Não é raro ouvir alguém referir que sofre de fortes dores e má disposição causadas por “pedras na vesícula”. E, com efeito, podem formar-se pedras ou areias na vesícula biliar, as quais impedem a correta digestão. Mas sabe o que são realmente e o que pode fazer para as prevenir?

A vesícula biliar é um órgão em forma de pera, que se encontra situado na parte inferior do fígado. É uma espécie de bolsa que guarda a reserva de bílis segregada por aquele órgão. Por seu lado, a bílis é uma substância que serve para digerir as gorduras que consumimos. Quando acaba de sair do fígado, a sua textura é muito líquida e, uma vez na vesícula, adquire a espessura necessária para cumprir a sua função adequadamente. A vesícula é, assim, a encarregue de concentrar e espessar a bílis, eliminando o excesso de água e criando, em seguida, uma reserva para quando os alimentos chegarem ao estômago.

Quando o funcionamento da vesícula biliar é normal, durante e depois das refeições, a secretina e a colecistoquinina – hormonas gastrintestinais – fazem com que a vesícula se contraia e expulse a bílis para o duodeno, através de um canal designado por colédoco ou canal biliar comum.

As terríveis pedras

Os problemas surgem quando, por alguma razão, este processo se altera e a bílis se torna excessivamente espessa. Nestes casos, podem formar-se cálculos, popularmente conhecidos por areias ou pedras.

Se sente as digestões muito pesadas, um certo sabor amargo na boca e uma ligeira dor na zona superior direita do abdómen, tem elementos suficientes para suspeitar da presença de cálculos biliares, ou seja, aquilo que cientificamente se designa por colelitíase.

Estes cálculos formam-se pela acumulação de cristais de colesterol, devido a uma alteração na relação entre as proporções de sais biliares, pigmentos biliares e colesterol. Quando a vesícula tenta expulsar a bílis e as pedras impedem a sua saída, produz-se a chamada cólica biliar, a qual pode ser bastante dolorosa.

Sintomas dolorosos

Esta disfunção na vesícula ocorre com bastante frequência, embora, em muitas ocasiões – cerca de 40% dos casos –, não produza sintomas e o indivíduo não se dê conta.

Porém, quando há sintomas, estes são dolorosos e costumam produzir-se após as refeições, especialmente se a comida era rica em gorduras. A dor localiza-se na parte superior direita do abdómen e pode irradiar para as costas, produzindo também calafrios, febre e icterícia – cor amarelada na pele e nos olhos.

Esta afeção é mais frequente nas mulheres do que nos homens e afeta, sobretudo, pessoas a partir dos 40 anos, embora também possa surgir mais cedo.

Complicações

Quando se sentem os incómodos acima descritos, há que acorrer ao médico, porque a colelitíase, ainda que não seja grave, pode dar origem a complicações.

São as seguintes as complicações mais comuns:

Colecistite aguda – Tendo sofrido ou não cálculos biliares, alguns pacientes sofrem uma infeção da vesícula. Trata-se de um quadro sério e potencialmente grave, que exige tratamento médico e, por vezes, cirúrgico, uma vez que pode derivar em perfuração da vesícula, com formação de abcesso abdominal e infeção peritoneal.

Em 95% dos casos, a colecistite aguda resulta da obstrução do canal cístico – canal que liga a vesícula ao canal biliar comum – por um cálculo. A inflamação deve-se à distensão da parede da vesícula, à irritação causada pela alteração de algumas substâncias químicas da bílis estagnada e, na maioria dos casos, à infeção por bactérias.

O episódio pode começar como uma cólica biliar, que vai piorando progressivamente; é acompanhada de febre e, ocasionalmente, de icterícia. O tratamento mais indicado é a operação urgente, para extirpar a vesícula. Também é possível tratá-lo apenas com antibióticos e medidas conservadoras, mas, nestas condições, cerca de 25% dos doentes sofrem complicações sérias, que acabam por obrigar à intervenção.

Icterícia obstrutiva – Deve-se, igualmente, à saída de um cálculo, que fica “preso” no canal biliar comum, obstrução que impede a drenagem do fígado, produzindo icterícia.

Leia o artigo completo na edição de janeiro 2023 (nº 334)