Um estudo desenvolvido sob a coordenação científica do Prof. Dr. Miguel Oliveira da Silva demonstra que a saúde e bem-estar das mulheres é pior do que o dos homens e fica aquém do que é possível em diferentes fases do seu ciclo de vida. Apenas 12% das mulheres portuguesas tem um alto nível de saúde e bem-estar mental.

Segundo um estudo recente, 53% das mulheres têm, pelo menos, uma doença diagnosticada e 21% vivem mesmo com mais de duas doenças. Em comparação, os homens ficam-se pelos 50% e 11%, respetivamente. Na doença mental, a diferença entre os sexos agrava-se: 16% das mulheres têm uma doença diagnosticada contra 6% nos homens.

Os dados são avançados em “A Saúde das Mulheres, um potencial a alcançar”, um projeto desenvolvido pela Return On Ideas e promovido pela Médis, do Grupo Ageas Portugal, e confirmam o contrassenso de que, apesar de uma maior longevidade e cuidado consigo mesmas, as mulheres têm pior saúde física e mental do que os homens. Esta incoerência foi inicialmente observada em 2021, em “A saúde dos Portugueses – um BI em nome próprio”, dando origem ao trabalho de investigação que agora surge.

Ambos os estudos fazem parte do Saúdes, um projeto cujo objetivo é contribuir para a produção de conhecimento, a reflexão e o debate público em torno da saúde.

Além do défice em relação à doença, esta análise foca-se ainda em diversos indicadores no que se refere à dor, saúde e bem-estar. Em todos eles, as mulheres pontuam pior do que os homens.

31% de mulheres, vs. 19% de homens, acusa dor intensa, muito intensa ou insuportável. Em muitos casos, verifica-se uma normalização da dor, ou seja, a mesma é aceite com resignação e sem despoletar a procura de algum tipo de ajuda.

Quando as mulheres tiveram de avaliar o seu estado de saúde, numa escala de 1 a 10 a pontuação é de 6.8,  enquanto nos homens o valor situa-se nos 7.4. Ainda sobre esta temática, 23% das mulheres consideram-se pouco saudáveis e, na faixa etária dos 40+, esta percentagem sobe para os 25%, vs. 13% dos homens com a mesma idade.

No bem-estar, o desequilíbrio não se altera, facto comprovado através dos resultados do estudo. Mais de metade das mulheres mostram um nível de bem-estar baixo ou muito baixo (59% das mulheres vs. 50% dos homens) e 73% afirmam sentir ansiedade.

4  bolsas de mal-estar e as forças propulsoras da mudança

Menstruação, gravidez, menopausa e a relação com o corpo são identificadas como as quatro bolsas de mal-estar que afetam as mulheres. Se é verdade que a biologia, a fisionomia e a própria histórica explicam, em parte, estas bolsas de mal-estar, o estudo mostra como a falta de informação e de consciência e, sobretudo, a normalização do “não estar bem” agravam o problema e contribuem para a desigualdade na saúde e bem-estar que se verifica entre os géneros.

“O facto de estarem sujeitas a um ciclo de vida mais acidentado (porque reprodutivo) que os homens não quer dizer que, necessariamente, as mulheres tenham que se acomodar ao desconforto e normalização do sofrimento, como se de uma fatalidade, de uma inevitabilidade se tratasse”, afirma o responsável científico do estudo e professor catedrático de Medicina, Dr. Miguel Oliveira da Silva.

Segundo esta análise, em algum desenvolvimento de pesquisa e de tecnologia, no lançamento de certas marcas e produtos e no aparecimento de certos factos e movimentos sociais, já se nota o despertar da consciência e a vontade de mudar, mas há ainda muito para fazer. É, defende o estudo, pelo maior conhecimento e consciencialização que as mulheres podem chegar a um novo paradigma na sua saúde e bem-estar, sendo este o principal ponto que se deve alterar.

Pode saber mais sobre o estudo Saúdes aqui: https://www.saudes.pt/