Inúmeras investigações têm demonstrado os efeitos positivos dos ácidos gordos ómega-3 na prevenção do cancro e das doenças cardiovasculares. Mas as suas propriedades benéficas não ficam por aqui.

A maioria das doenças que afetam o ser humano são influenciadas, em maior ou menor grau, pelos alimentos que ingerimos e, de modo especial, pela gordura que comemos. A influência da gordura é particularmente importante na incidência de doenças cardiovasculares, diabetes, alguns tipos de tumores, doenças reumáticas, obesidade, hipertensão arterial, patologias degenerativas do cérebro, entre outras.

INVESTIGAÇÃO INICIOU-SE HÁ DÉCADAS

O interesse pelos ácidos gordos ómega-3 e seus efeitos no organismo surgiu, há umas décadas, a partir da observação dos esquimós da Gronelândia. Estes, apesar da sua peculiar dieta rica em gorduras e colesterol e baixa em hidratos de carbono, pareciam ser imunes às doenças cardiovasculares, causadoras de elevada mortalidade e morbilidade nos países ocidentais industrializados. Ao mesmo tempo, os esquimós apresentavam uma taxa de lípidos favorável e uma tendência antitrombótica – que evita a formação de trombos ou coágulos – no seu sangue. Estas características parecem dever-se à elevada ingestão de peixe e outros animais marinhos, particularmente ricos em ácidos gordos ómega-3.

Graças a estas observações, iniciadas por investigadores dinamarqueses durante a II Guerra Mundial e concretizadas em vários estudos epidemiológicos publicados na década de 70, confirmou-se o seu efeito benéfico sobre o metabolismo dos lípidos. Ao que parece, os problemas cardiovasculares da população ocidental não provêm tanto da quantidade de gordura e colesterol que consomem, mas antes do equilíbrio entre os diferentes tipos de gorduras incluídos na dieta. Por outras palavras: a saúde cardiovascular depende principalmente do equilíbrio entre as gorduras saturadas e insaturadas que ingerimos.

DIFERENTES TIPOS DE ÁCIDOS GORDOS

Os ácidos gordos insaturados de importância biológica classificam-se em ómega-3, ómega-6 e ómega-9. Os representantes mais importantes dos ácidos gordos ómega-6 e ómega-9 são, respetivamente, o ácido linoleico, cuja fonte principal são os óleos de sementes, e o ácido oleico, que se encontra abundantemente no azeite. Quanto aos protótipos mais destacados dos ácidos gordos ómega-3, destacam-se o ácido linolénico, presente em pequena proporção nas folhas verdes e em grande quantidade nalguns tipos de sementes; e os ácidos EPA e DHA, especialmente abundantes no peixe gordo e nos animais marinhos, bem como nalgumas espécies de microalgas.

O ácido linoleico costuma transformar-se, no organismo humano, em EPA e DHA, embora a referida transformação seja muito lenta, pelo que não se pode considerar como uma boa fonte destes ácidos. Quanto ao DHA, funciona como reserva de EPA, de tal modo que, se o organismo o requerer, pode produzir-se a partir dele. Pelo contrário, o DHA não pode produzir-se a partir do EPA; consequentemente, na área da nutrição e dos benefícios para a saúde, o DHA é o ácido gordo que o organismo solicita em maior quantidade e que, portanto, deve ser ingerido através da dieta.

Leia o artigo completo na edição de fevereiro 2023 (nº 335)