Embora não sejam exclusivas dos meses mais frios – há casos ao longo de todo o ano – com a chegada do outono e do inverno chegam, também, as pneumonias. Transversais à sociedade, podem atingir todas as idades e classes sociais, e ter consequências graves e irreversíveis para o doente, incluindo a morte. Felizmente, existem formas de prevenção.

 

Artigo da responsabilidade do Prof. José Alves. Médico pneumologista. Presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão

 

 

A época gripal carrega consigo o risco acrescido do aparecimento e do agravamento de outras doenças, especialmente entre aqueles que se encontram mais frágeis. Entre as diferentes complicações que podem chegar com uma gripe, as pneumonias são as mais graves. Virais ou bacterianas, são mais frequentes na altura em que as temperaturas se apresentam mais baixas.

A pneumonia é uma infeção do pulmão que afeta as zonas responsáveis pelas trocas gasosas. Entre as principais causas da pneumonia podemos encontrar microrganismos tão diferentes como bactérias, vírus ou mesmo fungos.

Os dois principais tipos de pneumonia são causados por bactérias (as chamadas pneumonias típicas) ou vírus (atípicas). No caso das primeiras, a mais frequente tem no pneumococo o principal agente. As pneumonias víricas, por outro lado, têm origem em vírus como o influenza (gripe) ou o SARS-Cov-2 (covid-19).

EM QUE DIFEREM ESTAS PNEUMONIAS?

Para além dos agentes causadores, a grande diferença entre estas pneumonias é a zona de infeção. As pneumonias víricas afetam o interstício pulmonar, ou seja, as paredes dos alvéolos onde ocorrem as trocas gasosas. As pneumonias bacterianas, por outro lado, progridem através dos brônquios.

Seja vírica ou bacteriana, a pneumonia pode matar. Mesmo nos casos de sobrevivência, que felizmente são a maioria, a pneumonia pode deixar sequelas permanentes, limitações que reduzem drasticamente a nossa qualidade de vida. Bronquiectasias (deformação dos brônquios) e compromisso da função pulmonar são apenas dois exemplos, bem como a permanência de tosse, expetoração ou falta de ar.

COMO TRATAR?

Antes de tratar uma pneumonia, é fundamental que se confirme o diagnóstico através de exames objetivos, como análises clínicas e radiografia do tórax. Só assim será possível estabelecer a causa (viral ou bacteriana) e avançar para a terapêutica adequada.

Para causas bacterianas, temos os antibióticos. Deverão ser receitados pelo médico assistente e tomados na íntegra pelo paciente, mesmo que este se sinta melhor.

No caso da pneumonia vírica, por se tratar de um vírus, trataremos a apenas sintomas como dores ou febre, recorrendo a medicamentos como ibuprofeno ou paracetamol.

Em qualquer das situações, em caso de suspeita de pneumonia, é fundamental que se procure o médico e que não se recorra à automedicação.

SERÁ UMA PNEUMONIA?

Entre os principais sintomas da pneumonia encontramos tosse com expetoração, febre, calafrios, falta de ar, dor no peito quando se inspira fundo, vómitos, perda de apetite e dores no corpo.

Todos estes sintomas são prováveis numa pneumonia, qualquer que seja a causa, e podem, inclusivamente, surgir na sequência de outras doenças, como uma gripe ou constipação.

Especialmente nesta altura em que muitas destas doenças se confundem, devemos estar particularmente atentos a quadros que não apresentem melhorias ou que vão piorando de forma continuada. E ter especial atenção aos doentes mais idosos, nos quais, muitas vezes, os sintomas respiratórios são escassos. Entre os mais velhos, as pneumonias podem manifestar-se através de sintomas gerais, como alteração do comportamento, falta de apetite ou maior prostração.

Quando comparada com a bacteriana, a pneumonia viral tem, geralmente, um início mais súbito, produz um catarro mais transparente ou esbranquiçado e está associada a sintomas como congestão nasal, sinusite, irritação nos olhos e espirros.

COMO PREVENIR? QUEM ESTÁ MAIS VULNERÁVEL?

A vacinação antipneumocócica é melhor forma de evitar a pneumonia bacteriana. Tem a vantagem de nos proteger, em simultâneo, de outras formas graves da infeção pelo pneumococo, como a meningite e a septicemia. Ajuda-nos, também, a evitar outras menos graves, como a otite média aguda e a sinusite.

Crianças e maiores de 65 anos, os extremos da vida, são os mais vulneráveis à pneumonia, a par de adultos com doenças crónicas como diabetes, asma, DPOC e outras doenças respiratórias crónicas, doença cardíaca, doença hepática crónica, doentes oncológicos, portadores de VIH e doentes renais, entre outros. A fragilidade do seu sistema imunitário insere-os nos grupos de risco, razão pela qual devem estar particularmente protegidos.

Existe, desde junho de 2015, uma norma da Direção Geral da Saúde que recomenda a vacinação antipneumocócica a todos estes adultos. Ao vacinarmos estas pessoas, estamos a protegê-las, a investir na sua saúde, a prevenir internamentos e a reduzir o número de mortes.

A vacina antipneumocócica já está em Plano Nacional de Vacinação para as crianças e para os grupos considerados de maior risco, mas a sua eficácia está comprovada em todas as faixas etárias. Como em qualquer doença, no caso da pneumonia, será sempre melhor prevenir do que tratar – por mais simples que seja o caso, não podemos prever a sua evolução.

Para a pneumonia vírica, não há vacina. Sabemos que os vírus com ela relacionados se transmitem facilmente, pelo que é importante adotar medidas gerais de precaução, como evitar o contacto próximo com alguém doente e praticar bons hábitos de higiene, nomeadamente a lavagem frequente das mãos.

Para qualquer tipo de pneumonia, a prevenção inclui, também, a vacinação antigripal, a cessação tabágica, uma boa higiene oral, o consumo moderado de bebidas alcoólicas, a manutenção de um estado nutricional adequado e o controlo e tratamento das doenças associadas.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2022 (nº 332)