade. O psicólogo não tem “compridos, nem pós mágicos” que eliminariam todo o sofrimento. Não há “varinhas de condão” e nem, magicamente, numa consulta se “muda tudo”.

Através de um plano terapêutico, alicerçado em avaliação psicológica, o psicólogo ajudará a compreender as causas do sofrimento e como ultrapassá-lo. O tabu, efetivamente, ainda reina e as pessoas muitas dúvidas ainda têm sobre quando recorrer e se o devem mesmo fazer, se no final será a escolha certa.

CRENÇAS E MAIS CRENÇAS

Medo de sofrer, receio de descobrir algo sobre si, vergonha e sentimento de fracasso são algumas das crenças erradas que impedem as pessoas de recorrer a uma consulta de Psicologia.  Difunde-se ainda a ideia de que a consulta de Psicologia parece “uma conversa de café”, dado que o psicólogo só fala. Um mito evidente, dado que a Psicologia é uma ciência e cabe ao profissional a responsabilidade e o compromisso de, usando diferentes técnicas e metodologias, encontrar a resposta mais adequada à minimização do sofrimento do paciente.

Outra ideia errada é a de que o psicólogo é “querido e bonzinho”, alguém que escuta e “dá palmadinhas nas costas”.  Ora, o psicólogo não é bom nem mau, não julga, aceita o que o paciente é e traz para consulta, suporta e apoia o processo de mudança do paciente.

Por tudo isto, recorrer a uma consulta de psicologia não é algo consensual. Para uns é uma necessidade, para outros uma “moda” e, infelizmente, para alguns é considerado algo estranho, que só se aplica a terceiros, a quem ainda apelidam de “malucos”, ou ainda para outras pessoas uma extrema fraqueza. Tudo visões estereotipadas e preconceituadas de uma consulta que pode aumentar substancialmente a qualidade de vida de um indivíduo e dos que o rodeiam.

Certo é que, anteriormente, era pouco usual ir a uma consulta de Psicologia e as pessoas viviam, o que pode levar a equacionar qual a necessidade de, nos nossos dias, qualquer um de nós recorrer a esta consulta. Sabemos agora que, provavelmente, muitas pessoas, à semelhança do que ocorre hoje, sobreviviam em vez de viver.

CONFLITOS PSICOLÓGICOS POR SOLUCIONAR

Mitos ultrapassados, fica a dúvida: quando recorrer? A resposta parece fácil: quando o indivíduo tiver consciência de que possui um conflito psicológico que não consegue solucionar por si e percebe que este sofrimento está a afetar a sua qualidade de vida.

Deixo algumas sugestões:

  • Se estiver A PASSAR POR UMA GRANDE MUDANÇA e der sinais físicos e psicológicos de que não está a lidar bem com a mesma. Esta mudança pode ser uma nova função, o início de uma nova família, a morte de um familiar ou a mudança para uma nova cidade. Mudanças são sempre desafiantes e é natural serem geradoras de ansiedade. Nem sempre temos recursos para lidar com as mudanças de forma natural e sem constrangimentos. Se perceber que algo não está bem, que de repente surgem dores de cabeça ou indisposições repentinas, o melhor é ir a uma consulta de Psicologia.
  • Quando DEIXA DE FAZER COISAS que habitualmente lhe traziam alegria/satisfação. A perda de motivação pode ser um sinal de que alguma coisa está errada. Perceba se é um padrão de comportamento, ou seja, se coisas que habitualmente lhe geravam alegria/satisfação não geram mais. Aí é melhor ir a uma consulta.
  • Quando percebe que É UMA “BOMBA-RELÓGIO” prestes a explodir. Se sente que, ultimamente, revela uma elevada incapacidade para gerir os seus sentimentos, pensamentos e/ou comportamentos, provavelmente, é um bom motivo para consultar um psicólogo.
  • Outro indício para recomendar a ida a uma consulta de psicologia surge quando começa a estranhar a INTENSIDADE DAS SUAS REAÇÕES. Se não percebe bem o que lhe está a acontecer e hipervaloriza e intensifica todas as situações, como se, de repente, tudo fosse um drama.
  • Se se sente, na maioria do tempo, INERTE E SEM VONTADE PARA FAZER NADA. Ter esta sensação ocasionalmente é natural, somos seres humanos. Agora, se nada parece tirá-lo deste estado, isso pode ser preocupante.
  • Se tiver um MEDO INEXPLICÁVEL DE TUDO, como se tudo se transformasse em algo penoso, um medo de realizar uma determinada tarefa que antes fazia com a maior naturalidade, também aí deve recorrer à Psicologia.
  • Ir a uma consulta de Psicologia pode ainda ser a melhor solução quando todos os dias tem uma QUEIXA DE UMA NOVA DOR FÍSICA. Definitivamente, o corpo fala – não se esqueça – e as questões emocionais podem gerar distúrbios físicos.

UMA DECISÃO QUE PODE MUDAR A SUA VIDA

Em suma, tomar a decisão de ir a uma consulta de Psicologia pode mudar a sua vida e ainda proporcionar-lhe a oportunidade de crescer pessoal e emocionalmente. Não esqueça as palavras sábias de Carl Jung: “Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda” e ainda “Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para outra; não existe uma receita para a vida que sirva para todos”.

Leia o artigo completo na edição de fevereiro 2020 (nº 302)