O acidente vascular cerebral é uma doença repentina, que não produz sintomas e não tem tratamento preventivo, para além do controlo dos fatores de risco e da prática de uma vida saudável. Uma aposta importante é a avaliação do risco através de um exame de rastreio.

 

Os dados de prevalência do acidente vascular cerebral (AVC) em Portugal são avassaladores: a cada hora, três portugueses sofrem um AVC, um deles não sobrevive e metade dos sobreviventes ficará com sequelas incapacitantes. Não fossem estas razões por si só suficientes para ser tão temível, o AVC é, também, a segunda causa mais importante de demência.

CONSEQUÊNCIAS CATASTRÓFICAS

A sigla AVC caracteriza-se por a abolição do funcionalismo cerebral, ou seja, um traumatismo que afeta o movimento, sensibilidade e consciência do “comandante” do nosso organismo.

Os neurónios são células muito sensíveis que, ao contrário das outras células, não são capazes de armazenar o seu alimento, o qual apenas pode chegar-lhes dissolvido no sangue. Isto faz com que após poucos minutos sem receber os nutrientes de que necessita, sucumbem por inanição. Se estas células fossem “normais”, multiplicar-se-iam. Mas tal não acontece. Os neurónios não se reproduzem – os que se formam na infância são para toda a vida –, o que implica a perda irreversível da sua função. Assim sendo, a falta de irrigação sanguínea já dramática noutros órgãos, para os neurónios tem consequências catastróficas.

Esta irrigação sanguínea provém de duas fontes principais: as artérias carótidas, que sobem pelos lados do pescoço e penetram no crânio pela sua parte anterior; e as vertebrais, que atravessam as vértebras do pescoço, penetrando no crânio pela parte inferior.

Causas e fatores de risco

O AVC é uma doença aguda na qual, em consequência de uma obstrução nos vasos sanguíneos cerebrais, resulta a lesão e morte dos neurónios. Ao não encontrar o caminho livre, o sangue não consegue passar convenientemente e essa supressão brusca da irrigação pode ter uma extensão de poucos milímetros a quase metade do cérebro, dependendo do vaso doente. Em poucos minutos começam a morrer os neurónios dessa zona, com a consequente perda da sua função específica, como movimento, controlo corporal, fala, entre outras.

Existem três causas para a ocorrência de um AVC: pode ser isquémico, originado pelo crescimento de placa ateroesclerótica (estrangulamento da artéria); por libertação de um trombo (entupimento da artéria); ou hemorrágico, quando um vaso rompe e causa uma hemorragia cerebral (exaustão das paredes das artérias).

Assim sendo, por ser uma doença que não produz sintomas e é repentina (quando dá sinais de alerta significa que a doença está presente – boca de lado, dificuldade em falar e falta de força num braço), não tem tratamento preventivo, a não ser a cultura de uma vida saudável.

É que esta doença é pouco frequente em pessoas saudáveis: geralmente, só afeta aqueles que reúnem uma série fatores de risco. São eles: fumar, hipertensão, diabetes, colesterol mau elevado e a idade avançada. Porém, ninguém lhe está imune.

Ecodoppler alerta para o perigo

Se muitos dos AVCs dão-se sem qualquer sintomatologia prévia associada, alimentar convenientemente os neurónios depende de cada um de nós. Evitar a adopção de comportamentos de risco é, indubitavelmente, o primeiro passo. Mas como nem só dos organismos “doentes” o AVC se “alimenta”, o melhor será apostar em métodos de diagnóstico médico, que ajudam a perceber o que o destino lhes poderá reservar.

Um dos métodos de diagnóstico é avaliação da aterosclerose nas artérias carótidas através de um exame de ecodoppler.

O ecodoppler da carótida é uma ecografia efetuada na zona do pescoço que avalia o volume do fluxo sanguíneo presente na artéria, mas também a presença de hemorragia ou úlcera da placa, que está habitualmente associada a sintomatologia, quando esta exista.

Nesse sentido, a sensibilidade do ecodoppler no diagnóstico das estenoses hemodinamicamente significativas (superior a 60% de diâmetro) é próxima dos 95%, com uma especificidade de 98%, sendo por isso o método de eleição para a avaliação vascular da carotídea e vertebral.

Este exame de diagnóstico, para além da sua fiabilidade, não requer qualquer preparação prévia, não acarreta quaisquer riscos e é efetuado com o doente deitado, com alguma extensão do pescoço, sendo posteriormente colocado gel, para adequada condução dos ultrassons.

Leia o artigo completo na edição de março 2022 (nº 325)