Existem diferentes atitudes psicológicas face ao envelhecimento: há quem se sinta velho e se abandone a esse estado e há quem, pelo contrário, sinta que está a viver uma espécie de “juventude madura”, igualmente plena de oportunidades. Não obstante as modificações biológicas da idade sénior, amadurecer de forma saudável está, em grande parte, nas nossas mãos.

 

Quando é que começamos, realmente, a envelhecer? Se considerarmos todas as funções fisiológicas do corpo humano, pode dizer-se que começamos a envelhecer a partir dos 30 anos; se o que estamos a considerar é o cérebro, então o envelhecimento inicia-se no momento em que nascemos. Trata-se, pois, de um processo de erosão contínua, que não podemos deter, mas que, pelo contrário, podemos acelerar, quando se leva uma vida stressante, sedentária e com hábitos pouco saudáveis. No entanto, é possível atrasar os efeitos do envelhecimento, levando uma vida equilibrada em todos os aspetos e usufruindo dos extraordinários meios proporcionados pela medicina moderna.

Um indivíduo é velho, não quando atinge uma certa idade, mas quando se sente velho e passa a viver como tal. Ou seja, isto acontece quando a pessoa sente que está cansada de viver, quando o mundo que a rodeia deixa de lhe interessar e de a emocionar. Sobrepõe-se, então, a indiferença aos prazeres, às alegrias e às emoções da vida.

Para quem se recusa a aceitar esta condição, para quem procura por todos os meios manter a juventude mental e física, para esses preferimos não falar de velhice, mas sim de “idade sénior”.

SEM TEMPO A PERDER

A idade sénior começa, talvez, no momento em que a pessoa, de forma mais ou menos consciente, se dá conta de que o tempo que lhe resta não é infinito: já não pode dar-se ao luxo de desperdiçar dias, meses e anos, porque cada vez lhe restam menos.

E tomar consciência disto não é, obviamente, agradável; pelo contrário, origina uma primeira reação de tipo depressivo. Quem ainda não viu as suas aspirações realizadas dá-se conta de que já lhe restam menos oportunidades. Quem já realizou os seus desejos sente que não poderá continuar mantendo, durante muito tempo, a supremacia no trabalho, na família ou no meio social.

Por vezes, esta tomada de consciência tem um efeito positivo: é certo que a contagem decrescente começou, mas é exatamente por isso que não há tempo a perder. Instintivamente, trata-se de aproveitar melhor os dias e as coisas que a vida oferece. Seleciona-se mais e está-se menos condicionado pela opinião dos outros. Recuperam-se os afetos familiares, mas com uma dimensão de maior tolerância, porque se ignora tudo o que não é realmente importante.

A REFORMA

No entanto, para atingir esta tranquila margem do rio da vida, é preciso superar um difícil obstáculo: a reforma. O progressivo envelhecimento da população e o número cada vez maior de reformas antecipadas fez desta uma das principais preocupações das sociedades industrializadas. Cessar de forma compulsiva a atividade laboral pode parecer, à primeira vista, uma circunstância banal; no entanto, acarreta uma série de repercussões negativas, de índole económica, familiar e de saúde.

A maioria dos geriatras admite a clara influência da situação socioprofissional na melhor ou pior adaptação do reformado à sua nova condição. No entanto, também reconhecem o papel de outros fatores, como o grau de entrega à profissão exercida, o tipo de trabalho desempenhado e o carácter compulsivo deste acontecimento, entre outros.

DEMASIADO TERMO VAGO

Ao entrarem nesta nova etapa da vida, são muitas as pessoas que se confrontam com um excesso de tempo vago, que acham vazio e sem conteúdo. Para estes indivíduos, são especialmente benéficas as atividades de lazer, as quais têm um valor bastante positivo, pois servem de apoio fundamental, nesta transição da vida ativa para a de reformado.

Tenha-se, a este respeito, em conta que algumas pessoas chegam à idade da reforma quando ainda estão em perfeitas condições para trabalhar e, além disso, desejam continuar trabalhando, sobretudo tratando-se de profissões para as quais são importantes a criatividade e a experiência.

Por outro lado, essa desvalorização social cria no reformado uma crise de personalidade não merecida. Um dos mais importantes fatores é a forma como uma pessoa se vê a si própria, dentro do sistema de referência social. A chegada da reforma pode alterar significativamente a autoestima do indivíduo, provocando a sensação de que “já não serve para nada”.

Leia o artigo completo na edição de julho/agosto 2021 (nº 318)