Uma excessiva sonolência diurna, roncos noturnos e pausas respiratórias durante o sono são alguns dos principais sintomas da apneia, uma perturbação que afeta muitos milhares de portugueses e que pode ter consequências bastante graves.

 

Muitas pessoas sofrem cortes da respiração durante o sono. No entanto, apenas 15% dessas pessoas estão conscientes de que sofrem de uma doença. E essa doença chama-se apneia do sono, uma perturbação que pode provocar problemas cardíacos e a morte súbita, mas que, devidamente controlada, pode ser evitada.

Com efeito, a apneia do sono consiste na quase paragem do fluxo aéreo no nariz e na boca, durante o sono, tendo como consequência uma menor oxigenação do sangue. Para que a perturbação possa ser diagnosticada como apneia, deve prolongar-se durante, pelo menos, 10 segundos e produzir-se várias vezes – cinco como mínimo – durante a noite. Os roncos, quando ocorrem, são um fenómeno que acompanha a doença e que pode contribuir para a agravar, mas que nunca constituem a sua causa.

Conhecem três modalidades desta patologia:

  • apneia central, a menos frequente, é a produzida por defeitos na regulação neurológica da respiração;
  • apneia obstrutiva, que é a mais comum, sendo resultado do estreitamento das vias respiratórias; e
  • apneia mista, uma modalidade que junta ambos os mecanismos de produção.

A apneia obstrutiva é uma doença crónica que, como tal, necessita de tratamento. Porém, não existem estudos suficientes que nos indiquem claramente a realidade numérica deste problema. Apenas sabemos que esta forma de perturbação da oxigenação durante o sono afecta, pelo menos, 5% da população, geralmente homens com mais de 40 anos, os quais, além disso, são obesos e ressonam.

Resistência à passagem do ar

O estreitamento da orofaringe, durante o sono, dá origem à apneia obstrutiva e à falta de ar; a recomposição desse estreitamento faz com que o afectado acorde total ou parcialmente, após o que voltará a dormir, para ser vítima de múltiplas crises, durante essa mesma noite.

O estreitamento do interior das vias aéreas altas pode produzir-se por excesso de tecido faríngeo, por debilidade da musculatura ou, simplesmente, por aumento da resistência à passagem do ar. A apneia vê-se favorecida pelo sono, dado que este reduz a capacidade muscular. O consumo de álcool e de sedantes agrava o problema, enquanto que a obesidade contribui para a diminuição do tamanho das vias aéreas.

O ato de ressonar – vibração de alta frequência dos tecidos moles do palato e da faringe –, consequência ele mesmo da diminuição do diâmetro interno das vias respiratórias altas, precede, em vários anos, o desenvolvimento de uma apneia obstrutiva. No entanto, a esmagadora maioria das pessoas que ressonam não sofrem desta patologia; de facto, na ausência de outros sintomas, os roncos não devem constituir motivo de preocupação. O que pode agravar o problema originário é o possível inchaço ou edema dos tecidos moles.

Sonolência diurna

Os sintomas desta doença devem-se à repetição dos episódios de interrupção do sono e de asfixia noturna: sonolência durante o dia, diversas perturbações de comportamento por falta de descanso e perturbações cardiorrespiratórias.

A sonolência, ao interferir com o normal desempenho das atividades quotidianas, é a consequência que mais preocupação causa. Um estudo da Universidade da Virgínia demonstrou que os afetados por apneia do sono conduziam automóveis com menos habilidade do que os seus familiares e amigos. Outros estudos realizados nesta mesma linha concluíram que os condutores com apneia sofrem duas ou três vezes mais acidentes do que aqueles que não padecem dela.

As alterações intelectuais, a perda de memória, as mudanças de personalidade e a impotência são outras perturbações que, com maior ou menor fundamento científico, se quiseram relacionar com a apneia do sono.

Uma pequena proporção dos afetados pela apneia obstrutiva apresenta problemas cardíacos e hematológicos: hipertensão arterial – não se sabe se como causa ou como efeito da apneia –, insuficiência ventricular esquerda – agravada, sem dúvida, pela apneia – e elevação da quantidade de glóbulos vermelhos, para compensar a falta de oxigénio no sangue e o aumento do CO2 sanguíneo.

Os doentes mantêm, além da perturbação ventilatória noturna, uma marcada diminuição da oxigenação durante o dia; podem, também, ser obesos, dormem sentados nas poltronas, respiram mal e ressonam.

DIAGNÓSTICO SEGURO

Mesmo quando a observação e escuta de um doente, durante o sono, conduz o especialista à suspeita de apneia, é necessário realizar um estudo para estabelecer, com toda a segurança, o diagnóstico. Através deste procedimento, registam-se as modificações que, durante o sono, ocorrem no eletroencefalograma, assim como os movimentos oculares, as variáveis ventilatórias, a saturação de oxigénio no sangue e a frequência cardíaca.

Mediante o registo eletroencefalográfico e oculográfico, o especialista está em condições de determinar com que fase do sono coincidem as alterações. O registo dos movimentos respiratórios, pelo seu lado, ajuda a determinar se a apneia é obstrutiva, central ou mista, além de medir o número de paragens da respiração. A saturação de oxigénio e a frequência cardíaca, por último, completam os dados necessários para o diagnóstico.

Além das queixas de sonolência ou insónia e dores de cabeça, por parte do próprio interessado, os critérios para determinar se alguém sofre de apneia do sono incluem a constatação de que se produzem ronquidos e cinco ou mais episódios de apneia por hora, durante o sono, registados poligraficamente, com taquibradicardia e diminuição da saturação de oxigénio arterial.

Objetivos do tratamento

O principal objetivo do tratamento é manter abertas as vias aéreas. Nos casos em que o problema é ligeiro, basta modificar a postura durante o sono. Outras vezes, é necessário emagrecer, colocar próteses dentárias adequadas ou levar a cabo medidas cirúrgicas simples, como a extirpação dos adenoides. É, igualmente, útil suprimir a administração de sedantes e a ingestão de bebidas alcoólicas.

Por vezes, tornam-se necessários tratamentos cirúrgicos mais drásticos, como a uvulo-palato-faringoplastia, cuja finalidade é ampliar o diâmetro interior da faringe, eliminando o tecido supérfluo; ou, inclusivamente, a traqueotomia, quando falham todas as restantes medidas.

Atualmente, emprega-se a administração de oxigénio, através de pressão positiva contínua nas vias respiratórias, com máscara, durante a noite, tratamento que resulta eficaz em 90% dos doentes, sobretudo quando são adequadamente selecionados de acordo com a localização da obstrução.