A dada altura, questionei-me: “e se a ansiedade fosse algo que fazemos e não algo que temos?”. Foi a partir desse momento que tudo mudou.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. Adolfo Leitão Carvalho. Licenciado em Educação. Certificado em Hipnose, especializado em ansiedade, medos e fobias. Autor, escritor, formador e palestrante. Vice-presidente da Direção da Associação Portuguesa de Hipnose Clínica e Hipnoanálise (APHCH)

 

 

Quando se fala de ansiedade, pensamos em “algo” dentro de nós que nos faz sentir nervosos, com irritabilidade, medo. Pensamos no oposto de calma, tranquilidade e paz.

A verdade é que uma certa dose de ansiedade é perfeitamente normal no Ser Humano. Segundo o Sistema Nacional de Saúde, “a ansiedade é uma reação normal ao perigo ou ao stress do dia a dia. Pode ser entendida como uma sensação de medo perante uma ameaça ou uma preocupação perante algo que poderá acontecer e que tememos ser negativo (…) Se a ansiedade for exagerada e/ou prolongada, persistindo para lá do evento desencadeador, poderá tratar-se de um problema mais grave, tornando-se uma perturbação de ansiedade.” (in sns24.gov.pt, atualizado em 5/12/2022)

Fobias, ataques de pânico, perturbações obsessivo-compulsivas, ansiedade generalizada e stress pós-traumático são alguns tipos classificáveis da perturbação de ansiedade.

O DIAGNÓSTICO DO COSTUME

Isto já todos nós sabemos, ainda mais neste período pós-pandemia em que os níveis de stress e ansiedade na população subiram exponencialmente. No entanto, não é objetivo deste artigo dizer-lhe mais do mesmo, mas sim dizer o mesmo com muito mais.

Quando vamos a um profissional de saúde a queixarmo-nos de dores generalizadas ou apertos no peito inexplicáveis, é comum que, após uma catrapada de exames de rastreio, o diagnóstico seja: “Aquilo que você tem é ansiedade!”. Seguindo-se a prescrição: “Respire fundo, tenha mais calma, faça caminhadas e tome esta medicação de manhã. É levezinha e não cria dependência. É só para andar mais calmo(a)”. Saímos do consultório com a sensação que temos dentro de nós um bicho que nos perturba a vida.

Até há alguns anos, eu pensava na ansiedade desta forma, como se fosse uma aplicação que fizemos download e instalamos no sistema e que, a partir desse momento, está a ser executada, automaticamente, sem qualquer controlo consciente da nossa parte. Este ponto de vista fazia-me sentir impotente quanto a este bicho denominado de ansiedade.

CARACTERÍSTICAS COMUNS

Foi apenas quando me questionei com a seguinte pergunta que tudo mudou: “E se a ansiedade fosse algo que fazemos e não algo que temos?”.

Quando me coloquei esta questão vezes e vezes sem conta, dia após dia, comecei a sentir-me no controlo de algo que, até há data, estava totalmente fora do meu alcance. Pois se isto é algo que eu faço, então posso não o fazer.

Foi a partir desse momento que comecei a procurar a maneira como as pessoas que tinham ansiedade faziam a ansiedade funcionar.

E apercebi-me que, comparativamente às pessoas que não faziam ansiedade, os ansiosos tinham certas características em comum:

  1. Consideravam-se pessoas ansiosas, ou seja, diziam frases como: “Eu sou ansioso e sempre fui ansioso”. Era uma questão de identidade.
  2. As pessoas com ansiedade faziam-se, recorrentemente, perguntas como: “E se eu falhar?”; “E se eu me sentir mal?”; “E se as pessoas não gostarem?”; “O que é que vão pensar de mim?”.
  3. As pessoas com ansiedade criavam imagens e filmes horrorosos na sua mente acerca de coisas terríveis a acontecerem na sua vida.

MECANISMO AUTOMÁTICO

Como o nosso cérebro é um mecanismo exímio de aprendizagem, que aprende a identificar padrões e depois executa-os automaticamente, criando hábitos e rotinas para seguir os padrões aprendidos, quando o cérebro aprende estes três padrões que fazem funcionar a ansiedade, coloca-os em modo automático. Desta forma, a pessoa nem sequer precisa de pensar acerca de fazer ansiedade. Acorda de manhã e… plim!… ativa-se um padrão que leva a ansiedade a manifestar-se.

A partir do momento em que me apercebi destas três características das pessoas ansiosas, perguntei-me: “E se ensinasse às pessoas a fazerem o oposto do que estão a fazer?”.

Vamos um pouco mais fundo…

Leia o artigo completo na edição de abril 2023 (nº 337)