As pequenas perturbações digestivas são comuns nos lactentes. E, salvo raras exceções, costumam desaparecer após os primeiros três meses de vida.

 

“O meu bebé termina quase todas as refeições com uma longa série de incómodos soluços, vomita parte da toma e, por vezes, chora desconsoladamente, durante horas. Terá alguma perturbação gástrica?”. Calma: o mais provável é que o seu filho esteja bem e que estes problemas se devam apenas à sua imaturidade digestiva. Ora, veja…

SOLUÇOS

Porque se produzem – Trata-se de uma contração rítmica e involuntária do diafragma, músculo que separa a cavidade torácica do abdómen. Os soluços são acompanhados de um som característico, devido às cordas vocais se fecharem, com um estalido.

Os soluços constituem um incómodo transitório, que não afeta o estado de saúde do bebé. No lactente, desencadeiam-se facilmente, após a ingestão de alimento, devido à distensão que se produz no estômago. Além disso, serão mais frequentes se o bebé engolir ar durante a toma, pois a distensão será maior. Em geral, a série de soluços não dura mais de 10 minutos.

Até quando? – Os soluços costumam desaparecer decorrido o primeiro trimestre de vida. Se se prolongarem, deverá consultar o pediatra.

Como ajudar – Os soluços surgem mais frequentemente com a alimentação artificial do que com o aleitamento materno, pois a ingestão de ar costuma ser mais comum no primeiro caso.

Consulte o pediatra sobre a conveniência de usar tetinas antissoluço para o biberão, que ajudam a diminuir a aerofagia. Se os soluços ocorrerem durante a toma, interrompa-a e espere até que desapareçam. Entretanto, ajude o bebé a expulsar o ar e a relaxar-se.

REGURGITAÇÕES

Porque se produzem – Não deve confundir regurgitações com vómitos. Esta perturbação consiste na expulsão pela boca do conteúdo gástrico, durante ou imediatamente depois da toma, mas sem esforço. Deve-se, geralmente, a uma imaturidade do cardias, a válvula que separa o estômago do esófago e cuja missão é evitar o refluxo. Se as regurgitações não forem acompanhadas de outros sinais, não se deve preocupar; de facto, os pediatras falam de “regurgitador feliz”, quando, apesar desta perturbação, o bebé sorri, come com apetite e ganha peso.

Até quando? – Em geral, as regurgitações são frequentes até aos 8-10 meses de idade. Mas não se alarme se continuarem, pois, em cerca de 40% dos casos, persistem até depois dos 18 meses.

Como ajudar – Não force o bebé a comer: muitas vezes, a regurgitação produz-se porque o estômago não é capaz de alojar todo o leite ingerido. Tente não mexer muito o bebé depois da toma; procure que ele coma num local tranquilo; não o deite logo que acaba a toma; ajude-o a expulsar os gases; e eleve-lhe a cabeceira da cama, colocando uma almofada por baixo do colchão.

GASES

Porque se produzem – No lactente, os gases surgem por várias razões: pela fermentação do alimento ingerido, como acontece a todos nós; ou pela deglutição de ar, devido a uma técnica de mamar errada ou a uma sucção muito vigorosa.

Como ajudar – O melhor remédio é uma boa técnica de sucção. Não espace em excesso as tomas, pois o bebé ficará com mais apetite e succionará com mais avidez; evite que ele chore antes da refeição; assegure-se de que está bem colocado no peito – deve abarcar, não só o mamilo, como parte da aréola; e se é alimentado com biberão, incline-o o suficiente para que a tetina esteja sempre cheia de leite.

No final ou a meio da toma, se o bebé necessitar de um descanso, tente que ele expulse o ar. Coloque-o sobre o seu ombro e dê-lhe umas suaves palmadinhas nas costas. Também faz bem umas massagens na zona abdominal.

CÓLICAS

Porque se produzem – Se o bebé chora de forma inconsolável e persistente, mais de 3 horas por dia, durante mais de 3 dias por semana e durante mais de 3 semanas – sobretudo, ao fim da tarde –, é provável que sofra da chamada “cólica do lactente”. Neste caso, notará que o seu bebé encolhe as pernas e fica vermelho.

Não existe uma causa exata para a cólica do lactente. Para muitos pediatras, trata-se de um grau extremo de choro normal. Também se relaciona, nalguns casos, com perturbações digestivas – intolerância à lactose, refluxo gastroesofágico, etc. –, problemas de imaturidade intestinal ou gases.

Até quando? – Costumam desaparecer espontaneamente, passados os primeiros três meses de vida.

Como ajudar – Antes de mais, tente manter a calma. Apesar do pranto contínuo, não está a acontecer nada de grave. Como não existe um tratamento farmacológico eficaz, as seguintes medidas ajudarão aos dois: passeie-o ou massaje-o na barriga, com movimentos rítmicos; acaricie-o e cante-lhe uma canção; e, se nota que vai perder o controlo, peça ao seu parceiro que a substitua por um bocadinho.

Leia o artigo completo na edição de janeiro 2023 (nº 334)