A população global está a envelhecer e o número de condutores com declínio de capacidades associadas à idade ou a doenças neurológicas está a aumentar. A condução é uma preocupação frequente para os familiares, mas também para médicos especialistas envolvidos nas tomadas de decisão sobre a aptidão para a condução.
Artigo da responsabilidade da Dra. Inês Ferreira e Dr. Alberto Maurício. Psicólogos do CNS – Campus Neurológico
A condução é uma atividade complexa, que requer capacidades cognitivas, motoras e o controlo do comportamento. Com o avanço da idade ou surgimento de determinadas doenças, essas capacidades podem ser afetadas e aumentar o risco de acidente.
É, por isso, reconhecida a necessidade de avaliar condutores com idade avançada ou doença neurológica, como Parkinson, Alzheimer, acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico, esclerose múltipla, entre outras, bem como com patologia psiquiátrica.
AVALIAÇÃO ESPECIALIZADA
Quando existem dúvidas sobre a aptidão para a condução, é possível solicitar uma avaliação especializada, baseada em testes que examinam capacidades como a atenção, a perceção visual, a coordenação e a velocidade motora.
A partir de resultados objetivos é elaborado um parecer sobre a condução, podendo recomendar a condução sem alterações, indicar restrições (por exemplo, na velocidade ou raio de condução), adaptações no veículo ou até a suspensão da condução.
IMPACTO PSICOLÓGICO NEGATIVO
Quando os desempenhos evidenciam compromisso significativo nas capacidades e envolvem um potencial risco na condução, é recomendada a suspensão da condução. Esse resultado pode ter um impacto psicológico negativo no condutor e requer sensibilidade acrescida na sua comunicação. É importante permitir a expressão e validar as emoções da pessoa e clarificar porque é que o declínio de capacidades aumenta a vulnerabilidade e o risco, e que deixar de conduzir é uma estratégia para proteger a sua segurança.
Há ainda situações em que a alteração do estado mental não é evidente para o próprio, o que dificulta a conversação sobre a necessidade de restringir a condução. Estes doentes requerem uma atenção especial porque podem representar um risco acrescido para a segurança rodoviária, por falta de autocrítica sobre as suas limitações ou excessiva confiança nas suas capacidades.
REFLEXÃO CONJUNTA
Esta consulta de avaliação pode ser solicitada por qualquer condutor, familiar, cuidador ou profissional de saúde, permitindo uma avaliação especializada e independente, suportada em desempenhos objetivos. Favorece a consciência crítica do condutor sobre as suas capacidades e permite desembaraçar familiares e cuidadores da responsabilidade de confrontar o condutor com medidas restritivas. Finalmente, promove uma reflexão conjunta e tomadas de decisão para assegurar uma mobilidade com maior segurança.
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