Em Portugal, cerca de 8% dos bebés nascem prematuros, o que exige cuidados médicos redobrados. Porém, um dos maiores sucessos da Medicina Moderna é a recuperação e sobrevivência destas crianças.

 

Até meados do século passado, os bebés prematuros que não morriam logo após o parto eram colocados em pequenas caixas de madeira cuidadosamente acolchoadas com algodão hidrófilo e mantidas em ambientes quentes. Em tais condições, os prematuros sobreviviam apenas graças à sua capacidade física. Aqueles que não eram suficientemente fortes sucumbiam.

Na atualidade, o quadro é muito diferente e a criança prematura tem mais ou menos as mesmas probabilidades de sobrevivência que uma criança nascida de termo: este é o resultado de múltiplos fatores, como a utilização de berços termostáticos, as possibilidades de alimentação por sonda, o conhecimento das exigências calóricas da criança, entre outros fatores.

Quando é que o bebé é prematuro?

Segundo os velhos textos de Medicina, a criança prematura é aquela que nasce entre o 181º e o 260º dia de gestação. No entanto, esta definição foi modificada, porque nem sempre é fácil estabelecer com exatidão a duração real da gestação. Hoje, valoriza-se as diferenças entre o recém-nascido de baixo peso à nascença – ou seja, com um peso inferior a 2500 gramas – e o verdadeiro prematuro, que nasce antes da 37ª semana desde a última menstruação.

O nascimento do prematuro encontra-se ligado a determinadas circunstâncias:

  • incapacidade do útero para continuar a albergar o feto;
  • desprendimento prematuro da placenta;
  • início das contrações uterinas capazes de desencadear o parto;
  • stress emocional ou físico – traumatismos, emoções fortes e operações cirúrgicas –, que possa afetar a mãe, durante o período da gestação.

O nascimento de um bebé com peso baixo está, por outro lado, relacionado com uma alimentação materna deficiente, com a presença, sempre na mãe, de doenças graves e debilitantes, com trabalhos que impliquem um esforço excessivo ou com condições deficientes da placenta.

Órgãos e sistemas imaturos

Os problemas enfrentados por um prematuro são muito numerosos e graves. A sua importância aumenta ou diminui, dependendo das semanas de gestação. Quanto mais cedo nascer, maior é a probabilidade de sofrer algumas destas perturbações. Embora nem todos apresentem os mesmos problemas, nem o mesmo grau, quase nenhum se livra de permanecer várias semanas numa incubadora: as necessárias para amadurecer, antes de ir para casa. Estas são algumas das complicações médicas mais comuns:

Pulmões – O surfactante pulmonar é uma substância que reveste os pulmões por dentro e que facilita os mecanismos da respiração. Este componente aparece por volta da 32ª semana de gestação. Se o bebé nascer antes, é muito provável que não tenha surfactante em quantidade suficiente, o que ocasiona um grande esforço para encher os pulmões de ar. Se a isto acrescentarmos a pouca força muscular do prematuro, respirar converte-se, para estas crianças, numa tarefa muito difícil.

Não obstante, nos últimos anos, este problema controla-se, em parte, administrando corticoides à mãe antes do parto, introduzindo nos pulmões do recém-nascido surfactante artificial e utilizando as modernas técnicas de ventilação. Graças a estes avanços, aumentou consideravelmente a sobrevivência dos bebés e, sobretudo, a sua qualidade de vida, durante os primeiros meses.

Sistema digestivo – Os recém-nascidos prematuros necessitam de grande quantidade de nutrientes para conseguirem sobreviver, mas o seu sistema digestivo ainda não amadureceu e, durante as primeiras semanas, pode ser necessário alimentá-los por via intravenosa ou sonda nasogástrica.

Retina – Quando um bebé nasce antes do tempo, as artérias da retina ainda não acabaram de se formar e determinados fatores, como a concentração de oxigénio no sangue, podem alterar o processo de maturação. As retinopatias podem corrigir-se com tratamento adequado, se detetadas precocemente.

Cérebro As lesões cerebrais são pouco frequentes e apenas se produzem nos prematuros abaixo das 30 semanas. Nestas crianças, não existe um mecanismo regulador do sangue que chega ao cérebro, de modo que, quando há alterações bruscas na pressão arterial, estas afetam os vasos sanguíneos do cérebro, que podem romper-se, provocando hemorragias ou falta de irrigação sanguínea.

Infeções – O sistema imunitário dos bebés que nascem antes do tempo também é imaturo e, portanto, a sua capacidade de defesa face às infeções, durante os primeiros meses, fica muito comprometida. De facto, com estas crianças, há que ter especial a cuidado, para evitar o contacto com gérmenes que possam provocar uma infeção, da qual não conseguiriam defender-se.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2021 (nº 321)