Algumas dietas preconizam o chamado “dia do lixo” ou “dia de comer de tudo”, um dia por semana em que a pessoa pode comer livremente, sem se preocupar com o tipo de alimentos, as quantidades ou as calorias. A questão é: será que este comportamento tem benefícios ou, pelo contrário, apenas causará problemas? É o que veremos neste artigo.

Alexandre

Artigo da responsabilidade do Dr. Alexandre Fernandes, nutricionista

É como se fosse uma espécie de libertação temporária! Algumas pessoas escolhem o sábado ou o domingo para comerem o que quiserem, à vontade, sem se preocuparem com os valores calóricos e nutricionais.

As pessoas que adotam esta prática são aquelas que, por norma, fazem dietas muito restritivas ou desadequadas, retiradas de revistas, da internet, de amigos e/ou familiares, do “boca em boca”, etc., ou mesmo incentivadas por alguns profissionais de saúde. Então, aproveitam este “dia de liberdade” para reintroduzirem na sua alimentação todos os alimentos ricos em açúcares – bolachas, pastelaria industrial –, gorduras e sal – hambúrgueres com batatas-fritas, pizzas, lasanhas –, bebidas alcoólicas e bebidas açucaradas, entre outros alimentos hipercalóricos. Também é sabido que estes alimentos são nocivos para a saúde. Mas há quem pense e quem diga: “Afinal de contas, é só mesmo um dia por semana, certo?”

COMPLETAMENTE ERRADO!

Certo? Não! Completamente errado! O “dia do lixo” – como eu prefiro chamar-lhe –estimula o organismo a retomar o hipermetabolismo, que estava reduzido devido à dieta restritiva, ou seja, serve basicamente para aumentar a taxa do metabolismo do corpo. No entanto, encontra um organismo incapaz de queimar o excesso de calorias fornecidas, que prontamente são acumuladas sob a forma de gordura.

Outras situações nefastas podem, ainda, surgir dos recorrentes “dias do lixo”, como influenciar negativamente a relação emocional entre a própria pessoa e os alimentos não saudáveis, que pode causar transtornos alimentares, como anorexia, bulimia ou compulsão alimentar. Por outras palavras, a sobrevalorização criada pela expetativa da chegada deste dia afeta a psique e pode acarretar sérias consequências a curto prazo.

Portanto, o “dia do lixo” pode ser encarado como um aliado (porque aumenta o metabolismo), mas também pode ser bastante prejudicial. Isso vai variar bastante de pessoa para pessoa, porque quando o indivíduo é compulsivo para comer, dificilmente vai contentar-se com um dia apenas e, desta forma, saí fora da disciplina e do controlo, estragando completamente a dieta.

UNS DESLIZES DE VEZ EM QUANDO

Como pessoa e nutricionista, digo que é totalmente aceitável e até imprescindível, para se viver uma vida normal e saudável, cometer alguns deslizes de vez em quando, mas é apenas “alguns” e “de vez em quando”, e não “tudo num só dia”. O mais importante é que a pessoa possa comer os alimentos de que gosta, mas dentro de limites que são quantificados e estabelecidos pelo plano alimentar.

Por exemplo, há colegas nutricionistas que dizem aos seus pacientes que podem comer o que mais gostam, mas sempre reduzindo em 1/3 a 1/2 aquilo que comeriam normalmente; isso significa que, se forem fazer uma refeição de pizza onde comeriam 3 fatias, podem comer no máximo 2, podendo ficar teoricamente sem culpa. Esta dica é eficaz, porque permite uma maleabilidade muito boa no que se refere à quantificação.

É óbvio que o “dia do lixo” pode representar um papel fundamental no choque metabólico e que isso pode ser importante para aumentar a disposição e os níveis de energia nos dias seguintes, porque o organismo vai estar com as “baterias carregadas”. Mas, se a pessoa não souber controlar a ingestão, essa vantagem pode transformar-se facilmente num episódio desastroso.

Pense sempre na quantificação, aliada à qualidade, do que está a comer. Dê prioridade aos seus objetivos e não unicamente às vontades momentâneas, ou seja, aos apetites. Essa prioridade fará, certamente, com que possa conhecer-se melhor e compreender os seus limites e as respostas do seu organismo face a determinadas atitudes.

NÃO É UMA BOA PRÁTICA

Face ao que acabei de explicar, a minha opinião é que o “dia de comer de tudo” não deve ser encarado como uma boa prática – salvo raras exceções, em que o indivíduo consegue fazê-lo de maneira adequada, com consciência e sem exageros.

É importante referir que, quanto maior for a privação, maiores serão as possibilidades da pessoa “descarrilar” nesse dia. Imagine o seu organismo, que durante vários dias só recebeu alimentos leves, pouco calóricos e em quantidades adequadas, e de repente, num único dia, “leva” com alimentos hipercalóricos, ricos em sódio e em grandes quantidades? Como acha que se vai sentir?

Quando uma pessoa é educada nutricionalmente, sabe o que comer e quando comer, e se, em algum momento, sentir a necessidade de comer um hambúrguer com batatas fritas, por exemplo, ela fá-lo-á de forma totalmente consciente, sem problemas e com equilíbrio, sabendo também como compensar a seguir. Afinal, uma alimentação saudável não é só contar calorias…

Para concluir, considero que a designação de “dia do lixo” é um termo de extremo mau gosto. Desde quando “lixo” é bom? O melhor mesmo é vivermos sem exageros, sem dia para isto ou dia para aquilo. Termos consciência do que fazemos é a melhor parte da vida.

E então, ainda é adepto do “dia do lixo”?

 

 

Dicas para não sentir necessidade do “dia do lixo”

1ª DICA – Evite o consumo de hidratos de carbono de absorção rápida, como os açúcares, farinhas refinadas e doces, porque estes farão com que a insulina suba e haja uma diminuição dos níveis do fator de crescimento IGF-1.

2ª DICA – Não beba álcool (qualquer tipo álcool só vai estragar a dieta), devido à libertação de insulina em demasia.

3ª DICA – Evite a ingestão de refrigerantes, inclusive os zero e os light, devido ao seu elevado teor de sódio (que causa retenção de líquidos).

4ª DICA – No desespero para perder peso rapidamente, muitas pessoas passam horas e horas a treinar no ginásio, algo que não é adequado, porque após os 40 minutos iniciais, o organismo diminui os seus níveis de testosterona e começa a aumentar os do cortisol (hormona catabólica), que promove a queima de massa magra (massa muscular).

5ª DICA – Não fique sem se alimentar durante muitas horas, faça refeições corretas e equilibradas, nos horários mais adequados e ajustados ao seu dia-a-dia, ou seja, fracione as suas refeições.

6ª DICA – Não substitua refeições por suplementos. Se quiser utilizar algum tipo de suplementos, consulte previamente um especialista, nomeadamente um nutricionista. Mas utilize os suplementos apenas quando realmente necessários, porque eles são complementos e não alimentos.

Artigo publicado na Edição de Novembro 2015 (nº 255)