A pandemia que estamos a viver mostrou-nos bem a nossa fragilidade. E se é verdade que a vacina antipneumocócica não tem qualquer ligação ao coronavírus, também é verdade que, se contrairmos uma pneumonia nesta altura, a recuperação poderá ser bem mais complicada.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. Rui Costa, coordenador do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

 

A atualidade tem-nos mostrado, de forma clara e inequívoca, a importância da prevenção e da proteção, sobretudo entre as pessoas que se encontram mais vulneráveis e fragilizadas.

Para essas pessoas, doenças graves e potencialmente fatais como a pneumonia continuam a representar um risco acrescido, com a agravante do que representa contrair uma pneumonia nesta altura: uma recuperação, por si só, bastante mais complicada, quando sabemos que os equipamentos e os próprios profissionais de saúde estão sobrecarregados.

PNEUMONIA MATA TODOS OS DIAS

Apesar da disseminação de informação e das diferentes campanhas organizadas para sensibilizar a população, a pneumonia continua a matar todos os dias. Mesmo sendo prevenível por vacinação.

Os constrangimentos económicos serão a causa para alguns não se vacinarem, mas a falta de informação e de conhecimento é a principal causa apontada para a baixa taxa de imunização contra a doença. Cabe-nos continuar a falar sobre o tema, mostrar as vantagens de se estar protegido e assim apoiar quem se encontra em maior risco.

Crianças e pessoas a partir dos 65 anos são os mais vulneráveis à pneumonia, a par de adultos com doenças crónicas como diabetes, asma, doença pulmonar obstrutiva crónica, outras doenças respiratórias crónicas, doença cardíaca, doença hepática crónica, doentes oncológicos, portadores de VIH e doentes renais, entre outros. A fragilidade do seu sistema imunitário transforma-os em grupos de risco, por isso é um segmento da população que deve estar particularmente protegido.

RECOMENDAÇÃO DA DGS

Em junho de 2015, a Direção Geral da Saúde (DGS) lançou uma norma que recomenda a vacinação antipneumocócica a todos os adultos (pessoas com mais de 18 anos) pertencentes aos grupos de risco. Ao vacinarmos estas pessoas, estamos a protegê-las, a investir na sua saúde, a prevenir eventuais internamentos e, sem dúvida, a reduzir o número total de mortes por pneumonia.

E desengane-se quem acredita que a pneumonia é sazonal e que, por isso, não se terá de preocupar nos próximos meses. Há casos de pneumonia ao longo de todo o ano. Pode, por isso, vacinar-se em qualquer altura.

Não me canso de repetir, tal como muitos outros médicos, que a vacinação deve ser uma prioridade ao longo da vida. Se protegemos – e bem – as nossas crianças, porque não fazemos o mesmo com a restante população? Porque não fazemos o mesmo connosco? Sobretudo quando se trata de doentes crónicos ou quem tem mais de 65 anos.

INVESTIR NA PREVENÇÃO

A vacina antipneumocócica já está contemplada no Plano Nacional de Vacinação para as crianças e para alguns dos grupos de risco, e a sua eficácia está comprovada em todas as faixas etárias, incluindo na prevenção das formas mais graves da doença. Tal como a vacina da gripe é gratuita para quem tem mais de 65 anos, porque não fazer o mesmo com a vacina da pneumonia, estendendo a gratuitidade a pessoas a partir dos 65 anos?

Investir em prevenção é sempre preferível ao tratamento e à cura, até porque não sabemos como estes podem evoluir, mesmo nos casos mais simples. Para além disso, o envelhecimento saudável da população depende, também, de evitarmos mortes e sequelas provenientes de doenças potencialmente fatais.

Vinte e um por cento dos portugueses têm, atualmente, 65 ou mais anos. Caso fosse aprovada a gratuitidade da vacina antipneumocócica a esta faixa etária, cerca de dois milhões de pessoas beneficiariam desta medida e contribuiria para reduzir significativamente os custos anuais com internamento por pneumonia em Portugal: cerca de 80 milhões de euros. Valores bastante abaixo dos números reais, uma vez que não contabilizam despesas indiretas, como o absentismo ou a baixa rentabilidade, e muito menos aquilo que é o mais importante – as nossas vidas e as daqueles a quem queremos bem.

A vacinação salva vidas, por isso proteja-se e vacine-se.

Leia o artigo completo na edição de maio 2020 (nº 305)