Através da Técnica Alexander, aprendemos a utilizar o nosso corpo e mente de forma mais eficiente, ou seja, a fazer menos para obter mais.

 

Artigo da responsabilidade do Prof. Carlos Monteiro, Professor da Técnica Alexander

Quando menciono a técnica Alexander numa conversa, a primeira resposta que obtenho é “o melhor é esticar-me” e a pessoa normalmente coloca-se em sentido como um recruta do exército. Ou, então, perguntam-me “eu tenho um problema de costas, a técnica Alexander ajuda a curar a dor?”. Nestas situações, eu fico em apuros para explicar que a técnica não é sobre melhorar a nossa postura e não é especificamente sobre curar dores de costas. No entanto, estas duas condições são reconhecidas como o ponto de venda mais comum.

A técnica Alexander está diretamente relacionada com a forma como nos usamos a nós próprios, no nosso dia a dia. Este conceito de “uso de nós próprios” tem um sentido de conexão indivisível entre a mente e o corpo, que responde aos mais diversos estímulos que nos vão surgindo.  As respostas a estes estímulos têm um carácter habitual, estando muitas vezes enraizadas em tudo o que fazemos. Aqui começa o trabalho da técnica Alexander.

Assim sendo, os nossos padrões de resposta aos mais variados estímulos repetem-se constantemente ao longo do dia, e nós vamos formando opiniões sobre nós próprios. Esses padrões ou hábitos psicofísicos geram problemas posturais crónicos, dificuldades de mobilidade e também problemas emocionais, como ansiedade, depressão e falta de confiança.

RESPONDER DE FORMA DIFERENTE AOS ESTÍMULOS

Durante as nossas vidas, repetimos constantemente as mesmas reações do tipo estímulo-resposta. Essas reações enraízam-se de tal modo que não conseguimos escapar da rotina criada. A única maneira de ultrapassarmos esta barreira é reeducando a consciencialização de nós próprios, de maneira a respondermos de forma diferente aos vários estímulos que a vida nos proporciona.

O criador desta técnica foi o australiano F.M. Alexander, que inicialmente trabalhou utilizando apenas instruções verbais. No entanto, passado pouco tempo, ele apercebeu-se que tinha de comunicar esta técnica através do uso das suas mãos diretamente no aluno. Era através da utilização das suas mãos que ele transmitia uma certa qualidade e um maior equilíbrio entre mente-corpo.

Os professores da técnica Alexander ensinam a utilizarmo-nos de maneira correta. A técnica não é, de todo, um tratamento médico, em que o recetor tem um papel passivo, muito pelo contrário. A participação do interessado é fundamental para que a técnica produza os efeitos desejados.

CONSCIENCIALIZAÇÃO, PRESENÇA E CONTACTO

Uma das grandes dificuldades que encontrei enquanto estudava para ser professor da técnica Alexander foi a necessidade de manter a minha atenção visual para o mundo exterior, enquanto recebia informação verbal ou tátil por parte de outros professores.

Um dos problemas generalizados, hoje em dia, quando prestamos atenção a alguém ou nos focamos no que está a acontecer é o de “vaguearmos pela nossa mente”, quebrando a relação com o que está a acontecer nesse preciso momento. Outro problema também muito frequente é o de produzirmos uma concentração excessiva num assunto. Nestes casos, observamos uma reação excessiva a um estímulo específico (como ouvir, falar, representar) que origina uma alteração na relação do tónus muscular, especialmente na zona do pescoço, cabeça e coluna vertebral, sendo esta tensão mais evidente nos nossos olhos.

Neste sentido, o professor deve utilizar as suas mãos de maneira refinada, mantendo níveis de contacto externo com o que o rodeia e internamente dentro do seu próprio corpo.

Um dos princípios base da técnica Alexander é a ideia de que o que nós sentimos ser confiável, seguro ou sólido não corresponde inteiramente à realidade. Ao iniciar as aulas da técnica Alexander, percebemos que o que pensamos estar a fazer com o nosso corpo/mente não corresponde ao que realmente estamos a fazer. Esse momento de perceção é muito importante para que possamos adquirir uma maior consciencialização, presença e contacto connosco e com o mundo exterior. A isto chamamos a reeducação do nosso sistema nervoso central.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2017 (nº 277)