AS DOENÇAS DA TIROIDE SÃO RELATIVAMENTE FREQUENTES, DEVENDO AFETAR CERCA DE 5% DOS PORTUGUESES. O DIAGNÓSTICO E O TRATAMENTO SÃO, EM GERAL, FÁCEIS E SIMPLES. PORÉM, HÁ QUE ESTAR PARTICULARMENTE ATENTO ÀS ALTERAÇÕES DA FUNÇÃO TIROIDEIA DURANTE A GRAVIDEZ.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Maria João Oliveira, endocrinologista e membro do Conselho Consultivo/Científico da Associação das Doenças da Tiroide (ADTI)

 

 

A tiroide é uma pequena glândula (pesa cerca de 15-25 gramas) com a forma de borboleta, que está localizada na face anterior da base do pescoço, à frente da traqueia.

Esta glândula é denominada endócrina porque as hormonas que fabrica e armazena são libertadas diretamente para o sangue. É através da corrente sanguínea que as hormonas vão chegar a todas as células, tecidos e órgãos do corpo.

As duas hormonas tiroideias, T3 tri-iodotironina (assim denominada por possuir três átomos de iodo) e T4 tiroxina (que apresenta quatro átomos de iodo na sua molécula), atuam ao nível de quase todas as células e ajudam a controlar o seu metabolismo, ou seja, a sua velocidade de funcionamento. Ajudam a utilizar a energia e regulam a temperatura corporal, o crescimento e desenvolvimento intelectual nas crianças e permitem um normal funcionamento do cérebro, músculos, coração e outros órgãos. São também importantes para a memória e para o estado de humor das pessoas. Isto significa que a função da tiroide é essencial para a vida.

HIPOTIROIDISMO: DOENÇA INSIDIOSA

As doenças da tiroide são relativamente frequentes. Embora se desconheçam os números exatos, estima-se que cerca de 5% dos portugueses possam apresentar alguma forma de doença da tiroide, nomeadamente uma alteração na sua função.

Se a produção de hormonas se tornar insuficiente, a concentração de T4 e T3 reduz-se no sangue, a concentração da hormona da hipófise que é estimuladora da tiroide – TSH – eleva-se no sangue (provoca um estímulo positivo na tiroide), menos hormonas tiroideias entram nas células e o metabolismo celular desacelera. E todo o organismo começa a funcionar mais devagar, de forma a poupar energia. A esta condição chama-se hipotiroidismo.

O hipotiroidismo é uma patologia insidiosa, que se manifesta lentamente e os seus sinais e sintomas podem ser inespecíficos, dificultando o diagnóstico e atrasando o seu tratamento.

Os sintomas que estão mais vezes presentes são: cansaço, maior sensibilidade ao frio, queda de cabelo, pele seca, aumento de peso, edemas, fraqueza muscular, depressão, obstipação, irregularidades menstruais, com ou sem bócio (aumento do volume da tiroide que provoca um aumento do volume do pescoço).

HIPERTIROIDISMO: SÚBITO E EXUBERANTE

Se houver excesso de produção de T4 e T3, a concentração destas eleva-se no sangue, pelo contrário a concentração da TSH reduz-se e o metabolismo celular eleva-se. As funções do organismo ficam aceleradas e dá-se um maior gasto de energia: estamos, então, na presença de hipertiroidismo.

O hipertiroidismo aparece, geralmente, de uma forma mais súbita, com uma clínica mais evidente e exuberante: alterações do humor, irritabilidade, agitação, perda inexplicada de peso apesar de aumento do apetite, tremor, suores, intolerância ao calor, palpitações, diarreia, irregularidades menstruais, aumento do volume cervical (bócio).

Apesar de ser, por vezes, confundido com outras doenças, nomeadamente problemas psiquiátricos, o hipertiroidismo não passa despercebido. Esta situação deve ser rapidamente tratada, pois pode causar “exaustão” em alguns dos órgãos, nomeadamente no coração.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTOS

O diagnóstico da alteração no funcionamento da tiroide é simples e pouco oneroso, apenas é preciso pensar nele. Faz-se através do doseamento da TSH (hormona estimuladora da tiroide) e da T4 numa análise ao sangue.

O hipotiroidismo é 10 vezes mais frequente do que o hipertiroidismo e a mulher é 10 vezes mais afetada do que o homem.

O tratamento do hipotiroidismo também não é complicado: é um tratamento de substituição, com a toma da hormona da tiroide T4 (levotiroxina). No organismo, esta perde um dos átomos de iodo e vai-se transformar em T3 consoante as necessidades. É através do doseamento periódico da hormona estimuladora da tiroide – TSH – no sangue que se faz a titulação da dose necessária da levotiroxina.

O hipotiroidismo não se pode curar e habitualmente o seu tratamento é para toda a vida. Contudo, em praticamente todos os pacientes, consegue-se controlar por completo e, ao restaurar os níveis das hormonas da tiroide no organismo, este recomeça a funcionar de uma forma normal.

O hipertiroidismo pode ser muito grave, o seu tratamento pode ser complexo, através de comprimidos que reduzem a síntese de hormonas da tiroide, iodo radioativo (Iodo-131) ou cirurgia. A escolha ou sequência destes tratamentos e sua monitorização não é simples e estes doentes devem ser acompanhados por um médico especialista.

RISCO PARA A GRÁVIDA…

Sabe-se que a tiroide também desempenha um papel importantíssimo durante a gravidez. A carência materna de hormonas tiroideias (hipotiroidismo) pode atingir mais de 3% das gestações. Ao longo da gravidez, há alterações fisiológicas no organismo da mãe que obrigam a que a glândula tiroideia tenha um esforço acrescido.

O hipotiroidismo não tratado na mulher em idade fértil pode causar dificuldade em engravidar e aumentar o risco de aborto no início da gravidez. Durante a gestação, o hipotiroidismo pode provocar alterações na circulação sanguínea placentária, na quantidade do líquido amniótico, aumentar o risco de aparecimento de hipertensão arterial e também aumentar a probabilidade de um parto pré-termo ou instrumentado.

…E PARA O BEBÉ

Até cerca das 20 semanas de gestação, a tiroide do feto ainda não sintetiza as hormonas necessárias para o seu desenvolvimento, pelo que este necessita das hormonas tiroideias provenientes da sua mãe.

As hormonas da tiroide são indispensáveis ao desenvolvimento do feto, especialmente do seu sistema neurológico. Um défice destas in útero pode-se traduzir, mais tarde, num atraso de desenvolvimento ou em dificuldades de aprendizagem da criança.

Para engrandecer a importância da tiroide numa etapa tão importante da vida como é a maternidade, este ano, a Semana Internacional da Tiroide e o Dia Mundial da Tiroide – 25 de maio – foram dedicados, precisamente, a este tema: a tiroide, a mãe e o seu bebé.

Sendo tão pouco falada há alguns anos, o conhecimento da glândula tiroideia tem despertado um grande interesse, pelo seu papel fundamental na saúde e bem-estar de todos nós.

Artigo anteriormente publicado na edição impressa da SAÚDE E BEM-ESTAR