O SONO É UM REGENERADOR DO ORGANISMO E QUAISQUER FATORES QUE O PERTURBEM VÃO INDUZIR DESEQUILÍBRIO E DOENÇA, QUE DEVE SER TRATADA COM O MESMO CUIDADO E ATENÇÃO QUE QUALQUER OUTRA PATOLOGIA.
Artigo da responsabilidade do Dr. Arnaldo Matos, médico otorrinolaringologista, Hospital da Lapa, Porto
É um tema apaixonante e controverso, uma vez que várias especialidades médicas disputam a primazia de tratar e investigar patologias como a roncopatia, a apneia e outras perturbações do sono. Sendo muitas vezes “territórios de fronteira“, facilmente se reclamam como mais aptos ou preparados para a resolução do problema.
Assim, a Otorrinolaringologia, a Pneumologia e a Psiquiatria, por razões diversas, mas muitas vezes coincidentes, tratam estas patologias.
Idealmente, deve haver sintonia de esforços, para um correto diagnóstico e tratamento.
SINTOMAS A TER EM CONTA
Quando alguém suspeita de uma perturbação do sono, sua ou de um familiar, deve consultar o médico de família para uma avaliação do problema, pois este saberá indicar o especialista a consultar.
Os sintomas de alarme são vários, mas devemos ter em atenção os mais comuns e os que melhor ilustram estas doenças, porque na verdade qualquer alteração da arquitetura normal do sono produz doença.
O ressonar, por si só, não é doença, mas se mudar o padrão de ronco, frequência e altura pode ser sinal de patologia.
Um sono agitado, insónias ou hipersonolência e sudação excessiva durante a noite seguramente devem ser encarados com seriedade e esclarecidas as causas.
Nas crianças, além dos sintomas referidos, podem surgir irritabilidade, mau rendimento escolar e enurese noturna (urinar na cama).
Um sintoma muito importante é a apneia, período durante o qual a respiração para durante o sono, mais de 10 segundos.
Sintomas e sinais mais discretos são a fadiga e cansaço diurno, especialmente matinal, a tendência para adormecer facilmente em situações pouco usuais, como a ler, a conduzir, enquanto espera numa repartição pública, por exemplo.
Alterações do humor e da capacidade de concentração, e mesmo diminuição da atividade sexual, podem todos ser consequências de alterações do sono.
O excesso de peso, o consumo de álcool e as drogas – como, por exemplo, os tranquilizantes – agravam e podem desencadear a doença.
Nos casos mais graves, as perturbações do sono podem surgir e agravar doenças como a hipertensão arterial, arritmias cardíacas, refluxo gastroesofágico e um sem número de outras complicações, incluindo enfarte de miocárdio e acidente vascular cerebral.
Se estes sintomas surgem, particularmente a apneia, o paciente deve ser orientado para avaliação clínica.
ESTUDO CLÍNICO
O especialista em Otorrinolaringologia vai obter a história clínica, usando questionários que estão estandardizados, e desde logo fica com uma perceção do problema.
Ao realizar o exame físico, para além do peso e altura, deverá medir o perímetro do pescoço e examinar o nariz, boca, faringe e laringe, para poder perceber o local de colapso das vias aéreas superiores causadoras da obstrução que determina a apneia.
Para o estudo do sono, o “golden standard” é a polissonografia, isto é, um exame em que vão ser monitorizados vários parâmetros: número de apneias e hipopneias (períodos em que há esforço para ventilar, com redução entre 30 a 90%, que dura mais de 10 segundos, diminuição da saturação do oxigénio maior ou igual a 3% e/ou período de despertar no eletroencefalograma), movimentos das pernas, movimentos do tórax, eletroencefalograma (monitorização das características do sono) e saturação do oxigénio.
Depois de interpretado o exame, pode ser programado o tratamento mais adequado para a patologia e para o paciente em questão.
Leia o artigo completo na edição de janeiro 2020 (nº 301)
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