É importante conhecer o carcinoma ductal in situ (CDIS) da mama porque, com a implementação do rastreio populacional de cancro da mama, passou a ser muito mais frequente a sua identificação: pode chegar a 30% dos diagnósticos de tumores da mama, o que é significativo. Frequentemente, associa-se a microcalcificações evidenciadas em mamografia, e poderá ser necessário realizar biópsias assistidas por vácuo. Pode surgir como entidade única ou coexistir com carcinoma invasivo.

Artigo da responsabilidade do Dr. Mário Fontes e Sousa, oncologista no Hospital CUF Tejo

 

Existem várias lesões neoplásicas da mama que podem ser diagnosticadas, que variam desde as benignas (como o fibroadenoma) até às malignas (como o carcinoma invasivo). No entanto, o CDIS da mama posiciona-se de forma intermédia: ao microscópio, embora as suas células tenham aspeto maligno (derivadas dos ductos mamários), não há invasão além da membrana basal (a barreira de matriz extracelular que mantém as células no seu lugar – daí a designação in situ), pelo que não se associa a potencial invasão local ou metastização à distância, podendo ser considerada pré-maligna. O CDIS pode ter padrões histológico específicos (como comedo ou papilar, entre outros) e o seu grau pode ser baixo, intermédio ou alto, com variável impacto prognóstico.

A comunidade científica acredita que corresponde a uma fase celular intermédia, até chegar ao carcinoma invasivo, mas é difícil perceber qual o CDIS que nunca iria evoluir (ou poderia demorar anos) daquele que, rapidamente, poderia originar carcinoma invasivo. Um dos argumentos é que os fatores de risco são semelhantes àqueles para o cancro da mama, incluindo história familiar ou risco genético.

Genericamente, o seu prognóstico é muito favorável, desde logo demonstrado pelo estadiamento: enquanto os carcinomas invasivos da mama podem ser estadio I até IV, o CDIS é considerado estadio 0.

Como tratar?

Os métodos e princípios cirúrgicos para tratamento de CDIS são semelhantes ao carcinoma invasivo, com algumas particularidades, nomeadamente pode ser evitado o procedimento do “gânglio sentinela” axilar.

Então, se não tem capacidade de metastização, porque há situações em que faz sentido este procedimento? O gânglio sentinela pretende o estadiamento da axila de modo a perceber a necessidade de remoção da totalidade dos gânglios linfáticos (ou “esvaziamento axilar”), e assim potencialmente evitar maior risco de linfedema crónico (retenção de líquidos do membro superior por deficiente drenagem linfática). Como uma biópsia mamária representa apenas uma pequena parte do tumor (por exemplo, na biópsia pode existir apenas CDIS, mas depois de operar já poderá haver carcinoma invasivo) há situações em que o risco poderá ser maior, como no CDIS de maiores dimensões nos exames de imagem. É uma precaução para evitar novo procedimento, caso se viesse a diagnosticar carcinoma invasivo na peça operatória.

Após a cirurgia ao CDIS, é feita proposta de tratamento, que poderá incluir hormonoterapia preventiva durante 5 anos (nomeadamente, se os recetores hormonais forem positivos), radioterapia ou apenas vigilância. A hormonoterapia pode reduzir a recidiva na mesma mama (se cirurgia conservadora), bem como na mama contralateral. É uma proposta realizada em reunião multidisciplinar e considera-se cada caso individualmente. No CDIS não são utilizadas opções como quimioterapia ou anticorpos contra HER2, ou qualquer outra terapêutica que não as mencionadas previamente.

Atualmente, existem testes com painéis genéticos realizados ao CDIS para ajudar a decidir a necessidade de radioterapia pós-operatória, mediante o risco individual de recidiva.

Reforçar a importância da vigilância e adesão ao rastreio nunca é demais: identificar precocemente lesões mamárias pode significar maior sucesso no seu tratamento, nomeadamente tratamentos menos “agressivos”. Informe-se e faça da sua saúde uma prioridade!