Os doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) sabem bem o que é viver sem ar, ou não fosse esta, como explica a Dra. Ana Sofia Oliveira, assistente hospitalar graduada de Pneumologia e membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, uma doença “que resulta da obstrução das vias aéreas, ou seja, da dificuldade na passagem do ar pelas vias respiratórias”. Conhecem bem as limitações impostas pela DPOC, que pode até dificultar os gestos mais simples, como caminhar, tomar banho ou pentear o cabelo, e muitos conhecem também as exacerbações, nome dado “ao agravamento agudo dos sintomas respiratórios e que resulta na necessidade de tratamento adicional”. Exacerbações que, confirmam os números, podem mesmo roubar vidas, apesar de poderem ser evitadas. É para elas que alerta uma campanha, que conta com o apoio de várias sociedades e organizações médicas, lançada a propósito do Dia Mundial Sem Tabaco, e que deixa um apelo: “Se já viu este filme, não assista outra vez”.
Uma exacerbação, que pode ser, segundo a Dra. Ana Sofia Oliveira, “ligeira, tratada em ambulatório; moderada, que requer tratamento adicional ou grave, que já requer hospitalização”, é responsável pelo evento acrescido de eventos cardiovasculares agudos e por um aumento em 40% do risco de AVC dez dias após uma exacerbação[1] e, segundo alguns estudos, um em cada cinco doentes acaba por falecer um ano após a primeira hospitalização por DPOC[2]. Motivos de sobra para as tentar evitar. “Em Portugal, a DPOC encontra-se subdiagnosticada e, consequentemente, subtratada”, afirma Ana Sofia Oliveira. “As exacerbações fazem parte da história natural da DPOC, assim sendo, para evitar que aconteçam é fundamental um diagnóstico precoce da doença e um tratamento atempado e proativo”, acrescenta.
Para que isto possa ser realidade, “é fundamental uma maior acessibilidade à espirometria e aos serviços de saúde, ampliação das estruturas dedicadas à reabilitação dos doentes, aumento da dinâmica entre os cuidados de saúde primários e a especialidade. Torna-se igualmente imperioso a adesão ao tratamento, profilaxia das infeções respiratórias com vacinação contra a gripe, pneumonia e COVID-19 e a cessação tabágica”.
Tabaco que é, de resto, “o principal fator de risco para o desenvolvimento da DPOC e para o seu agravamento. Cerca de 85% a 90% de todos os casos de DPOC ocorrem devido ao tabaco. Fumadores ativos, ex-fumadores ou fumadores passivos (expostos ao fumo de outros), têm um risco acrescido de ter esta doença”, reforça a médica, que acrescenta a este fator “a poluição atmosférica e ambiental e a exposição ocupacional (no trabalho)”.
Nunca é, por isso mesmo, demais alertar para os benefícios de deixar o vício dos cigarros. “Atualmente, o tabagismo é reconhecido como uma doença, tendo em conta que se trata de uma dependência. Para ultrapassar este problema, foram criadas em todo o país consultas de apoio ao fumador, onde equipas multidisciplinares, constituídas por médicos, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos, dão apoio e acompanhamento regular para que o doente deixe de fumar. Existem também tratamentos medicamentosos que auxiliam a cessação tabágica, a par de abordagens comportamentais, que são fundamentais.”
Recorde-se que “a DPOC é uma das principais causas de morbilidade, ou seja de perda de qualidade de vida, e de mortalidade na população adulta de todo o mundo. É encarada pelas autoridades de saúde como um grave problema de saúde pública e é a 3ª causa de morte global, estimando-se que se venha a manter nestes níveis de mortalidade nos próximos anos, sendo responsável pela mortalidade precoce”, refere a médica. “Atinge maioritariamente pessoas com 40 ou mais anos de idade e os principais sintomas são a dispneia, a tosse e a expetoração.” É uma doença “crónica e progressiva, podendo tornar-se incapacitante.” E, apesar de não ter cura, “o seu tratamento melhora muito a qualidade de vida dos doentes”.
A campanha agora lançada tem como parceiros a Associação Respira, a Associação Nacional de Farmácias, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, o Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), o Núcleo de Estudos de Doenças Respiratórias da SPMI, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, a AstraZeneca e o Grupo Tecnimede.
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