“Preferia ser gorda.” Ouço isto tantas e tantas vezes no meu consultório, por parte de ex-obesos que agora se veem a braços com quilos e quilos de pele em excesso, pendurada, flácida e que, assim, veem a sua vida ainda mais limitada do que antes. É uma realidade, infelizmente, e atinge muitos milhares de pessoas.
Artigo da responsabilidade do Dr. João Bastos Martins, especialista em Cirurgia Plástica, Estética e Reconstrutiva
Sabia que, segundo a Fundação Portuguesa de Cardiologia, cerca de metade da população portuguesa tem excesso de peso? E que perto de 1 milhão de adultos sofre mesmo de obesidade? É inquietante. É um problema tão grave e tão transversal a tantas sociedades que a Organização Mundial da Saúde já considera a obesidade uma epidemia. Há que travá-la, há que alertar para os perigos que podem advir de um cenário de excesso de peso, há que promover, cada vez mais, uma vida saudável e ativa. E nunca é demais lembrar e repetir, repetir, repetir. Porque, afinal, parece que continuamos a não conseguir travar a situação.
Apesar da multiplicação de esforços das entidades responsáveis, que se desdobram em campanhas de alerta, apesar da moda da comida saudável e até da moda do running, que se pensou que viria mobilizar os portugueses, continuamos com índices de obesidade altos e o número de pessoas com excesso de peso no país é demasiado elevado.
Seja porque estamos tristes ou porque estamos contentes, por genética, por distúrbio, por nervosismo, por descontrolo ou por escape, comemos em excesso sem a noção do real impacto que isso vai ter na nossa vida a médio e longo prazo, na saúde, na vida familiar e amorosa, na vida profissional, na nossa imagem e na nossa autoestima. É difícil lidar com os limites, conhecê-los e respeitá-los, mas é preciso aceitá-los e viver com eles para ter uma vida mais equilibrada. Na alimentação, como no resto da vida, é no equilíbrio que está a chave para o sucesso e felicidade.
REVERTER O QUADRO
Mas é tão urgente alertar para esse equilíbrio quanto apoiar quem já está afetado por esta problemática, revertendo o quadro clínico, físico e mental. Sim, mental, porque o impacto psicológico nestas pessoas é marcante. O estigma associado aos gordos, o olhar de lado, o fechar portas para empregos, o apontar de dedos são “facadas” para estes pacientes, capazes de deixar feridas profundas e muitas vezes irreversíveis. Como se já não lhes bastasse o facto de terem de viver com a sua imagem deformada, os problemas de saúde que advêm da obesidade (hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e metabólicas, problemas de circulação, nos ossos, etc.), as dificuldades de relacionamento (quer a nível social, quer a nível sexual), os sonhos adiados e a vergonha. Tantas vezes a vergonha, resultando em isolamento, em apatia e em depressões profundas que se arrastam por décadas.
EM CASOS DE OBESIDADE SEVERA
Uma dieta saudável e exercício físico são sempre tópicos recomendados – claro –, mas, na maioria das vezes, insuficientes. Em casos de obesidade severa ou mórbida, a cirurgia bariátrica é a única capaz de parar o problema, reduzindo o estômago ou alterando o intestino e, consequentemente, diminuindo a comida ingerida e/ou absorvida.
Mas depois vem todo o processo de emagrecimento, o ver a flacidez a aumentar, as peles penduradas. E quanto mais peso perdem, maior o impacto visual – pela positiva (a perda de volume) e pela negativa (excesso de pele). Com isso, continuam a não conseguir vestir as roupas que desejam, continuam a não conseguir enfrentar o espelho e muito menos o parceiro.
A perda de peso, só por si, não é suficiente para trazer de volta o bem-estar necessário, a vida sexual, a autoestima, o tal equilíbrio na vida familiar e profissional. É a cirurgia estética o passo seguinte.
Leia o artigo completo na edição de novembro 2019 (nº 299)
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