Nunca é demais recordar a noção de que o bem-estar e a produtividade andam de mãos dadas. Embora a ideia pareça óbvia, importa frisá-la, porque, em Portugal, a produtividade ainda é o “calcanhar de Aquiles” da economia, e é grandemente influenciada pelo grau de bem-estar individual dos colaboradores.

 

Artigo da responsabilidade de Manuela Abreu, diretora do Departamento de Nutrição da Nutrium

 

De acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento), Portugal ocupa o 3º pior lugar da Zona Euro no que diz respeito à riqueza gerada por cada hora de trabalho. Mais: os portugueses trabalham mais por menos remuneração. Estamos entre os cinco países (juntamente com Roménia, Espanha, Luxemburgo e Itália) com maior risco de pobreza entre trabalhadores. Em 2019, em Portugal, 11% da população empregada era considerada pobre, ou seja, vivia com rendimentos inferiores ao limiar de risco de pobreza.

Além disso, somos o terceiro país da União Europeia com a maior percentagem de pessoas acima dos 64 anos ainda ativas no mercado de trabalho, apenas atrás da Estónia e da Irlanda e com o dobro da média da UE (11,7% em Portugal vs. 5,7% entre os 27 países comunitários). Não admira, por isso, que sejamos o país da União Europeia onde os trabalhadores mais correm o risco de sofrer “burnout”*.

Por todos estes motivos, investir na saúde dos trabalhadores portugueses é cada vez mais prioritário e traz um retorno quase imediato a vários níveis. Atentas a esta problemática, muitas empresas têm recorrido à implementação de programas focados na atividade física e na nutrição, por exemplo, como forma de aumentar a satisfação pessoal e profissional e, consequentemente, a produtividade dos colaboradores.

Vejamos alguns exemplos de casos reais:

  • José Alves sofreu de síndrome do intestino irritável durante 15 anos, procurou ajuda médica, fez exames, terapias e medicação, mas nada resultou. Este ano começou a ser acompanhado por um programa de nutrição concedido pela empresa onde trabalha e, em 3 meses, controlou o seu problema. Afirma ser mais produtivo porque perde menos tempo em idas à casa de banho e trabalha com mais concentração por já não sofrer de dores abdominais e cólicas;
  • Daniel Almeida decidiu também experimentar as consultas de nutrição gratuitas oferecidas pela sua empresa. Afirma que nunca teria procurado um nutricionista por iniciativa própria, porque sempre achou que estava bem. Descobriu então que estava com peso abaixo do indicado e iniciou um processo de aumento de peso que, em alguns meses, se traduziu num ganho de 4kg de massa muscular. Hoje, sente mais energia ao longo do dia, não só no trabalho mas também na sua vida pessoal, tendo conquistado uma relação mais saudável com a sua alimentação e o seu corpo;
  • André Santos perdeu 28kg no total, também com a ajuda de um programa dentro da sua empresa. Considera que esta mudança permitiu aumentar os seus níveis de concentração e energia durante o dia e tornou-o mais disciplinado – o que ajudou também ao aumento da produtividade.

O acompanhamento por um nutricionista pode ser útil em diversos casos, não só no combate a patologias, mas também para melhorar a saúde dos trabalhadores. Outras empresas conciliam estes programas com iniciativas que promovam a atividade física dos colaboradores, o que também se torna cada vez mais importante, considerando que Portugal está entre os países da União Europeia com menores níveis de atividade física**.

Além do impacto no bem-estar físico, estas iniciativas melhoram a saúde mental dos colaboradores, com ganhos ao nível da autoestima, confiança e motivação, em concreto. Ainda assim, a saúde mental deve ser outra das apostas específicas das empresas, no sentido de garantir um cuidado completo junto dos seus colaboradores. Pequenas soluções podem fazer muita diferença.

É, pois, urgente pensar sobre estas possibilidades e ajudar os trabalhadores portugueses a encontrar a satisfação pessoal que os levará a um maior sucesso a nível profissional. Em última instância, é a economia portuguesa que está em causa e é ela que ganha com estes programas. Afinal, há uma verdade incontornável no mundo laboral: “bem-estar é bem trabalhar”.

*Segundo o portal “Small Business Prices”, que efetuou cálculos tendo por base o índice de felicidade mundial de cada país, o salário médio anual e as horas de trabalho semanais.

** Segundo um relatório divulgado pelo European Heart Network em 2020.