Um cansaço que se prolonga por semanas e semanas e que é sentido logo pela manhã, quando o corpo e o cérebro parecem não reagir, são os sintomas mais comuns de uma perturbação que tem vindo a aumentar nas sociedades industrializadas.

 

A chamada síndroma de fadiga crónica foi descrita, pela primeira vez, em 1988, como “um cansaço posterior a uma doença vírica”, dado que ficou ligada a um episódio de epidemia ocorrido numa urbanização de executivos, situada perto do lago Tahoe, no estado norte-americano do Nevada. Todos estes executivos eram pessoas afetadas pelo repto da competitividade, pelo sonho do dinheiro e pela ânsia do poder. Porém, desconheciam que levar para a cama as preocupações do dia é como dormir com um fardo de feno às costas.

Com efeito, entre 20 a 25% das consultas de Medicina Geral e Familiar nos países da União Europeia refletem a presença de fadiga crónica, que ocorre em 14% dos homens e 20% das mulheres. Calcula-se, por sua vez, que cerca de 5 milhões de norte-americanos sofrem desta perturbação.

Enorme sobrecarga

Fadiga é o estado físico, psíquico e social que segue a um esforço e que reduz o rendimento do organismo. Esta perturbação manifesta-se sob várias versões: a fadiga fisiológica, que é normal e que se recupera com o repouso, com o sono ou, em última análise, com as férias; e a fadiga patológica, que resiste ao descanso, provocando um enorme cansaço físico – com astenia e debilidade, falta de forças, atonia e fraqueza muscular, sintomas que atingem o seu auge ao final do dia –, bem como um acentuado cansaço mental, que pode surgir logo pela manhã, acompanhado de falta de concentração, desinteresse e sonolência.

Quanto aos agentes causais da síndroma da fadiga crónica, foram identificados, pelos especialistas, os seguintes:

  • stress psicossocial – família, trabalho, estilo de vida – e ambiental – nutrição, poluição;
  • causas psicossomáticas ou somatização da depressão e da ansiedade;
  • doenças orgânicas não identificadas: astenia, infeções localizadas, doenças inflamatórias, tumores, hepatite, doença de Addison, hipotiroidismo, diabetes, anemia e cirurgia recente.

Adeus à rotina

A melhor forma de evitar a síndroma da fadiga crónica é modificar os hábitos de vida: uma higiene de sono adequada, um trabalho gratificante – ou, em alternativa, “desligar” quando acaba a jornada laboral – e uma melhor planificação dos tempos livres são atitudes fundamentais.

Esta última, ou seja, saber desfrutar do ócio, é mesmo muito necessária: há que fugir da rotina, fazer aquilo que se deseja, ocupar o tempo livre em atividades salutares e pôr de parte os hábitos sedentários.

Deve-se, acima de tudo, tentar recuperar as relações sociais, voltando a desfrutar do convívio com os amigos e com a família.

Por último, está ao nosso alcance saber aproveitar o merecido descanso que cada fim de semana nos proporciona.

Uma vida mais calma

Face à fadiga crónica, desenvolveu-se uma atitude que poderá muito bem ser o novo espírito do século XXI, espírito baseado, paradoxalmente, numa máxima de Epicteto (ano 55 dC): “O valor que damos ao dinheiro, ao status e à competência envenena as nossas relações pessoais. A vida feliz será impossível enquanto não simplificarmos os nossos hábitos e não moderarmos os nossos desejos”.

Surgiu assim uma corrente sociofilosófica designada “downshifting”. Esta atitude consiste em renunciar voluntariamente à ascensão socioprofissional, optando por um estilo de vida mais simples – afastado do consumismo – e, consequentemente, mais calmo.