A polimedicação é um tema complexo, com uma cada vez maior prevalência e com tendência para se agravar. Não sendo de solução simples, existem métodos contornar as dificuldades.

Artigo da responsabilidade do Dr. João Mota. Farmacêutico

 

A polimedicação é um conceito com o qual a sociedade se tem vindo a familiarizar e que tem merecido um destaque cada vez maior. Na minha opinião, merecido! É um tema complexo, com uma cada vez maior prevalência e com tendência para apenas se agravar. O destaque que tem merecido é, sobretudo, porque acarreta potenciais riscos para o utente e não existe uma solução simples ou, pelo menos, não existia.

PREVALÊNCIA CADA VEZ MAIOR

O conceito de polimedicação é definido como a toma de 5 ou mais medicamentos de uma forma regular. Sendo que, para o efeito, são considerados qualquer tipo de medicamento, inclusivamente suplementos alimentares.

Para aqueles que a visita à farmácia não faz parte do seu itinerário mensal, provavelmente consideram que 5 medicamentos serão só mesmo em situações muito excecionais. Deixem-me esclarecer que não é assim. Existem situações em que efetivamente são necessários 5 ou mais medicamentos para tratar ou controlar apenas uma doença.

Não é, pois, surpreendente, que mais de um terço da população portuguesa, acima dos 65 anos, seja polimedicada. Estes são os dados mais recentes de que dispomos e que indicam também, – na verdade, de uma forma algo previsível – que, em faixas etárias mais elevadas, a prevalência da situação vai-se tornando cada vez maior, tal como o próprio número de medicamentos vai aumentando.

SEMPRE O PROBLEMA DE ILITERACIA EM SAÚDE

O perverso da questão é que, sobretudo nesta faixa etária, verifica-se uma maior iliteracia em saúde. E esta manifesta-se em duas vertentes. Primeiro, num maior desconhecimento sobre a própria doença. Este é um aspeto extremamente relevante porque, para uma maior consciência sobre o tratamento, é preciso uma maior consciência da doença. O segundo ponto prende-se com a iliteracia do medicamento, ou seja, muitas das vezes, o utente desconhece qual a indicação de determinado medicamento, para que o toma e a forma correta de o tomar.

Ou seja, é quem mais precisa deles que, por norma, tem maior dificuldade em gerir o seu processo de tratamento. A questão ganha uma ainda maior criticidade pelo facto de ser uma tendência crescente. O aumento da esperança média de vida leva, de uma forma natural, ao aparecimento de comorbidades que podem ser controladas com medicação crónica.

ADESÃO AO TRATAMENTO

Contudo, sinto a necessidade de fazer uma ressalva. Apesar de abordarmos o tema da polimedicação e potenciais riscos, é importante referir que o desenvolvimento da medicina e o aparecimento de muitos destes tratamentos foi um dos principais fatores que catapultou o aumento da esperança média de vida a que temos assistidos nos últimos anos. Em Portugal, desde 1960, a esperança média de vida passou de sensivelmente 63 anos para 81 em 2020, um aumento de praticamente 20 anos, uns impressionantes 30 por cento.

Estabelecida a importância de uma efetiva adesão à terapêutica, de cumprirmos de forma rigorosa com o tratamento que nos foi prescrito, torna-se imperativo perceber quais os riscos que incorremos numa situação de polimedicação e a melhor forma de os minimizar.

Em primeiro lugar, na adesão ao tratamento, onde existe um impacto negativo mais evidente. A predisposição para seguir o tratamento indicado tende a diminuir e, sobretudo, a troca entre medicamentos, a troca entre os horários da toma ou, simplesmente, o esquecimento passam a ser muito mais frequentes.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2024 (nº 352)