O ato de brincar é característico de uma boa saúde e de um adequado desenvolvimento. Através dele, o bebé ensaia as suas primeiras habilidades e, à medida que cresce, as brincadeiras vão mudando de forma e de função.

O ato de brincar desenvolve-se num espaço que é de fantasia, um lugar a meio caminho entre a realidade interna e o mundo exterior. Há quem considere que o brincar é, meramente, uma forma de relaxação e uma experiência de puro prazer, que não deve ser levada demasiado a sério. Mas não é assim. Desde que pedagogos descobriram o quanto que as crianças aprendem através da brincadeira, referem-se a ela como “o trabalho das crianças”.

Para a criança, a brincadeira também é um meio de relaxamento, um modo de se expressar consigo mesma e, inclusive, pode conceber-se como uma preparação para a vida. Através dos materiais, a criança aprende o que fazer com as coisas que o rodeiam; graças aos jogos verbais, experimenta a linguagem; e, imitando os adultos, começa a adquirir as habilidades que, mais tarde, lhe serão necessárias para se desenvolver em sociedade.

BRINQUEDOS EDUCATIVOS

Professores e educadores há muito que compreenderam que as crianças pequenas aprendem mais facilmente se os ensinamentos forem introduzidos através de brinquedos e materiais atrativos. Muitos pais, por seu lado, entusiasmam-se com a ideia dos seus filhos desfrutarem de brinquedos e jogos educativos. Os fabricantes não tardaram a descobrir essa tendência e trouxeram para a luz do dia uma grande quantidade de brinquedos educativos, muitos deles verdadeiramente bons e úteis.

Em casa, no infantário ou na creche, os adultos tentam proporcionar às crianças brinquedos que lhes permitam explorar e aprender. Frequentemente, os pais investem quantias importantes nesse objetivo. No entanto, também frequentemente, ficam dececionados, ao comprovarem que, em pouco tempo, a criança deixa de dar atenção ao “tal brinquedo educativo”: prefere brincar com coisas da casa, que transforma naquilo que lhe apetece.

Há que salientar que a criança precisa de desenvolver a sua imaginação de modo criativo, bem como necessita de usar as suas mãos com destreza, através de todo o tipo de experiências. Por isso, é importante saber que todos os brinquedos são úteis e necessários à sua aprendizagem, incluindo os que não têm a etiqueta de educativos e, inclusive, aquilo que nem sequer consideramos como brinquedos, como um pau, uma colher ou uma panela.

FORMA DE EXPRESSÃO

A criança costuma utilizar a brincadeira como uma válvula de escape para os seus sentimentos reprimidos: ao brincar, é mais fácil exercer o controlo sobre aquilo que sente, porque é ele mesmo que domina a situação. Por conseguinte, brincar é uma forma de expressão e um meio de autocontrolo. Em certa medida, é-lhe útil ter por perto um adulto que não desaprove as suas atividades, pois isso permite-lhe saber que aquilo que está a fazer é aceitável.

No entanto, há momentos em que é preferível que a criança expresse os seus sentimentos sem estar sujeito à supervisão direta de um adulto. Especialmente se essa pessoa for a sua mãe, a qual, embora inconscientemente, pode ser o objeto de alguns dos sentimentos que a criança expressa através da brincadeira. Ela é a pessoa mais importante na sua vida e é provável que seja o alvo dos seus sentimentos mais amorosos e, também, dos mais hostis. Assim, é conveniente que a criança possa expressar livremente alguns desses sentimentos, sem se preocupar com a aprovação da mamã.

Por vezes, os pais observam as brincadeiras das suas crianças e surpreendem-se ao testemunharem repentinos ataques de cólera e agressividade, sentimentos que costumam ser projetados sobre um brinquedo. Trata-se, igualmente, de uma forma de expressão da criança, neste caso, relacionada com uma certa frustração. Pelo contrário, é comum a criança nutrir um especial afeto por algum dos seus brinquedos, por razões que os adultos não conseguem entender. No entanto, se esse brinquedo for realmente importante para a criança, é prejudicial tentar romper o vínculo.

SOZINHOS OU COM OS AMIGOS?

Outra das preocupações próprias dos pais é saber até que ponto as crianças necessitam de outros companheiros de brincadeira – amigos ou irmãos. Quando se procura estimular o comportamento social da criança, não se pode esquecer que ela deve aprender a conviver com os outros, tal como também, por vezes, necessita de estar só, dispor de tempo para brincar consigo mesma e para sonhar. Mas para aprender a superar as crises da vida, a criança necessita de as representar através da brincadeira e de partilhá-las com os da sua idade. Tanto psicólogos como pedagogos estão de acordo em afirmar que as crianças devem brincar com outras crianças.

Até certa idade, não se pode esperar que a criança compreenda o significado de “partilhar algo” ou “aguardar pela sua vez para brincar”. Ao princípio, os pequenos brincam lado a lado, mas não uns com os outros. É assim até aos 4 anos. Se se observar com atenção, notar-se-á que, embora pareça brincar sozinha, a criança olha com grande curiosidade para os outros miúdos. Em geral, os primeiros contactos costumam ser indiretos e mantendo uma distância prudente: emprestar uma bola a um companheiro ou acrescentar uma peça à sua construção. Estes primeiros contactos podem parecer pouco amistosos – é frequente que as crianças se batam –, mas rapidamente aprendem a aproximar-se uns dos outros de forma mais civilizada.

Por volta dos 4 anos, o garoto começa a entender, em certa medida, os sentimentos das outras pessoas e começa a desenvolver uma capacidade, cada vez mais avançada, para o jogo cooperativo. Quando a criança descobre que necessita dos outros para as brincadeiras, é provável que se mostre mais disposto a renunciar a algum dos seus caprichos.

À medida que vai crescendo, o jovem adquire a capacidade de compreender as regras e isso dá-lhe a possibilidade para participar em brincadeiras coletivas. Os jogos com regras – seja o futebol ou o monopólio – exigem ao máximo a participação social da criança e, na maioria dos casos, esta tem de colocar em segundo plano a sua identidade, em benefício da do grupo, brincando em par de igualdade com as outras crianças.

Por vezes, os pequenos têm companheiros imaginários, sobretudo entre os 3 e os 5 anos. O papel destes companheiros imaginários parece semelhante ao dos restantes brinquedos: permitem à criança representar situações sobre as quais tem um controlo absoluto, experimentando, com isso, segurança e confiança.

Leia o artigo completo na edição de dezembro 2023 (nº 344)