Em Portugal, a cada hora, três portugueses sofrem um AVC, sendo que um destes não sobrevive e um ficará com sequelas incapacitantes. Uma nova terapia, designada recoveriX, surge como um sinal de esperança para a recuperação de milhares de portugueses.
Artigo da responsabilidade do Dr. Jorge Alves. Neuropsicólogo. Especialista Avançado em Neuropsicologia. Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Diretor do Centro CEREBRO.
Todos os anos, 15 milhões de pessoas são vítimas de acidentes vasculares cerebrais (AVC). Em Portugal, é a primeira causa de morte. Os dados mais recentes divulgados pela Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral referem que, por hora, três portugueses sofrem um AVC, sendo que um destes não sobrevive e um ficará com sequelas incapacitantes. A nível mundial, a taxa de mortalidade é de cerca de 30% e outro terço das pessoas fica com sequelas físicas permanentes, que vão afetar a qualidade de vida dos pacientes, podendo ainda resultar em complicações mais graves, como pneumonias, tromboses ou contraturas.
NEUROTECNOLOGIA INOVADORA
A terapia recoveriX é uma neurotecnologia inovadora que ajuda o paciente a recuperar as funções das extremidades superiores e inferiores, ao mesmo tempo que potencia a fisioterapia padrão, com a possibilidade de uma recuperação mais rápida e melhor sucedida. Surge como uma nova oportunidade de reabilitação, na medida em que pode ser aplicada mesmo após a aplicação de uma terapia padrão que não conseguiu produzir nenhum benefício adicional.
Os pacientes aos quais já foi aplicada esta terapia apresentaram visíveis melhorias, nomeadamente no que se refere à sua locomoção, maior capacidade de concentração, aumento da capacidade de memória, capacidade de movimento ativo e passivo, redução da espasticidade, aumento da sensibilidade, bem como redução de tremores.
EFICÁCIA DEMONSTRADA
A eficácia clínica da terapia recoveriX foi demonstrada num estudo de grupo realizado junto de 51 pacientes que melhoraram nas funções motoras e na espasticidade de forma altamente significativa. “Brain Computer Interface Treatment for Motor Rehabilitation of Upper Extremity of Stroke Patients—A Feasibility Study” foi publicado na Frontiers in Neuroscience, em 2020. Os estudos realizados, até ao momento, foram focados em pacientes doentes crónicos que demonstraram melhorias através de várias análises estatísticas e documentações em vídeo, nas quais foi possível visualizar claramente as melhorias.
Citando Christoph Guger, fundador da g.tec medical engineering GmbH e diretor executivo do recoveriX Schiedlberg, “com o nosso estudo de grupo com 51 pacientes que melhoraram nas funções motoras e na espasticidade de forma altamente significativa, provámos que a terapia recoveriX é eficaz mesmo 10, 20 ou 30 anos após a doença neurológica”. Esta evidência científica vem assim comprovar que estamos a assistir a um importante avanço no tratamento destes pacientes, na medida em que comprova que é possível obter sucessos mesmo que o AVC já tenha ocorrido há um ou mais anos.
COMBINAÇÃO DE TRÊS TERAPIAS
A terapia recoveriX resulta, na verdade, da combinação única de três terapias que são aplicadas onde os danos ocorreram: no cérebro. A chave para o sucesso da terapia recoveriX é a ligação direta entre os processos cognitivos e os movimentos prejudicados das mãos e dos pés.
As três terapias são:
- Imaginação Motora (IM), através da qual o paciente imagina o movimento da mão enquanto o recoveriX mede a sua atividade cerebral através de sinais EEG. Esta simulação vai ativar áreas do cérebro, o que vai facilitar a plasticidade cerebral. A interface cérebro-computador (ICC) garante que os movimentos reais apenas ocorrem quando as pessoas imaginam o movimento correspondente. A ativação simultânea de áreas corticais e neurónios periféricos relevantes encoraja a aprendizagem Hebbiana.
- Realidade Virtual (RV), onde a imaginação conduz a uma simulação virtual do membro imaginado no ecrã. Os pacientes sentam-se em frente a um ecrã, onde veem as mãos de um avatar. Isto dá aos pacientes a sensação de verem os seus próprios movimentos em frente de um espelho. Pode facilitar a ativação dos neurónios-espelho.
- Estimulação Elétrica Funcional (FES), em que o movimento imaginado torna-se um movimento real através da estimulação dos seus músculos afetados, sem qualquer dor. São colocados no membro superior do paciente dois elétrodos sobre os dorsiflexores do pulso. Se o sistema reconhecer uma imaginação motora correta, os músculos são estimulados eletricamente, provocando um movimento real. Isto deve ajudar a reaprender como iniciar o movimento e, assim, tornar o movimento novamente possível. Desta forma, o paciente recebe um feedback claro e de fácil utilização através de movimentos ativos. Funciona como uma motivação, porque a experiência relembra-o do objetivo desejado: poder mover-se novamente.
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