A obesidade é uma doença crónica, complexa e multifatorial, e não apenas um problema estético ou de comportamento. O facto da terapêutica farmacológica mais recente não ser comparticipada e os seus custos serem elevados constitui uma enorme barreira ao tratamento.

 Artigo da responsabilidade da Profª Paula Freitas,

Presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade

A obesidade é considerada a epidemia do século XXI e, segundo a Organização Mundial de Saúde, pelo menos 2,8 milhões de pessoas morrem todos os anos pelo facto de terem excesso de peso ou obesidade. Em Portugal, cerca de 60% dos portugueses têm obesidade e pré-obesidade. Estas prevalências aumentam com a idade. Nos indivíduos com menor grau de escolaridade e nas classes sociais mais desfavorecidas, estas prevalências são mais elevadas.

Segundo o “Relato de Saúde de 2018”, elaborado pelo Sistema Nacional de Saúde, “o excesso de peso e a obesidade são dos fatores de risco que mais contribuem para a carga de doenças dos portugueses”. A obesidade está associada a mais de 200 condições ou comorbilidades, sejam elas médicas, mecânicas ou mentais. São apenas alguns exemplos doenças crónicas como diabetes, dislipidemia, hipertensão arterial, apneia do sono, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, incontinência urinária, determinados tipos de cancro, alterações musculoesqueléticas, artroses, infertilidade, depressão, diminuição da qualidade de vida e taxa de mortalidade aumentada. E, isto só para enumerar as mais prevalentes, já que a lista é muito mais longa!

IGNORAR A OBESIDADE TEM ELEVADOS CUSTOS

Ignorar a obesidade como doença e não proporcionar o seu correto tratamento traz elevados custos económicos, diretos e indiretos, a médio e a longo prazo.

Podemos perguntar, dado a obesidade ser tão prevalente na atualidade, se é uma doença ou se é “normal” ser obeso? A obesidade é uma doença! É uma doença crónica, complexa e multifatorial e não apenas um problema estético ou de comportamento. Vários fatores estão na sua etiologia, como a influência de fatores psicológicos, socioeconómicos, aspetos de urbanização, sistema de transportes, aspetos culturais, indústria alimentar, disponibilidade alimentar, meios de comunicação social e publicidade, sendo que as alterações no microbioma intestinal, os disruptores endócrinos no ambiente e na cadeia alimentar, e os polimorfismos genéticos também podem contribuir para explicar o desenvolvimento da obesidade.

No entanto, os grandes promotores da obesidade, na sociedade atual e para a maioria dos indivíduos, são o estilo de vida moderno associado a um aumento do consumo e diminuição do dispêndio energético (sedentarismo). As tecnologias associadas ao trabalho, na diversão e na ocupação de tempos livres estão associadas ao sedentarismo.

É um facto que cerca de 90 a 95% da etiologia da obesidade está relacionada com fatores externos (estilo de vida – sedentarismo, inatividade física e má prática alimentar), mas é de notar que cerca de 5 a 10% das causas de obesidade são doenças endócrinas tratáveis, e, menos frequentemente, causas genéticas. Por isto, os doentes devem ser avaliados por um médico e posteriormente deve ser proposto o tratamento adequado para a sua situação.

Leia o artigo completo na edição de julho/agosto 2019 (nº 296)