Embora muitos tipos de cancro não pareçam ter preferência pelas pessoas do sexo feminino, outros sim: os que afetam as mamas e o aparelho reprodutor. E não são raros: os cancros da mama e do colo uterino figuram entre os mais comuns nas mulheres, enquanto que os do útero e do ovário, se bem que menos habituais, são bastante agressivos.

 

A prevenção é o terreno mais propício para combater eficazmente os cancros ginecológicos, como sucede, aliás, com todos os processos oncológicos. Um tumor detetado na sua fase inicial conta com uma maior probabilidade de cura do que os encontrados em fases posteriores. O segredo está em cumprir o calendário de consultas ginecológicas e transformar em prática habitual as medidas de precaução.

Felizmente, os investigadores não as discriminaram no que respeita a estas patologias, que se encontram entre as que melhor se conhecem. Este conhecimento permite tratar os cancros ginecológicos com uma eficácia crescente, mas, sobretudo, torna possível a sua prevenção. E são, precisamente, as medidas preventivas dos cancros próprios do sexo feminino o que nos vai ocupar ao longo destas páginas.

Útero agredido

O cancro ginecológico mais frequente é o do útero. Este componente do aparelho reprodutor feminino tem duas zonas bem diferenciadas entre si: o corpo e o colo. Este último está encaixado na parte superior da vagina e é aí que surge um tipo de cancro característico. Esta patologia representa cerca de 15% de todos os cancros originados no aparelho genital feminino.

O cancro invasor do colo uterino, apesar de estar a aumentar entre as mulheres jovens, sobretudo nos países desenvolvidos, tem vindo a sofrer uma descida progressiva, desde há três décadas. Este fenómeno parece estar associado à eficácia do diagnóstico precoce da doença, ao tratamento de algumas lesões que agora sabemos que podem favorecer o desenvolvimento da patologia cancerosa e a um aumento do número de histerectomias – extirpação completa do útero – em mulheres de meia-idade.

Como acontece com a maioria dos cancros, não se conhece a causa exata do cancro do colo do útero, embora o mais provável é que não haja apenas uma causa, mas sim uma série de fatores predisponentes que favorecem a aparição da doença, muitos dos quais são, felizmente, evitáveis e constituem, por conseguinte, as chaves da prevenção.

Entre estes fatores de risco, destaca-se o início precoce de relações sexuais – antes dos 20 anos –, a promiscuidade sexual ou a pluralidade de parceiros, bem como a convivência com um parceiro de risco – isto é, um parceiro sexual que tenha tido múltiplas parceiras – ou o hábito de fumar. Outro fator predisponente é ter sofrido doenças venéreas, sobretudo, herpes genital ou infeção por vírus do papiloma humano, responsável por uma lesão conhecida como condiloma.

Começo insidioso

Na maioria dos casos, a primeira fase do cancro é muito limitada e pode decorrer muito tempo antes de começar a desenvolver-se. Trata-se da denominada neoplasia cervical intraepitelial. Esta etapa, que os especialistas concordam em considerar como o início de um carcinoma invasor, não produz sintomas e é facilmente tratável. No entanto, o facto de muitas mulheres sofrerem deste tumor sem terem nenhum dos fatores de risco antes mencionados torna necessário submeterem-se, de forma periódica, a um exame simples para detetar essa fase inicial: a citologia.

O cancro do colo do útero, totalmente assintomático nos estádios iniciais, manifesta-se, posteriormente, através de alguns sinais, o mais frequente dos quais é a aparição de uma hemorragia vaginal de sangue vivo, pouco intensa e sem relação com o ciclo, que pode surgir após o coito ou algum outro esforço. A dor, por seu turno, é um sintoma tardio da doença.

A citologia exfoliativa vaginal – a citologia simples, que alguns designam por teste de Papanicolaou – permite detetar precocemente a aparição de um carcinoma invasor. Trata-se de um método de prevenção fácil de realizar, com um elevado grau de interpretação e exatidão e sem nenhum risco. A colheita – que deve ser efetuada por um médico ginecologista – realiza-se com uma pequena vareta, que se passa cuidadosamente através da vagina. Ao alcançar o colo do útero, recolhem-se, com uma escova, amostras de três zonas diferentes: duas do colo uterino – da parte interna e da externa – e uma da parte posterior da vagina. Estas amostras são colocadas sobre uma lamela preparada para o efeito e enviadas ao citologista, para serem examinadas ao microscópio.

É importante, para que os resultados não sejam mal interpretados, que a citologia não se realize durante a menstruação e que até 24 horas antes da colheita não se tenham relações sexuais nem se realizem irrigações vaginais. Também não se deve aplicar medicação tópica durante a semana que precede o exame.

Leia o artigo completo na edição de junho 2016 (nº 262)