Devemos dar continuidade à fantasia ou estamos a trair os nossos filhos? Até quando deve uma criança acreditar no Pai Natal? E quando descobrem a verdade?

Artigo da responsabilidade da Profª Dra Clementina Almeida. Psicóloga clínica

 

O período de férias de Natal está cheio de alegria e celebração, e partilhar essa felicidade com o seu filho pode reforçar o espírito de Natal com sorrisos e novas memórias. Mas com o Natal vem também o senhor das barbas brancas… por isso esclarecemos algumas dúvidas acerca de como lidar com a figura do Pai Natal.

É mesmo estranho, não é?! Os pais mentem às crianças acerca de um senhor tão bondoso, sabendo que mais tarde lhes vão destroçar o seu coração ao contar a verdade! Exceto que a coisa não é tão simples assim!

Ora… mentir às crianças não é algo que devamos fazer, mas no que toca ao Pai Natal algo mais importante se eleva: de facto, este senhor gorducho que viaja uma noite a fio conduzido por um conjunto de renas e consegue efetivamente entregar presentes a toda a gente, em todas as casas, tem a magia de ser um verdadeiro conto de fadas. E os contos de fadas promovem a imaginação, que é parte integral do desenvolvimento e ajuda o cérebro a ser criativo! Para além disso, a história do Pai Natal assenta na história verdadeira de S. Nicolau, que distribuía presentes e dinheiro aos pobres.

Assim…

Com os mais pequeninos, se planeia levar a criança a ver o Pai Natal ao shopping para tirar uma foto, passe algum tempo antes a explicar quem é o Pai Natal, familiarizando-o com a imagem através de livros, por exemplo.

Para que o bebé não se assuste com aquela figura enorme (para eles) toda vestida de vermelho, com barbas brancas consideráveis e que comunica de forma estranha ao dizer “OH!…OH!…Oh!” é importante respeitar a sua vontade.

Nunca force a criança a sentar-se no colo do Pai Natal! Lembre-se que por volta dos 2 anos surge a época gloriosa das birras, por isso talvez seja uma boa altura para passar o Natal em casa, em família, já que esta época tem muito mais estimulação do que o seu bebé pode aguentar, o que pode terminar em birras constantes. Esteja por isso atento aos sinais que o bebé vai dando.

E quando eles já não acreditam no Pai Natal?

Gradualmente, a magia vai sendo questionada e as crianças apercebem-se que “há algo de errado na história” e começam a questionar-se. A melhor forma de lidar com isto é perguntar à criança se acredita no Pai Natal para perceber se estará pronta para lidar com a “verdade”, quando a criança responde que não e chegou a hora de revelar os factos, a melhor forma será reforçar a ideia de que o “espírito de Natal” é VERDADEIRO, contando a história de S. Nicolau: o Pai Natal em tempos foi uma verdadeira pessoa e hoje em dia nós honramos essa memória, oferecendo coisas especiais às pessoas de quem mais gostamos! O Pai Natal é uma espécie de sentimento dentro dos nossos corações.

O Natal tem um significado muito mais alargado do que a existência ou chegada do senhor de fato vermelho. É claro que é saudável deixar o seu filho dar asas à imaginação e criar ele próprio todo o enredo em volta deste misterioso senhor que lhes traz alegria, mas não é condição essencial!

Segundo alguns estudos, esta prática pode ajudá-los a mais tarde serem mais capazes de desenvolver as suas invenções e “grandes ideias”. Este tipo de experiências, à semelhança dos contos de fadas, poderão ser formas muito mais eficazes de transmitir às crianças alguns valores morais, como a partilha, solidariedade, amor, tal como ajudar a distinguir os “bons dos maus”.

As férias são a oportunidade perfeita para ajudar seu filho a expandir sua compreensão do lado solidário e repleto de afetos da quadra natalícia. Por volta dos 18 meses de idade, as crianças começam a desenvolver a empatia, a perceber como as outras pessoas se sentem, e assim podem aprender que a generosidade inclui ajudar aqueles que passam por dificuldades e perceber os benefícios do comportamento generoso.

Feliz Natal!