A alimentação que praticamos tem uma relação direta com os processos inflamatórios do organismo, reduzindo ou aumentando a inflamação. Uma das dietas com características anti-inflamatórias e antioxidantes é a dieta mediterrânica.

Artigo da responsabilidade da Dra. Fernanda Ferreira. Enfermeira com mestrado em Psiconeuroimunologia e formação em Nutrição Ortomolecular. Autora do projeto Holovirya.

 

O funcionamento do organismo, para que seja adequado, necessita que todas as células realizem as suas funções de modo correto, para prevenir e/ou, caso seja necessário, eliminar invasores ou reconstruir lesões.

A vida moderna, frequentemente associada a elevados níveis de stress, uma alimentação desequilibrada, um ambiente poluído impregnado de substâncias tóxicas, uma programação metabólica em défice, além de certos danos físicos, traumas ou infeções por microrganismos exógenos, induzem uma resposta fisiológica no organismo.

Resposta inflamatória

Esta é uma resposta imunitária não especifica e constitui a primeira defesa do organismo perante uma invasão: é a chamada resposta inflamatória.

O objetivo é o de neutralizar os agentes patogénicos, proporcionar uma barreira física para evitar a propagação da infeção e reparar os tecidos danificados, assegurando, desta forma, a sobrevivência do organismo (RANG et al., 1997), (Heras e Hortelano, 2009).

Padrão inflamatório agudo

O processo inflamatório divide-se em padrões agudo e crónico. O padrão inflamatório agudo consiste na primeira linha de defesa do organismo contra o agente agressor e começa de maneira abrupta e precoce, sendo caracterizado por três eventos principais, mediado por moléculas solúveis ou por células do sistema imune:

  1. Vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo local, manifestando calor e rubor;
  2. Aumento da permeabilidade vascular, conduzindo ao extravasamento de proteínas e de leucócitos para o espaço extravascular e subsequente formação de edema;
  3. Libertação de mediadores pró-inflamatórios (histamina, prostaglandinas e citoquinas, entre outros), que provocam dor.

Inflamação crónica

Sem a inflamação, a sobrevivência não é possível; mas a inflamação pode tornar-se lesiva, quando se torna crónica.

A inflamação crónica é o tipo de inflamação que perdura por longo tempo, não sendo visíveis os sinais de inflamação, como dor, edema, rubor, calor e perda de função (WEBSTER, 2003).

Doenças consideradas como tendo origem imunológica, como febre reumática, artrite reumatoide e lúpus eritematoso, estão associadas a reações inflamatórias que aparentemente não trazem nenhum benefício, pelo contrário, causam lesões (KATSUNG, 1998).

A inflamação crónica é, assim, caracterizada pela presença contínua de citocinas pró-inflamatórias por meio do aumento do fluxo sanguíneo durante a lesão tecidual, como consequência da liberação de histamina pelos mastócitos danificados, e é conhecida por desempenhar um papel importante no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e mortalidade associada.

Influência da dieta

Pesquisas efetuadas indicam que toda a dieta e vários componentes dietéticos têm uma associação direta com a inflamação.

Foi demonstrado que o consumo de frutas e vegetais reduz os níveis de inflamação, enquanto o consumo de carne vermelha aumenta a inflamação.

O consumo de vegetais variados está inversamente associado a menor PCR (proteína que está aumentada quando existe alguma inflamação ou infeção no organismo). Assim, a alimentação é uma parte fundamental da saúde e, portanto, consegue ter uma influência diferente dos medicamentos, por ser a fonte de energia que dá origem a diversos processos metabólicos no nosso corpo.

Vários estudos sugerem que o consumo de uma alimentação saudável seja capaz de reduzir os níveis de marcadores inflamatórios, favorecendo a produção de citocinas anti-inflamatórias, contribuindo para a prevenção ou o controle da resistência insulínica, das dislipidemias e de outras condições metabólicas relacionadas à manifestação de doenças crónicas não-transmissíveis.

Tal alimentação deve apresentar teor energético capaz de manter o peso corporal adequado, sendo composta por teor moderado de gordura, baixos teores de açúcares simples, de gorduras trans e saturada, e rica em frutas, hortaliças e alimentos integrais.

Dieta mediterrânica

Uma das dietas com características anti-inflamatórias e antioxidantes é a dieta mediterrânica. É rica em frutas, vegetais, peixe, cereais não refinados e azeite, tem baixo conteúdo em carne e em laticínios e teor moderado de álcool (geralmente vinho tinto às refeições). Trata-se de um regime dietético rico em gordura e pobre em hidratos de carbono, tendo baixo índice calórico. É também rica em alguns micronutrientes: vitamina B, C e E, ferro, selénio, fósforo e potássio.

A dieta mediterrânica é considerada um modelo de alimentação saudável e foi declarada pela UNESCO Património Cultural Imaterial da Humanidade, em 2013. A sua prática está associada a um aumento da sobrevida dos idosos e a diminuição do risco de desenvolvimento de neoplasias, doenças cardiovasculares e doença de Alzheimer. Há evidência de que também melhora as capacidades cognitivas, previne a progressão para demência e está relacionada com diminuição de velocidade de encurtamento dos telómeros, ou seja, mais longevidade.

Os países mediterrânicos apresentam uma menor percentagem de mortes por doenças cardiovasculares comparativamente com regiões da Europa Ocidental e Estados Unidos da América.

Leia o artigo completo na edição de março 2023 (nº 336)