A radiação solar, na dose certa, proporciona bem-estar e relaxamento, ao mesmo tempo que melhora o humor. Além disso, é essencial à regulação do metabolismo do cálcio e do fósforo, necessários ao esqueleto humano. No entanto, em quantidade e qualidade inadequadas, anulam-se esses benefícios, gerando agressões graves.

 

A pele é um órgão elástico, flexível e resistente, que envolve todo o nosso corpo e que, ao mesmo tempo, atua como barreira de proteção face às agressões exteriores. A sua espessura varia entre 1,5 e 3 mm, o suficiente para cumprir funções imprescindíveis para a vida humana, como a termorregulação, a perceção de sensações e a defesa face aos múltiplos agentes prejudiciais à saúde.

São três as camadas que formam a pele: a epiderme, que é a mais superficial e que se renova cada 3 a 4 semanas; a derme, que é composta por tecido conjuntivo com fibras elásticas e na qual se encontram os vasos sanguíneos e as terminações nervosas; e a hipoderme ou tecido celular subcutâneo, uma camada constituída por tecido adiposo, que forma uma espécie de almofada entre a pele propriamente dita e os músculos ou ossos que se encontram por debaixo dela.

Na hipoderme, encontram-se umas células denominadas melanócitos, cuja função é produzir melanina, um pigmento que se acumula na epiderme e que é o principal responsável pela coloração da pele, do cabelo e dos olhos. Mas a sua função primordial é proteger a pele contra a agressão dos raios ultravioleta.

O que é o “Capital Solar”?

Cada pessoa nasce com um determinado “capital solar”, isto é, um conjunto de meios naturais de defesa, como o bronzeado, o aumento da espessura da camada córnea e os processos de reparação celular.

Cada vez que cometemos um excesso, expondo-nos durante o horário de risco, não usando ou renovando o protetor solar, não vestindo t-shirt e chapéu, não bebendo água para hidratar a pele e, consequentemente, apanhando os chamados escaldões, estamos a gastar o nosso capital solar.

Muitos excessos repetidos numa pele pouco protegida, com um capital solar desgastado, acabam por provocar, em muitos casos, o aparecimento de problemas cutâneos extremamente graves, entre os quais se salienta o melanoma, um problema cuja incidência está a crescer na ordem dos 5 a 7% ao ano.

As crianças são especialmente sensíveis aos riscos associados ao Sol, uma vez que se expõem substancialmente mais do que os adultos, apanhando Sol durante cerca de seis horas por dia, durante os meses de verão.

Os escaldões acumulados durante a infância constituem um dos mais importantes fatores de risco no desenvolvimento de cancros cutâneos e, especialmente, no desenvolvimento de melanoma, durante a idade adulta – 10 a 20 anos após as exposições prejudiciais.

Comportamento de risco

O cidadão comum parece ter apreendido a mensagem sobre os perigos do Sol e as suas consequências, a curto prazo, para a saúde e beleza da pele – escaldões, alergias, sensibilização, tolerância. No entanto, o desejo de se expor ao Sol não desapareceu e as pessoas continuam a ter comportamentos de risco, apesar dos perigos, motivadas pelo prazer imediato e pela pressão social, que as obriga a voltar das férias bronzeadas.

Embora a grande maioria das pessoas esteja informada sobre a correlação entre a exposição excessiva e os riscos de cancro cutâneo, muitas delas nunca usam protetores solares e/ou expõem-se entre as 12 e as 16 horas, ou seja, as horas de maior perigo.

Proteção de acordo com o fototipo

A melanina, de que falámos anteriormente, constitui um protetor natural do organismo, atuando como filtro face aos raios solares. Cada pessoa possui um diferente tipo de pigmentação – os denominados fototipos cutâneos –, dado que a melanina é ativada pelo efeito do Sol, segundo as características de cada pessoa. Assim, nas pessoas de raça negra, apenas 7% da radiação UVA consegue atravessar a epiderme, enquanto que, na raça branca, esta percentagem atinge os 25 por cento.

Existem outros fatores que influenciam na maior ou menor sensibilidade de cada pessoa face à radiação solar, tais como a hereditariedade, a fotoproteção natural – densidade de pelos, desenvolvimento e tipo dos lípidos da camada córnea –, a existência ou não de dermatoses nas zonas expostas, etc. Assim, cada indivíduo conta com a sua proteção particular contra os raios solares e nem tudo o que o Sol emite é saudável e bom.

Tipos de radiação

É bem sabido que, de entre os três tipos de radiações que o Sol emite, os infravermelhos – os de maior comprimento de onda – são benéficos para o organismo, ao proporcionarem calor; benéficos são, também, os raios visíveis ou luminosos.

Por seu lado, os raios ultravioleta – os de maior poder energético do espetro solar –, embora prestem importantes serviços à saúde humana, apresentam diversos inconvenientes. Porém, a Natureza é sábia e apenas 5% das radiações que atingem a superfície da Terra, provenientes do Sol, são ultravioleta; a restante percentagem reparte-se, em partes iguais, pelos raios infravermelhos e pelos visíveis. Aquele tipo de radiações subdivide-se em raios ultravioleta de onda longa – UVA –, de onda média – UVB – e de onda curta – UVC.

Os raios UVA são os mais interessantes, já que são os responsáveis pelo bronzeado saudável e quase não produzem eritema ou avermelhamento, efeito pelo qual são responsáveis, maioritariamente, os raios UVB. Estes, como compensação, intervêm na síntese da vitamina D e facilitam um bronzeado duradouro ou de aparição retardada. Aos raios UVB atribui-se-lhes, também, a responsabilidade pelo envelhecimento precoce da pele e pelo desenvolvimento de alguns tumores, como o melanoma, ainda que sejam os UVA os responsáveis pela degeneração das fibras elásticas e do colagénio da derme e, portanto, pelas rugas profundas. Definitivamente, os UVB são bastante mais nocivos para a pele do que os UVA.

Por último, os raios UVC são os que contam com a maior capacidade destrutiva. Felizmente, este tipo de radiação não chega à Terra, uma vez que é absorvida – tal como uma parte da radiação UVB – pela camada de ozono da atmosfera.

Proteção eficaz

A pigmentação da pele pode ser direta, indireta ou resultado da melanogenese. A primeira deve-se à ação dos raios UVA e dos raios visíveis mais próximos, que produzem a oxidação dos pigmentos melânicos claros existentes na pele. A pigmentação indireta aparece depois da formação de um eritema ligeiro e origina-se pelo efeito da radiação UVB. Por último, a melanogenese começa um ou dois dias depois da exposição ao Sol e atinge o seu máximo três semanas após. Esta acumulação de melanina protege o núcleo celular da radiação ultravioleta, evitando a degradação do ADN e as consequentes alterações do código genético, que são responsáveis pelo cancro da pele.

Os filtros solares foram desenvolvidos com o objetivo de proteger contra o eritema solar e suas incómodas consequências e manter essa proteção nas condições normais de uso, sendo estáveis à luz e ao calor e resistentes à água e ao suor. Tudo isto, supostamente, sem efeitos tóxicos e, se possível, sem manchar a roupa.

Talvez o principal argumento para o uso dos filtros fotoprotetores, nas suas diferentes formas de apresentação – cremes, leites, óleos, sprays, etc. –, seja o de facilitar um bom bronzeado. Para isso, os filtros devem controlar a ação erimática dos raios UVB e aproveitar a pigmentação direta produzida pelos raios UVA. Deste modo, denomina-se “protetor solar” o produto que, além de bronzear, consegue filtrar os raios UV A e UV B e prevenir os seus efeitos adversos.

O QUE É O ÍNDICE DE PROTEÇÃO?

Claro que estes produtos podem ser mais ou menos permeáveis ao Sol: daí nasce o conceito de “fator de proteção solar” ou “índice de proteção” – FPS ou IP –, que indica o número pelo qual se pode multiplicar o tempo de exposição ao Sol, sem que este chegue a lesar a pele, relativamente ao que aconteceria se a pessoa prescindisse do seu uso.

Isto parece complicado, à primeira vista, mas é fácil de entender com o seguinte exemplo. Para que se produza um avermelhamento na pele, sem proteção solar, é necessária uma exposição de cerca de 15 minutos; com a administração de um produto com FPS 2, é necessário o dobro do tempo para que se produza o mesmo efeito. Assim, multiplicando o tempo que a pele suporta ao Sol, sem se queimar, pelo número do FPS, obtém-se o número de minutos ou horas durante os quais esse filtro dá proteção. Muita proteção significa um bronzeado melhor e a mais duradouro.

 

Destaque

Fonte de saúde e beleza

É certo que ir à praia entre o meio-dia e as 4 da tarde não é nada aconselhável. Também é certo que quem abusa do Sol envelhece de forma prematura, ficando, igualmente, mais exposto ao risco de cancro da pele. Mas não se deve esquecer que o Sol é, ao mesmo tempo, uma fonte inesgotável de saúde e beleza, desde que se respeitem certas condições.

  • Reforça os ossos

O esqueleto do ser humano, para se manter em forma, necessita de um fornecimento substancial de cálcio. Este mineral, juntamente com o fósforo, mantém os ossos e os dentes saudáveis. Mas para que se fixe no tecido ósseo, necessita da ajuda da vitamina D, a qual se adquire, em grande parte, através da radiação solar. Esta vitamina também se encontra nalguns alimentos, mas esta quantidade é insuficiente, sobretudo nas crianças e nas pessoas de idade avançada.

De qualquer forma, o facto do Sol favorecer a síntese dessa vitamina não é desculpa para ficarmos todo o dia deitados na praia. Apenas 15 minutos de exposição ao Sol serão suficientes para se conseguir toda a vitamina D de que o organismo necessita.

  • É antidepressivo

Nos países nórdicos, onde o Sol brilha em raras ocasiões, há taxas elevadíssimas de uma doença relacionada com a depressão, que os cientistas designaram por síndroma afetiva sazonal. Os sintomas são: desânimo, fadiga, necessidade exagerada de dormir, diminuição do desejo sexual, falta de concentração, aumento de peso e uma tendência para os alimentos açucarados.

Todas estas perturbações costumam diminuir ou desaparecer milagrosamente no verão, com apenas uns dias de exposição ao Sol. A explicação encontra-se no facto dos banhos de Sol, devidamente doseados e acompanhados de atividade física, aumentarem a produção de glóbulos vermelhos, revitalizarem o organismo e ajudarem a recuperar a energia gasta durante o inverno.

  • Ativa o desejo sexual

A luz que recebemos diariamente do Sol e a própria intensidade dessa luz também está relacionada com a fertilidade. Embora ainda não existam estudos clínicos determinantes, foi possível observar que, no Círculo Polar Ártico, durante os escuros meses de inverno, ocorre uma significativa diminuição do número de conceções. Por outro lado, já foi possível demonstrar a ocorrência de maior número de ciclos anovulatórios nas regiões mais a Norte.

Nos animais irracionais, está fora de dúvida que as funções reprodutoras ficam diminuídas durante os dias com pouca luz solar. Os cientistas consideram provável um efeito semelhante no ser humano, embora a nossa fisiologia sexual seja mais complexa. De qualquer forma, é certo que a apetência sexual, por diversas razões, é mais intensa nos períodos em que predomina a luz solar.

  • Potencia a beleza natural

A luz solar intervém de forma muito direta na nossa vida. Estudos demonstraram que a exposição ao Sol ativa no organismo a produção de melatonina, a hormona da beleza e da juventude.

A melatonina é segregada numa glândula situada no cérebro e controla o relógio biológico do corpo, esse mecanismo interno que nos diz quando devemos dormir e quando devemos acordar. Também se comprovou que a melatonina atua como antioxidante: é o inimigo número 1 dos radicais livres.

Artigo anteriormente publicado na edição impressa da SAÚDE E BEM-ESTAR.